Eram irmãs gêmeas. Antagônicas. Enquanto uma era associada ao nascimento, às manhãs de sol e à esperança, a outra remetia à noite escura, despedida e dor. E apesar de tão diferentes uma da outra, muitas vezes andavam lado a lado, porque muitas vezes a Morte chegava no mesmo instante que a Vida. Uma não existia sem a outra, e cada uma delas trazia um aprendizado. Yin e Yang…
Sentado em um tapete de bambu com as pernas cruzadas e as mãos unidas na altura do coração, o jovem monge procurava entender esse grande mistério da existência humana, os dois polos. Por isso estava ali, na sala de orações. Ele contava com o silêncio do ambiente para compreender o sentido maior de viver e morrer… O som dos passarinhos ao fundo, a leve brisa que entrava pela janela e o aroma do incenso de sândalo contribuía para aquietar os sentimentos, tão conturbados, que enfrentava naquele momento.
Lembrou-se da profunda dor que sentiu com a perda da mãe, Midori, quando ainda era criança, e isso acirrou suas dúvidas. Sentiu-se tão indefeso, na época, frente a um mundo assustador… Mas também se lembrou de sua imensa benevolência, e isso o tranquilizou.
Tinha lido que “perceber o nascimento e a morte como eternamente inerentes é despertar. É reconhecer a iluminação inerente”, e concordou.
O jovem Akira entendeu que se conseguisse viver com um genuíno sentimento de alegria e satisfação, sua morte também seria tranquila e feliz. Pensou na generosidade e na compreensão com as diferenças entre as pessoas. Acreditou que, se fizesse a passagem com o coração puro, não sentiria a dor extrema, como se estivesse sendo apunhalado e cortado com espadas afiadas…
Ao compreender tudo isso, fechou os olhos por um instante e respirou profundamente, em agradecimento por terem sido iluminadas suas ideias e deixou a sala de orações, em paz consigo mesmo. Um leve sorriso podia ser notado em seu semblante.