Por Walter Janssen Neto
presidente da Rede OCP de Comunicação
Contaremos uma estória que nos remeterá “a insustentável leveza do ser privilegiado”. Havia no mundo das benesses um reinado chamado Benessolândia, cujos poderes eram totalmente desarticulados quando se reportavam a população. No entanto, eram estreitamente harmônicos quando se tratava de seus próprios interesses.
No apagar dos lampiões, sem pestanejar, uma Comissão de Constituição e Justiça encaminha para a cúpula do reinado, sob a batuta da Corte, um substancial aumento de salários para seus magistrados palacianos extensivo aos eunucos, um ato que destaca a implacável desconexão entre as elites governantes e a população que supostamente deveriam servir.
Neste reinado, que aqui chamaremos de país, onde a ficção e a realidade se confundem, a passividade das classes empresariais, das federações e das entidades de classe diante de tais decisões, é tanto sintomática quanto preocupante. Esta indiferença ou impotência expressa não apenas um desencanto com o sistema político, mas também um profundo sentimento de resignação. Por que essa aceitação tácita de um sistema que continuamente favorece os já favorecidos?
O impacto desses aumentos não é apenas uma questão de equidade fiscal; é uma questão de princípios. Em um momento em que a economia desse país imaginário luta para se equilibrar nas cordas bambas da recuperação, medidas como essas não podem ser aprovadas, pois só agravam a desigualdade social, além de intensificar a já depreciada integridade e legitimidade dos que estão no poder.
As classes empresariais, que frequentemente sentem o peso dos impostos e da burocracia, estranhamente se omitem, talvez aprisionadas pela esperança de favores políticos ou temerosas de represálias. As federações e entidades, por sua vez, parecem ter esquecido seu papel fundamental de representação e defesa dos interesses coletivos, limitando-se a um papel coadjuvante em uma peça que deveriam protagonizar.
Os políticos comprometidos com o bem social se calam. E assim, passivamente, a população assiste a erosão dos valores democráticos e da representatividade. A apatia com que tais investidas são recebidas, revela uma democracia que, embora não esteja ainda na UTI, definitivamente mostra sintomas de uma grave enfermidade.
Este país não é fictício, é real e se chama Brasil. Se aprovada pelo Senado, a turbinada desses salários será de 5% a cada cinco anos, até o limite de 35%, sem incidência de impostos, para as carreiras descritas na proposta, extensiva aos aposentados. Essa insana investida causaria um impacto de cerca de R$ 42 bilhões anuais nas contas públicas. Então cabe a indagação: Pode isso Arnaldo?