Um médico cardiologista de 59 anos foi indiciado pela Polícia Civil por homicídio com dolo eventual em Minas Gerais.
As investigações apuraram a morte de uma mulher, de 32 anos, durante procedimento em uma clínica localizada em Matozinhos, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
A paciente morreu no dia 4 de novembro do último ano, durante retirada de DIU e coleta de material do colo do útero para biópsia.
O tratamento ocorreu em uma clínica localizada no centro do município, que possuía alvará apenas para realização de consultas cardiológicas.
Conforme revelaram as investigações, a sedação da vítima foi aplicada pelo próprio médico que realizou o procedimento, em descumprimento à Resolução 1.670/2003 do Conselho Regional de Medicina, o qual estabelece que a administração de anestesia deve ser obrigatoriamente realizada por um segundo médico.
O delegado responsável pelo inquérito, Cláudio de Freitas Neto, detalha como foi a cronologia dos eventos até a morte da mulher.
“Após a finalização do procedimento, foi constatado que a paciente apresentava piora no quadro respiratório e cardíaco. Mesmo com a aplicação dos ‘antídotos’ da sedação, a paciente entrou em parada cardiorrespiratória. O médico tentou realizar pelo menos 12 manobras de ressuscitação antes de acionar apoio dos socorristas da UPA de Matozinhos”, contou.
Demora
Conforme apurado pela Polícia Civil, o procedimento iniciou por volta das 7h30 e o resgate só foi acionado por volta das 11h.
“A equipe da UPA demorou apenas cerca de dez minutos para chegar. Foi realizado procedimento de intubação e diversas manobras de ressuscitação, sem sucesso”, reforçou o delegado Cláudio de Freitas. “Por fim, a vítima foi levada à UPA de Matozinhos, onde a morte foi constatada”, completou.
A equipe de investigação conseguiu determinar a cronologia dos fatos por meio da análise das imagens das câmeras de segurança da clínica e pela confrontação de depoimentos, concluindo que houve demora por parte do médico em solicitar apoio para o socorro.
“A demora teria ocorrido com o objetivo de resolver a situação internamente e evitar problemas para o médico e para a clínica, que estava irregular”, destacou Cláudio de Freitas.
Causa da morte
O laudo de necropsia concluiu que a causa da morte foi um edema pulmonar. Uma perícia específica foi realizada para esclarecer as causas.
A conclusão foi de que uma associação de fatores, incluindo a hipóxia prolongada e efeitos adversos das medicações aplicadas poderiam ter causado o edema e, consequentemente, a morte da paciente.
Crimes sexuais
Em dezembro de 2023 o mesmo médico foi indiciado por violação sexual mediante fraude contra outras seis pacientes.
Os abusos teriam ocorrido durante consultas e exames. Em consequência dessas investigações, o suspeito segue preso preventivamente.
Nessa quarta-feira (20), outra suposta vítima do médico procurou a Delegacia de Polícia Civil em Matozinhos para relatar abusos semelhantes. Um novo inquérito policial foi instaurado.