A ex-nora de um dos fundadores do grupo político palestino Hamas é brasileira e vive, até hoje, na Faixa de Gaza. Em 2014, ela concedeu uma entrevista à Folha de S. Paulo, quando contou um pouco sobre sua vida no local e o que a levou a se converter ao islamismo e casar com o então marido.
A mulher se identificou como Umm Abdo, no português “mãe de Abdo”, e não usa mais seu nome de batismo brasileiro. Em 2005, ela se casou com Said, filho de Abd al-Fatah Dukhan (à esquerda na foto), um dos líderes da Primeira Intifada – uma revolta popular palestina contra Israel, ocorrida de 1987 a 1993 – e fundador do Hamas.
Em 2022, após 17 anos de casada, ela, segundo a Folha, se separou de Said por sofrer violência doméstica. Mesmo assim, escolheu permanecer em Gaza. Seu ex-sogro foi morto por forças israelenses no último dia 11, segundo o canal de televisão pública de Israel, KAN. Não está claro se o ex-marido continua vivo.
Quem é Umm Abdo
Umm Abdo, que, à época, não aceitou ser fotografada, nasceu em Criciúma, mas foi criada no Rio Grande do Sul. Com uma família católica, Umm primeiro conheceu o Islã aos sete anos, quando leu um livro na biblioteca da escola sobre o conflito Palestina-Israel.
“Senti alguma coisa dentro de mim. Cheguei em casa e disse que era muçulmana. Minha avó ficou brava. Minha mãe pensou que aquilo era uma brincadeira de criança e que iria passar”, disse à época, ainda com 29 anos e há nove casada com o homem ligado ao Hamas.
Aos 15, foi à mesquita de Brasília e pediu para ser convertida. Aos 18, pôde concretizar seu desejo. Conheceu Said à distância, aos 20 anos, em 2005, e se mudou para Gaza. De lá para cá, teve cinco filhos com o descendente de Abd al-Fatah Dukhan.
Ela contou que estudou Direito e fala sete línguas, dentre elas o árabe, na qual é fluente e aprendeu inicialmente sozinha e depois em provas na Universidade Islâmica de Gaza. Em 2014, ela era a única pessoa cidadã brasileira em Gaza, excluindo aqueles com dupla-nacionalidade.
Para chegar à Palestina, Abdo cruzou a fronteira egípcia de Rafah, a mesma que, neste sábado (21), permitiu a passagem de ajuda humanitária para os moradores de Gazae é esperança para o grupo de cerca de 30 brasileiros que deseja deixar a Faixa. Umm, no entanto, não está entre eles.
Hoje com 38 ou 39 anos, e mesmo separada do ex-marido, ela escolhe permanecer em Gaza e mantém a crença que proferiu em 2014, de que “a libertação da Palestina só virá por meio da resistência. Por isso ficamos. O futuro de Gaza são as crianças”.
Segundo a organização Defesa Internacional das Crianças, um terço dos mais de 3,3 mil mortos em Gaza eram crianças de até 19 anos. Um menor de idade morre em Gaza a cada 15 minutos por conta dos bombardeios israelenses.
“Posso dizer que minha política é aquela que passo a meus filhos e às pessoas que moram aqui, não para quem está fora de Gaza. Não há lugar melhor no mundo para morar. Mesmo com todas as dificuldades e os massacres, sou apaixonada e vou morrer apaixonada. Se Deus quiser”, concluiu Umm Abdo à época, e parece manter o que disse agora, em 2023.
Fonte: Revista Fórum / Com informações da Folha de S. Paulo