“♫ És um senhor tão bonito/ Quanto a cara do meu filho/ Tempo, tempo, tempo, tempo/ Vou te fazer um pedido/ Tempo, tempo, tempo, tempo” (Oração ao tempo, Caetano Veloso).
Há algum tempo, ouvindo um podcast a caminho do escritório, o comentário de um dos apresentadores chamou especialmente minha atenção. Ele falou que, uma tarde, assistindo televisão com o filho, talvez de uns quatro ou cinco anos, não tenho certeza, a criança falou: – Passa, pai! O pai não entendeu, na hora, e perguntou:
– Como, filho?
– Passa, pai!
– Passa o quê, filho?
– Passa pro lado, tira da propaganda.
Então, o pai entendeu.
Efemeridades.
Que a vida é uma efemeridade, ninguém, ou quase ninguém, discorda. Depende de como se vive para saber se o que vem depois – as lembranças dos que ficaram ou ficarão, me refiro – será longa ou curta.
Entretanto, nunca se viveu num tempo de, com o perdão do trocadilho desarranjado, tão grandes efemeridades. Tudo parece transitório, especialmente para os mais novos. Mas não só para eles. A internet e as redes sociais viraram uma torrente difícil de acompanhar.
A raridade da leitura do livro é inversamente proporcional às crianças que crescem aprendendo a passar, impacientemente, para o próximo vídeo nas telas dos celulares que acham que dá para fazer o mesmo naquela caixa de imagem que um dia pareceu mágica, a televisão (e que hoje em dia nem se parece mais com uma caixa, né?).
Estamos criando uma horda de impacientes, esta é a verdade. De impacientes para intolerantes a distância é pequena.
Efemérides
Em tempos de fast food e vídeos de 15 segundos (que é muito tempo para alguns adolescentes), poucos se lembram de um movimento que ocorreu há uns 20 anos chamado Slow Down ou Slow Movement. Não é, como pode parecer de início, fazer devagar. É fazer no tempo certo.
Sou do tempo da paciência do intervalo comercial durante os programas de televisão. E gostava das “propagandas” (se eu não fosse advogado, haveria grande chance de ser publicitário). Também sou do tempo dos poucos canais na televisão, e de quando só havia “televisão aberta”.
Hoje, por conta da pressa imposta pela internet, especialmente pelas redes sociais que, com suas telas infinitas, dão a impressão aos mais agoniados que nunca conseguirão ver tudo (e, de fato, nunca conseguirão), as pessoas estão mais impacientes. E estes adultos impacientes estão contaminando as crianças, cada vez mais birrentas.
Na toada desta velocidade de novidades (embora algumas nem novidades são, apenas velhos conceitos com novas roupagens), parece que efemérides surgem aos borbotões em horas ou minutos, de acordo com o humor dos algoritmos que decidem o que deve viralizar… Tempo, tempo, tempo, traga o prazer legítimo e o movimento preciso.