A família de Betânia Zardo mudou-se de Passo Fundo (RS) para Jaraguá do Sul há mais de 20 anos, mas atualmente a jovem advogada, de 29 anos, reside em Porto Alegre. Desde que as enchentes assolaram o estado gaúcho ela tem contribuído com trabalho voluntário em diversas frentes.
Ela conta que na sexta-feira, 3 de maio, ainda não tinha noção da proporção que a tragédia tomaria nos dias seguintes. “O que eu consegui, de início, foi doar dinheiro, comprar cobertores e mantimentos para entregar em alguns abrigos e na Defesa Civil. Comecei a divulgar o que estava acontecendo aqui e pedi ajuda nas redes sociais. No sábado (4), eu descobri que tinha um centro de distribuição do ladinho da minha casa e eu fui ver de que forma eu poderia ajudar”.
No local havia uma montanha de calçados que tinham sido doados e estavam com os pares separados, roupas que precisavam ser triadas, assim como alimentos e produtos de higiene. Ela começou organizando os calçados, tentando desenvolver um método que facilitasse encontrar os pares para juntá-los, separá-los em grupos ‘masculinos’, ‘femininos’ e ‘infantis’, para que então pudessem ser doados. “Depois de resolvermos a organização dos sapatos e das roupas, começamos a ajudar, também, na carga e descarga de caminhões, auxiliando o processo de recebimento de doações, separação, triagem e direcionamento para onde os materiais deveriam ir”. Além disso, ela também já passou madrugadas em um abrigo para cães.
Paralelamente, foi criada uma rede muito grande de pessoas que queriam ajudar. “Começamos a organizar quem tinha algo para doar e quem precisava receber alguma coisa. Por exemplo, se um voluntário que está trabalhando em outro local avisa que estão faltando marmitas ou cestas básicas, colchões, cobertores ou brinquedos para as crianças, a gente busca encontrar quem tem esses itens ou pode direcionar recursos financeiros para compras e envia as doações para esses locais. Isso acontece para todo o tipo de necessidade vinculada à catástrofe, desde encontrar profissionais para manutenção de veículos aquáticos responsáveis pelos resgates, divulgar a necessidade de voluntários em turnos específicos de abrigos, famílias que precisam de itens especiais e assim por diante”, explica.
Auxílio jurídico gratuito
Betânia tem um escritório de advocacia em Porto Alegre. “Eu não posso simplesmente deixar de trabalhar. Por isso estou me organizando entre prestar os serviços jurídicos aos meus clientes e, enquanto eu não estou no escritório, continuo fazendo esse trabalho voluntário”. Ela relata, ainda, que tem diversos amigos que abriram centros de distribuição para receber e endereçar cargas, mesmo sem nunca terem trabalhado com logística, e amigos que abriram abrigo para os animais. “A gente dorme e acorda pensando nisso, quando consegue dormir. Eu não participei ativamente de nenhum resgate, mas o pessoal que participou relata coisas que tornam as noites de sono muito difíceis”.
Segundo a advogada, há pessoas ligando de todos os cantos do país para oferecer ajuda. “Se é doação de dinheiro a gente vê para onde a pessoa quer destinar o recurso. Se é doação de água a gente vê para onde precisa mandar. Fazemos essa ligação entre as pessoas para que a ajuda chegue o quanto antes. É um trabalho gigante, porque não é algo que vai acabar logo. Agora estamos nos organizando para as próximas fases, que são a limpeza das casas e reestruturação das moradias e da economia. A gente também está prestando auxílio jurídico gratuito para pessoas físicas e jurídicas em questões relacionadas à enchente”, finaliza.