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Vida futura

Por: Luiz Carlos Prates

27/08/2016 - 04:08

Não nos damos conta mas vivemos procurando pelo tédio em nossas vidas. Sim, pelo tédio. Aqui vai um exemplo. Se você souber que o seu amanhã será sem problemas, de hoje para amanhã você não viverá nenhum sobressalto, viverá a paz, afinal, saberá que o amanhã não lhe vai trazer nenhum desgosto.

E se você soubesse que depois de amanhã também teria a mesma segurança já assegurada para amanhã? Será que isso não lhe provocaria bocejos, tédio? Não é por outra razão que muita gente chuta para longe a ideia de Paraíso, ideia criada por seres humanos… Esse “Paraíso”, que foi inventado para que pudéssemos ter boas esperanças na vida, na verdade é um formidável engodo. Sim, afinal, no Paraíso não haveria problemas, só felicidades. E queres, leitora/o, maior aborrecimento na vida, tédio mais cruel, que a certeza? O que nos dá frêmitos na vida é o incerto, o não saber do amanhã, é o ter que lutar por ele…

Digo isso e penso no Diogo Hipólito, o nosso ginasta tenaz, o cara que caiu, como ele mesmo diz, de bunda em sua primeira Olimpíada; caiu de boca na segunda e agora, nesta última Olimpíada, caiu de pé, com a medalha de prata no pescoço. Tudo o que ele chorou ao alcançar aquela sua especial medalha seria chorado se ele pudesse ver o futuro? Claro que não.

Hipólito, ridicularizado, sujeito que conheceu a cava depressão, quase afundado no descrédito de todos, acreditou nele mesmo, persistiu e ganhou uma medalha inédita para o Brasil na modalidade de ginástica de solo. Mas antes da medalha ele não sabia disso.

Não saber do amanhã é a mais bem-aventurada das nossas graças na vida finita. O mal nunca seria um bem se visto antes, e o bem fica melhor quando dele não temos certeza e por ele lutamos. A graça está no não saber o que temos pela frente; sabendo desanimamos, afinal, quem luta e se inquieta diante da certeza? Bem melhor é não saber. Não saber do amanhã, lutar e viver por ele, aí está a graça e o frêmito da vida.

Vida
Falei aí em cima sobre frêmito da vida? Isso me fez lembrar um poema de Mário Quintana, o poeta gaúcho que foi meu colega na Companhia Caldas Júnior, ele no Correio do Povo e eu na Rádio Guaíba. Um dia Quintana escreveu mais ou menos assim: – “Antes de dormir, o poeta abriu seu caderno de páginas em branco, dispunha-se a escrever sobre a vida… Nisso, uma pequenina e desavisada formiga cruzou em diagonal a página em branco do livro do poeta; àquela noite ele nada escreveu; escrever o quê, se por aquela página já haviam passado o frêmito e o mistério da vida”? Genial.

Falta dizer
Durante a Olimpíada vimos muitos pares de atletas namorando entre si. Muitos acham isso interessante, mas… Estudos internacionais garantem que não há nada pior para a relação de um casal que os dois atuarem na mesma profissão. Será?

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Luiz Carlos Prates

Jornalista e psicólogo, palestrante há mais de 30 anos. Opina sobre assuntos polêmicos.