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Jaraguaense é a primeira mulher trans a ser laureada na UFSC

Foto: Arquivo Pessoal

Por: Isabelle Stringari Ribeiro

10/04/2024 - 10:04 - Atualizada em: 10/04/2024 - 11:04

Mariana Franco Fuckner, de 36 anos, é natural de Jaraguá do Sul e conquistou o título de primeira mulher trans a receber um prêmio de mérito estudantil, a láurea acadêmica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Graduada em Serviço Social, Mariana decidiu prestar vestibular após 12 anos de sua saída do ensino médio, e conseguiu ser aprovada logo na primeira tentativa.

“Sempre quis cursar Serviço Social, mas essa opção não estava disponível aqui em Jaraguá do Sul. Quando prestei vestibular na UFSC, fiquei um pouco receosa, pois quase todas as pessoas lá tinham feito um cursinho, ao contrário de mim, que simplesmente terminei o ensino médio e fui trabalhar.”

A mudança de Jaraguá do Sul para a capital foi desafiadora. O custo de vida em Florianópolis é alto e, no começo, Mariana enfrentou dificuldades. Ela conseguiu um trabalho como monitora na universidade, que ajudava com as despesas, mas ainda assim, a adaptação foi difícil. Somente no terceiro semestre que ela conseguiu uma bolsa de estudos, o que trouxe mais segurança e tranquilidade.

“Por isso, sempre digo que, quem tem vontade de cursar um ensino superior, independentemente da idade ou da questão financeira, deve correr atrás dos programas estudantis e das oportunidades. A UFSC oferece diversas modalidades de bolsa.”

Durante a universidade, Mariana sempre se destacou como uma aluna dedicada. Em todos os semestres, demonstrou um desempenho acadêmico impecável, alcançando uma das maiores médias gerais da história da UFSC e fechando com chave de ouro ao obter nota 10 no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

Foto: Arquivo Pessoal

“Isso, para mim, é um reflexo da conquista de território e oportunidade, pois há um simbolismo por trás disso, principalmente quando se considera a população de pessoas trans e seu acesso à educação. Mas não é difícil apenas para nós, mas para todos que desejam ingressar no ensino superior.”

O que é láurea acadêmica

A láurea acadêmica representa uma distinção de alto mérito, concedida apenas a estudantes que alcançam excepcional desempenho durante sua trajetória universitária. Receber esta honraria é um testemunho do comprometimento e da excelência acadêmica, reservada para um seleto grupo que não só atinge, mas excede os padrões estabelecidos de realização acadêmica.

No caso de Mariana, esta conquista não apenas sublinha seu notável esforço individual e dedicação, mas também serve como um símbolo potente de progresso e inclusão dentro da academia. Seu sucesso é uma inspiração para outros estudantes trans, demonstrando que, apesar dos desafios, a excelência é alcançável e reconhecida em ambientes que valorizam a diversidade e a equidade.

Juntas na conquista

Além de Mariana, a estudante Mirê Sanchez Chagas também fez história. As duas foram as duas únicas mulheres trans a se formarem em sua turma, um feito marcante que ressalta a importância da diversidade e inclusão no ambiente acadêmico. Além de alcançarem esse marco significativo, as duas também foram escolhidas como oradoras da turma, o que destaca não apenas suas conquistas individuais, mas também a valorização de suas vozes e experiências dentro da universidade.

Foto: Arquivo Pessoal

Barreiras na educação

Uma pesquisa realizada pelo programa TransVida em 2022 revelou que 49% dos entrevistados conseguiram concluir o ensino médio. No entanto, menos da metade desse contingente (21,1%) avançou e concluiu uma graduação. Esse dado ressalta os desafios enfrentados pelas pessoas trans no acesso à educação superior, indicando a necessidade de políticas e iniciativas que promovam a inclusão e a igualdade de oportunidades nesse contexto.

“Durante os 60 anos da UFSC, apenas 5 pessoas trans concluíram o doutorado. Isso já é um reflexo da dificuldade de acesso enfrentada por essa população”.

A pesquisa ainda revelou altos índices de violência e discriminação contra pessoas LGBTQIAP+ durante sua formação. A maioria dos entrevistados relatou ter sofrido algum tipo de discriminação, sendo a transfobia, homofobia e racismo as mais comuns.

As formas de violência incluíram desrespeito ao nome social, tortura psicológica e proibição do uso de banheiros adequados ao gênero. Os agressores mais frequentes foram pessoas próximas, como amigos, professores e familiares. Apesar disso, apenas uma minoria decidiu denunciar essas agressões, com alguns optando por abandonar os estudos.

Cotas trans

Em agosto de 2023 a Universidade Federal de Santa Catarina aprovou a cota trans, política que abrange todos os níveis de ensino, desde o básico até a pós-graduação, garantindo reservas de vagas na graduação, na pós-graduação e em concursos públicos, bem como acesso prioritário a editais de assistência estudantil.

Além disso, inclui medidas de combate à transfobia, campanhas, programas e ações educativas, bem como adaptações de infraestrutura. Embora outras universidades brasileiras já tenham políticas de acesso para pessoas trans, nenhuma possui a mesma abrangência da aprovada na UFSC.

A política implementa a reserva mínima de 2% das vagas para pessoa trans em todas as modalidades de bolsas acadêmicas e nos editais de auxílio e programas de permanência da Prae. Mariana explica que, se essas vagas não são ocupadas, elas passam a ser destinadas à concorrência geral.

Por fim, ela ressalta a iniciativa da UFSC e diz que, ao aprovar essa medida, a universidade torna-se uma referência para todo o país.

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Isabelle Stringari Ribeiro

Jornalista de entretenimento e cotidiano, formada pela Universidade Regional de Blumenau (FURB).