Christian Raboch Lempek, de 33 anos, nasceu e mora em Jaraguá do Sul. Ele é bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade da Região de Joinville (Univille), curso que concluiu em 2017. Atuando na Fundação Jaraguaense de Meio Ambiente (Fujama), tem hoje mais de dois milhões de seguidores nas redes sociais (@biologo.christian), onde divide com os seguidores as suas experiências de resgate de animais silvestres.
Só no Instagram são 1,4 milhão de seguidores e outros 850 mil no TikTok. Um projeto para o YouTube está a caminho. Além disso, as ações do biólogo também são bastante divulgadas pela imprensa, inclusive com publicações frequentes em grandes sites de notícias, como o G1. Christian admite que não imaginava que seu trabalho teria tanta repercussão. “Nunca imaginei, mas quando você trabalha com algo que ama e faz bem feito as oportunidades vão surgindo”, diz.
Ele conta que desde criança gostava de assistir aos programas de TV com biólogos como Sérgio Rangel, Richard Rasmussen e o australiano Steve Irwin, conhecido como ‘O Caçador de Crocodilos’. Este último, especialista em animais selvagens, faleceu em 2006, aos 44 anos, após ser ferido fatalmente por um ferrão de arraia que atingiu o seu coração.
Atualmente, Christian também segue vários profissionais e outras pessoas do meio nas redes sociais. “Acho que cada um tem sua importância, seja resgatando bicho ou fazendo algum outro trabalho em prol do meio ambiente. Tudo é válido”, acredita.
O dia a dia na Fujama
Na Fujama, o biólogo cumpre expediente de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, mas todo dia é uma rotina diferente. “Às vezes não tem nenhum resgate, mas tem dias que fico o dia todo na rua resgatando bichos. O máximo de resgates foram 12 em único dia”, conta. “No final de 2021, resgatei uma serpente dentro do motor de um caminhão, depois fui ver que a espécie não era nativa aqui da região, por isso precisou ser encaminhada para o zoológico de Balneário Camboriú”, explica.
A maior parte dos resgates é de serpentes e gambás, às vezes corujas, gatos-do-mato e cachorros-do-mato. Mas, em 2022, Christian resgatou um filhote de macaco-prego, no Bairro Ilha da Figueira, e um filhote de cervo, em uma propriedade rural do Bairro Garibaldi.
Ele observa que o resgate de fauna é uma excelente oportunidade para se trabalhar educação ambiental com os moradores. “Não adianta eu resgatar o animal e não passar informações para as pessoas. E as redes sociais vêm para ajudar a levar essas informações para muito mais gente”, completa.
Segundo o biólogo, é comum levar “grampeadas” (mordidas) na hora do resgate, mas, felizmente, até hoje ele não foi picado por nenhum animal peçonhento.
Perdendo o medo através do conhecimento e do respeito
Foi através do conhecimento e da educação ambiental que Christian perdeu o receio de ter contato direto com animais como cobras e aranhas, que provocam verdadeira fobia em grande parte das pessoas. “Por mais que eu tenha feito faculdade de Biologia, no curso não tínhamos muito contato com os bichos. Muitas vezes tu estuda os animais em slides, ou já mortos, conservados em formol. Poucas vezes se tem contato com bichos vivos. Então entrei e saí da faculdade com medo, receio. Até porque o medo é passado de geração em geração, de pai para filho.
Mas depois, tendo que lidar com os animais, tu começa a entender eles, respeita o espaço deles e por aí vai. A gente acaba perdendo o medo”, explica.
Animais de estimação pouco comuns
O biólogo conta que teve contato com animais desde pequeno. “Meus avós tinham um sítio em Rio Cerro II e eu vivia lá. Já tive tudo quanto é bicho”, relembra. Solteiro, Christian mora com os pais e quem os visita pela primeira vez com certeza vai se surpreender ao adentrar a sala do apartamento. É que lá estão dois terrários, cada um deles com uma cobra jiboia – Mirana, que ele tem há 3 anos, e Floki, adquirida há 2 anos. Além das duas enormes cobras, o biólogo também tem uma iguana, batizada de Ares, que está com ele há 3 meses. “Os animais foram comprados de um criadouro legalizado que fica na região metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais”, faz questão de salientar. As jiboias e a iguana vieram de lá para cá de avião.
“Você também acaba tendo uma relação de afeto com esses animais. As jiboias são na delas, mas a iguana interage mais”, comenta.
O que fazer se aparecer um animal silvestre na sua casa
Christian destaca que nem sempre que aparece um animal silvestre na casa de alguém é necessário fazer contato com a Fujama solicitando resgate. Ele também reforça que a Fujama trabalha somente de segunda a sexta, das 8h às 17h. Se aparecer algum animal e precisar de resgate no final de semana, à noite ou em feriado, quem faz o trabalho são os bombeiros.
“Por exemplo, se aparece um lagarto num terreno baldio, ou um gambá em cima de uma árvore, apesar de serem animais silvestres, essas espécies se acostumaram superbem com a presença dos seres humanos. Então, são exemplos de animais que não precisam ser resgatados, a não ser que estejam machucados ou dentro de um cômodo da casa e não consigam sair, aí a gente realiza o resgate”, explica. “Vou dar também o exemplo das serpentes. Caso apareça uma serpente dentro da sua casa, a primeira coisa a se fazer é prender gato e cachorro para esses animais domésticos não terem contato com ela. Alguém deve ficar de olho e, se possível, bater uma foto e ligar o mais rápido possível para a Fujama ou para os bombeiros”, completa.
O biólogo também ressalta que a Fujama atua somente no município de Jaraguá do Sul, já que é uma fundação que faz parte da Prefeitura. “A gente já recebeu pedidos de resgate de Barra Velha, Schroeder, Joinville e até de São Paulo, mas nós atendemos somente Jaraguá do Sul”, informa.
Planos para o futuro
A intenção de Christian é continuar o trabalho de resgate e monitoramento de fauna aliado à educação ambiental que já desenvolve na Fujama, e também viajar pelo Brasil ministrando palestras e cursos, principalmente sobre resgate de fauna, ensinando, capacitando e inspirando pessoas sobre esse importante trabalho, que em muitas cidades do País ainda não existe.