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Quanto vale uma curtida?

foto: Freepik

Por: Raphael Rocha Lopes

12/03/2024 - 13:03 - Atualizada em: 12/03/2024 - 16:19

 

“♫ Um menino caminha/ E caminhando chega no muro/ E ali logo em frente/ A esperar pela gente, o futuro está/ E o futuro é uma astronave/ Que tentamos pilotar/ Não tem tempo, nem piedade/ Nem tem hora de chegar” (Aquarela, Toquinho).

Quanto vale uma curtida, também conhecida como like, em uma postagem de rede social? Muitas curtidas equivalem a muito dinheiro? E quanto valem os compartilhamentos ou os comentários nas redes sociais?

Os fatores que interferem nas respostas as estas perguntas são os mais diversos e eu não tenho a mínima ideia de quanto as curtidas valem, financeiramente falando.

Queda livre

Dos episódios da série inglesa sobre tecnologia e comportamento Black Mirror, o primeiro da terceira temporada (Nosedive, ou Queda livre no título em português) parece ser o mais atual dentro das perspectivas propostas pela série, mesmo tendo sido lançado em 2016!

É a história de uma mulher obcecada por curtidas nas suas redes sociais, em um mundo em que ter pontuação máxima ou próxima da máxima nestas redes sociais dá acesso aos melhores lugares, melhores condomínios, melhores financiamentos, melhores tudo o que dinheiro pode comprar. A queda da pontuação, por sua vez, pode ser o inferno astral (e não só astral) de quem quer viver de aparências ou de relações artificiais.

Alguma coincidência?

O custo

Quando pergunto do custo de uma curtida, o leitor mais atento pode devolver a pergunta com outra: você está falando de preço ou de valor? Ou ainda: para quem recebe ou para quem dá? Ou tantas outras possibilidades de questionamentos.

Uma curtida para um participante do BBB não é nada, mas o caminhão de seguidores que passa a ter de uma hora para outra e das consequentes curtidas que passa a receber podem lhe valer o interesse do mercado publicitário nos segmentos que tem alguma compatibilidade com ele. E isso vale muito dinheiro. Muito dinheiro!

Uma pessoa não famosa, normal, com seus círculos pequenos nas redes sociais, pode se satisfazer com poucas ou nenhuma curtida e está tudo bem!

Outras, porém, tornam-se dependentes das redes sociais. Refiro-me aos dependentes químicos mesmo. Aquelas pessoas que se tornam adictas, viciadas, que quando não estão com seus celulares ou estão sem acesso à internet sofrem distúrbios físicos e psicológicos e que sofrem genuinamente com a falta de curtidas, por exemplo.

Sim, já há clínicas de desintoxicação de celulares, jogos online, internet para adultos, jovens e CRIANÇAS.

Acredito que concordamos que esse custo é muito alto, especialmente para as crianças. Permitir que elas se tornem alheias ao que as cerca, à vida em família ou em amigos (no mundo real, obviamente, não no virtual), à natureza, aos jogos e brincadeiras tradicionais, às sujidades dos pés descalços, a ponto de precisarem ser desintoxicadas parece-me um crime infinitamente mais grave do que ficar sem curtidas nas redes sociais. E o futuro não tem tempo, nem piedade, e já está entre nós.

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Raphael Rocha Lopes

Advogado, autor, professor e palestrante focado na transformação digital da sociedade. Especializado em Direito Civil e atuante no Direito Digital e Empresarial, Raphael Rocha Lopes versa sobre as consequências da transformação digital no comportamento da sociedade e no direito digital. É professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Católica Santa Catarina e membro da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs.