Começa hoje, dia 26 de junho de 2024, mais uma edição do 12º Fórum Jurídico de Lisboa, evento anual organizado pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), fundado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes. Como o convescote se parece mais com um grande festival de obscenidades protagonizadas pela elite política e econômica do país do que com um evento jurídico, ele foi logo apelidado pelo povão de “Gilmarpalooza”.
Cinco ministros do STF já confirmaram presença: Barroso, Moraes, Zanin, Toffoli e Dino. Estarão lá, também, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o de Goiás, Ronaldo Caiado. Vários ministros do governo Lula também agraciarão as terras lusitanas com sua presença, além de senadores e deputados, dentre eles o presidente da Câmara, Arthur Lira, figurinha carimbada do Gilmarpalooza.
No ano passado, enquanto Lira aproveitava o festival gilmarista, a Polícia Federal (PF) enviou ao Supremo uma investigação criminal que envolvia o próprio Lira, a operação Hefesto. Suspeitava-se de que mais de R$ 8 milhões teriam sido desviados entre 2019 e 2022 na compra de kits de robótica para mais de 40 municípios de Alagoas, com verbas de emendas parlamentares enviadas pelo próprio Lira. A imprensa revelou que, dentre as provas colhidas, estavam anotações de valores e pagamentos relacionados a Lira.
No fim das contas, o Gilmarpalooza do ano passado trouxe muito mais alegrias para Lira do que a de comer um bacalhau à portuguesa ao lado da companhia ilustre de Gilmar ou de desfrutar de um bom vinho do Porto durante conversas de bastidores: dias depois da farra jurídica em Lisboa, quando todas as Excelências já haviam retornado ao Brasil, o ministro Gilmar Mendes blindou Arthur Lira das investigações na operação Hefesto.
O ministro trancou a investigação, anulou todas as provas, decretou sigilo sobre o caso e mandou destruir todas as evidências de crimes coletadas pela Polícia Federal. Gilmar ordenou ainda que a PF devolvesse R$ 4 milhões apreendidos nos cofres de uma empresa de um aliado de Lira. Só que até hoje, pasme você, leitor, ninguém apareceu para reivindicar esse dinheiro, muito provavelmente porque o verdadeiro dono não consegue sequer comprovar sua origem, o que indica ser fruto de corrupção ou de outros crimes.
Agora a PF não sabe o que fazer com os R$ 4 milhões, órfãos de pai e mãe, sem casa e sem destino, diferentes das altas autoridades brasileiras que vão comparecer ao Gilmarpalooza deste ano. Estas têm destino certo. Contudo sabe-se lá com quem os ministros vão se encontrar nos corredores da festa gilmarista. Na última edição, os encontros incluíram empresários enrolados na Justiça por corrupção. Sabe-se lá quais acordos serão firmados, selados e abençoados pelos deuses do Olimpo lá presentes.
O que sabemos, com certeza, é que assim que o Gilmarpalooza acabar, e os políticos de toga e sem toga estiverem de volta às terras brasilienses, é quase certo que veremos movimentações inéditas na política nacional, e talvez uma ou duas decisões perfeitamente ajustadas de ministros do Supremo que poderão, coincidentemente, beneficiar interesses políticos ou blindar novos aliados de investigações incômodas, sejam ou não da Lava Jato. O Gilmarpalooza é mesmo um evento imperdível.