O calabouço era escuro e úmido. Uma pequena réstia de luz atravessava as grades da minúscula janela, lá no alto. Durante a madrugada, a janela também dava acesso aos morcegos, que faziam voos rasantes e ruídos de arrepiar o mais corajoso dos cavaleiros. Sujo e empoeirado, o local também estava tomado por ratos e baratas. Um completo cenário de horror. E era nesse ambiente fétido e aterrador que lorde Thompson estava encarcerado, longe de tudo e de todos, principalmente de sua amada, desde que o soberbo Henry, rei da Bretanha, descobriu que ele cortejava a única filha, Mary Hellen. Ambicioso, o frio soberano tinha outros planos para a herdeira. Pretendia casá-la com um outro rei, unir os dois reinos e crescer ainda mais em seus domínios.
Sacudido por calafrios enquanto se refugiava em um canto da cela, na tentativa de ficar a salvo dos insetos e roedores, lembrava da primeira vez que viu a tímida princesa Mary Hellen, quando passeava pelo jardim do castelo. O vestido azul-turquesa da filha do rei se movia graciosamente enquanto ela caminhava por entre as flores, e ressaltava ainda mais os lindos olhos azuis cor-do-céu, a pele clara e a cativante expressão de pureza da face. E foi naquele momento que Thompson chegou no cavalo branco, altivo e garboso em uma armadura de ferro. Ao ver a nobre donzela, foi tomado por forte emoção e imediatamente colheu a rosa mais bonita e ofereceu à moça, que enrubesceu.
– Alteza, aceite essa rosa como prova da minha lealdade e profunda admiração. Uma linda rosa para uma linda princesa!, falou o lorde, com um sorriso sedutor.
Era o começo de um namoro, com encontros furtivos e troca de cartinhas apaixonadas, intermediadas pela fiel ama. Foram três meses de juras eternas, até o dia em que o rei flagrou os dois se beijando em um dos corredores do grande castelo.
– Mas, o que é isso?! Como ousa beijar a princesa, que está prometida ao rei da Escócia?
– Eu não vou me casar com o rei da Escócia! Prefiro morrer!, retruca a princesa Mary Hellen, caindo em prantos.
– Pois você vai casar com ele, sim! E esse atrevido vai ter a lição que merece! Guardas, levem lorde Thompson para o calabouço, agora!
De nada adiantaram os protestos da princesa, nem a promessa do lorde de que queria desposar Mary Hellen para fazê-la muito feliz. Ao lembrar como tudo aconteceu, lord Thompson solta um longo suspiro e lágrimas involuntárias escorrem… Uma dor profunda toma conta dele, que sente o coração apertado.
– Thom! Thom!
Thompson abre os olhos e se espanta ao ver a mulher. Era como se tivesse voltado do túnel do tempo, pulando do pesadelo imaginário para a entediante rotina do casamento com Marilene, que de princesa não tinha nada…
– Estava preocupada com você, “mor”… Suava frio e se debatia tanto! Teve um pesadelo com aqueles alunos bagunceiros de sempre?
– Ah, sim, mas já passou, Marilene, não se preocupe. Lembrei agora que preciso terminar a minha aula sobre a Idade Média… Acho que vou marcar a prova para semana que vem…