Geralmente utilizo este espaço para tratar de assuntos jurídicos, mas, ao encerrar hoje um ciclo de quase dois anos escrevendo para este centenário jornal, decidi apenas divagar sobre o acaso do renascimento.
E não vejo esta última coluna como um “até logo” ou “nos vemos em breve”. Tampouco a encaro como o fim de um espaço que me foi concedido. Sinto que algo renascerá deste fim.
O sinto da mesma forma que sinto a vida. Afinal, quantas novas vidas temos dentro de nossa própria existência terrena? Ou será que vivemos exclusivamente uma única vida, com início, meio e fim?
Realmente se assim for, obrigatoriamente teremos que reviver e renascer dentro de nossa própria existência, uma vez que a vida eterna da Sagrada Escritura, aquela descrita no Evangelho de São João a que os cristãos devem se ater, menciona diretamente que após a morte, passamos à vida eterna.
Gradualmente devemos nos ater à ideia de que somos como um grão de trigo que renasce de si mesmo. O grão de trigo que é colocado na terra, aparentemente morto, contém em si todas as possibilidades de vida e, ao perder sua casca e entrar em contato com a terra, está pronto para germinar e iniciar um novo ciclo. O grão de trigo precisa “morrer” para renascer em uma vida mais elevada e perfeita.
Idêntico ocorre com a Fênix, pássaro da mitologia grega que, quando necessário, entra em autocombustão e ressurge das próprias cinzas, revitalizado e mais forte.
Agora, esses renascimentos não surgem da morte, mas da renovação da própria vida em si, assim como deve ser, penso eu, a vida humana.
Precisamos viver o que há para viver (Lulu Santos) e, se chegar o momento, devemos permitir que essa “vida” seque como o grão de trigo ou se torne cinzas como a Fênix, para em seguida renascermos. Ora, um homem precisa queimar-se em suas próprias chamas para renascer das cinzas (Nietzsche).
Absolutamente nada renasce antes de acabar (Vinícius de Moraes). Se precisamos ou buscamos fazer algo que dependa de nova vida, algo que nos leve a crer que talvez não seja nesta vida ainda (Armandinho), devemos aparar e findar o que for necessário e bater as asas como uma Fênix renascida, ou brotar fortemente como um grão de trigo renovado.
Quem sabe o fim em algo não seja o recomeço em algo melhor? Que todos nós possamos alcançar renascimentos e ressurgimentos nesta vida, galgando degraus de felicidade e plenitude, para que, quando finalmente deixarmos esta existência, tenhamos alcançado sua máxima perfeição.
Até breve.
Willian Leonardo da Silva é advogado (OAB/SC 38.396), sócio do escritório Coelho Ramos & Silva Advogados; Mestrando em direito pela Faculdade de Direito da Fundação Getúlio Vargas – FGV em São Paulo.