Biólogo jaraguaense chega à marca de 10 mil espécies de plantas coletadas em Santa Catarina

Foto: Arquivo pessoal

Por: Elisângela Pezzutti

19/06/2024 - 06:06

A descoberta de uma nova espécie de planta é o sonho de todo biólogo que atua em campo. E esse sonho foi realizado pelo jaraguaense Anderson Kassner Filho, de 31 anos, em 2019, quando ele descobriu, na cidade de São Joaquim, a Oxypetalum kassneri, uma nova espécie de planta nativa da serra catarinense, catalogada como ameaçada, principalmente por estar em uma área de pasto que sofre os impactos das queimadas que são realizadas para abertura dos campos. Com o seu nome registrado na história da Ciência devido à descoberta, este ano o biólogo atingiu mais um objetivo: chegar às 10 mil plantas coletadas.

A Oxypetalum kassneri, uma nova espécie de planta nativa da serra catarinense, catalogada como ameaçada, foi descoberta pelo biólogo jaraguaense em São Joaquim, no ano de 2019 | Foto: Arquivo pessoal

 

Publicação sobre a nova espécie em revista científica | Foto: Arquivo pessoal

Projeto Floresta SC

Anderson se formou em Ciências Biológicas pela Universidade Regional de Blumenau (Furb) em 2015 e, desde 2017, trabalha com coleta botânica, dentro do Projeto Floresta SC, um programa permanente do Governo do Estado de Santa Catarina, coordenado pela Furb, em que são estudadas as florestas e espécies nativas que existem no estado, gerando informações para a formulação de políticas públicas de uso e conservação das florestas, zoneamento econômico-ecológico para a atividade florestal e divulgação científica.

“A descrição da espécie nova foi em 2019 e, neste ano, eu bati mais uma meta, que era chegar nas 10 mil plantas coletadas, entre as quais está essa espécie nova. Há, ainda, em Santa Catarina, a ocorrência de plantas que não tinham sido encontradas em território catarinense. É um processo no qual constatamos a ampliação de sua distribuição. A maioria delas ocorria até o Paraná, aí eu consegui registrar aqui no estado”, explica o biólogo. “Nessas coletas que nós realizamos também há várias plantas que são utilizadas para fins medicinais, que podem ser estudadas por algum pesquisador que queira descobrir se ela tem algum princípio ativo, extraindo dela algum óleo ou composto para testar e que, talvez, venha a ser mais um fármaco”, completa.

Flora catarinense é a mais conhecida do Brasil

O biólogo explica que, atualmente, é difícil – e em Santa Catarina mais ainda – aparecer uma planta nova porque praticamente todas já foram descritas. “No século passado, os pesquisadores Roberto Miguel Klein e Raulino Reitz praticamente varreram o estado todo, fazendo levantamentos em um extenso trabalho, em que foram descritas várias espécies novas. Eles tinham especialistas como parceiros que os ajudavam a fazer o reconhecimento dessas espécies que já existiam e descreviam as espécies novas. Na época saíram diversas publicações e é por isso que, graças a esses pesquisadores, Santa Catarina tem a flora mais bem conhecida do Brasil”.

Anderson continua realizando pesquisas botânicas | Foto: Arquivo pessoal

Contribuindo para a sustentabilidade

Mesmo tendo batido o número de 10 mil plantas coletadas, Anderson continua com as pesquisas de campo. “O meu objetivo agora é fazer o registro fotográfico das espécies de árvores, para em breve disponibilizar isso como um guia de Santa Catarina, porque não tem ainda um guia de árvores aqui do estado para o pessoal pesquisar”, informa. De acordo com o biólogo, esse trabalho é uma forma de disseminar o conhecimento sobre árvores e aumentar os registros que se tem.

“É mais um trabalho que a gente está realizando junto com o inventário florestal e as coletas botânicas”, diz, explicando que os registros fotográficos das espécies de árvores auxiliam desde pesquisadores da área ambiental até pessoas leigas que querem saber quais são as espécies nativas de árvores que têm no fundo de casa. “É uma forma de conhecermos cada vez mais sobre a distribuição das nossas espécies de árvores aqui no estado, onde elas ocorrem e em que quantidade. Esse trabalho de reconhecimento das florestas catarinenses contribui para a sustentabilidade. A gente descobre o que precisa ser preservado e como isso deve acontecer para que possamos proteger melhor esse patrimônio tão valioso que são nossas florestas”.

Árvores são medidas e identificadas | Foto: Arquivo pessoal

Encanto com as diferentes formas de vida

Anderson conta que a vontade de ser biólogo surgiu quando ele ainda era criança. “Eu e meu irmão vivíamos no sítio da minha avó, onde havia muitos bichos e plantas. Quando tinha 11 ou 12 anos fui com os meus pais e minha avó visitar uma exposição de orquídeas em Joinville e aquilo também me encantou. Comecei a cultivar orquídeas e hemerocallis, que é um outro tipo de flor. Então, isso também foi fortalecendo essa ligação com a natureza, o encanto com as formas de vida, com a diversidade da natureza, a forma que ela tem de se expressar, principalmente”.

O biólogo sempre teve interesse em saber o nome das plantas e identificava uma por uma as flores do seu orquidário. “Depois, no Ensino Médio, as matérias também contribuíram para que eu escolhesse esta profissão. Eu ainda tinha dúvida sobre qual curso seguir na área ambiental, se seria Engenharia Agronômica, Engenharia Florestal ou Ciências Biológicas, mas logo optei por fazer Ciências Biológicas. Sempre tive o apoio do meu pai e segui os passos do meu falecido tio Gilson Kassner, que também foi biólogo”, recorda Anderson. “Na graduação, logo nas primeiras semanas já tive certeza de ter feito a melhor escolha, porque quando a gente começa uma faculdade é normal ficar em dúvida sobre se está fazendo o curso certo”.

Vivência na área desde a faculdade

Anderson estudava de manhã e desde que as aulas na faculdade começaram ele se empenhou em conseguir alguma bolsa para pesquisa ou de voluntariado, para começar a vivenciar a biologia na prática. “No primeiro semestre eu ingressei como voluntário no laboratório de botânica e, seis meses depois, eu consegui uma bolsa nesse laboratório. Então, foi praticamente ali que começou a minha trajetória com as plantas. Eu trabalho com levantamento de fauna também, mas é na botânica que eu tenho mais experiência. A bolsa que eu ganhei era justamente para fazer o cadastro das plantas que vinham do projeto no qual eu trabalho hoje”, relata.

Trajetória acadêmica e experiência prática

Cadastrando as plantas no herbário, o então aluno de Ciências Biológicas criou o gosto de identificar espécies nativas coletadas pelas equipes de campo. “Fiquei um tempo com essa bolsa, mas a minha ideia não era me prender só numa área durante a graduação. Então eu passei também pelo Laboratório de Biologia Animal, depois fui monitor no Laboratório de Biotecnologia, e acabei fazendo meu TCC (trabalho de conclusão de curso) com peixes, por conta de oportunidades de trabalho para logo depois que eu me formasse. Fiz estágio numa empresa e lá me disseram que estavam precisando de um profissional que trabalhasse com peixes. Basicamente foi essa a minha trajetória na graduação”, relembra Anderson, que quando se formou começou a trabalhar numa empresa que fazia consultoria ambiental. “Com isso, adquiri muita experiência na área de fauna. Fiquei trabalhando mais ou menos um ano e meio até que, em 2017, recebi o convite para participar da seleção para uma vaga de botânico no Inventário Florestal de Santa Catarina, projeto no qual eu atuo até hoje”.

Atualmente, a especialidade prática do biólogo é a taxonomia de plantas (identificação e classificação das espécies). Quando o projeto em que atua como biólogo botânico for concluído, o jaraguaense pretende ingressar em uma especialização ou mestrado.

Ele também trabalha com consultoria ambiental, fazendo o levantamento de fauna terrestre – mamíferos, aves, répteis e anfíbios – e levantamento de fauna aquática (ictiofauna).

Objetivo do biólogo agora é fazer o registro fotográfico das espécies de árvores existentes em Santa Catarina | Foto: Arquivo pessoal

A rotina do trabalho em campo

Como já foi dito, Anderson faz parte da equipe de profissionais que vai a campo e é composta por quatro pessoas – ele, que é o botânico e lidera o trabalho, um engenheiro florestal e mais dois auxiliares. “A gente tem uma rotina de ficar duas semanas viajando de uma cidade para outra e depois temos uma semana de folga, e assim sucessivamente”, detalha.

Geralmente, o grupo se hospeda em hotéis e de manhã sai para fazer as medições andando em trilhas no meio do mato, até chegar ao ponto exato da medição, onde as árvores são medidas e identificadas. O engenheiro florestal vai fazendo as anotações e os auxiliares vão abrindo as picadas, batendo fotos e auxiliando o trabalho do engenheiro e do biólogo.

“A gente fica o dia inteiro no mato, levamos alguma coisa para comer e retornamos no final do dia para o hotel. Na manhã seguinte a rotina recomeça”, conta Anderson.

Rotina no trabalho de campo envolve ficar duas semanas viajando de uma cidade para outra, para depois ter uma semana de folga | Foto: Arquivo pessoal

 

 

 

 

 

 

 

 

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Elisângela Pezzutti

Bacharel em Comunicação Social pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Atua na área jornalística há mais de 25 anos, com experiência em reportagem, assessoria de imprensa e edição de textos.