“♫ Há maneiras de ver, maneira de ser/ Maneira de crer, maneira de ver/ Cara-metade, cara-metade, quero te ver na cidade/ Todo munda busca, ninguém acha você/ A cidade assusta, mas vai amanhecer” (Invisível, BaianaSystem).
O que você faria se encontrasse o anel de Giges? Não, não é o “my precious” do Smeagol, embora apresente o mesmo fascínio. O anel de Giges aparece em uma história contada por Platão, na obra A República, na qual se discute se o homem justo continuaria justo se tivesse o poder de não ser percebido. Na história, Giges era um pastor e, sem muito spoiler, encontrou o tal anel, que o deixava invisível. Assim, ele transformou sua vida, com muitas, digamos, maldades.
Enquanto você lia este trecho, provavelmente já deveria estar imaginando muitas coisas que faria se pudesse ter um anel desses, não é verdade? Agora pense se a pessoa que você mais confia ou a que você mais admira tivesse um anel assim. E se fosse uma pessoa que você não gosta ou com um passado pouco recomendável?
Ficar invisível quando bem quisesse daria um poder espetacular, concorda? E, na linha da discussão dos filósofos gregos, você acredita que a integridade continuaria companheira dos homens considerados íntegros se tivessem esse poder? Ou o homem apenas anda na linha porque não tem opção? É, de fato, somente (ou principalmente) o medo da punição que faz as pessoas serem moralmente corretas?
Os Giges de hoje
O anel mágico de hoje parece ser a internet. Muita gente acredita, parece, que se torna invisível na grande rede. Talvez não propriamente invisível, mas intocável.
Para alguns, a internet é o velho oeste norte-americano, uma terra sem lei. Mas não é. O que se faz ali, como no mundo fora dela, tem consequências civis e criminais, dependendo dos atos que se pratica.
Mas, ainda assim, é impressionante o número de pessoas que se comportam como se tudo pudessem na internet. Muito mais do que falta de respeito ou liberdade de expressão, alguns se arvoram no direito de achincalhar, ameaçar e muito mais como se estivessem protegidos por uma capa de couraça de aço como daquele ratinho dos desenhos animados de antigamente, o Batfino.
Não existe o anel de Ginges. E ninguém é invisível nas redes sociais quando fala ou faz besteira (a não ser que você seja um cracker que saiba manipular o sistema).
Por isso continuo defendendo que são necessárias aulas de educação digital para crianças e adultos, e a participação direta de pais e professores nesse debate. Se as pessoas hoje estão muito contaminadas com sua falta de educação e coerência na internet, talvez as próximas gerações possam apagar um pouco dessa vergonha que passamos atualmente como humanidade.