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Mariá Maricá

Por: OCP News Jaraguá do Sul

21/07/2016 - 04:07

Sim, Mariá Maricá nasceu em berço de ouro. Digamos que veio ao mundo em situação privilegiada. Fazia parte de uma das famílias tradicionais de Goiânia. Estudou nos melhores colégios, frequentava as altas rodas. Era filha única e a atendiam em todas as vontades. E como se não bastasse, foi agraciada pela beleza, o que facilitava para ser bem aceita no meio familiar e social. Como resistir a um pedido daquela criaturinha tão graciosa, doce e sorridente?

Mas quando Mariá se sentia  aborrecida com alguém, ou alguma coisa, gritava, batia pé, fazia chantagem emocional e até simulava doença. Se fazia de vítima e invertia tudo, de modo que o outro lado sempre levasse a culpa. Não admitia ser contrariada pelos irmãos e primos, que se irritavam com os xiliques dela. Em vão tentavam abrir os olhos dos pais e tios. Ninguém acreditava. Incentivavam a personalidade e independência da garotinha. Atribuíam as queixas a ciumeiras de crianças. Inútil argumentar, sempre passavam a mão na cabeça dela.

Mariá era uma menina muito esperta, desde a mais tenra idade. Ardilosa. Pequena ainda, Mariá Maricá fazia valer suas vontades. Era difícil resistir àquelas feições de anjo, ao olhar suplicante e à voz melosa, quando queria algo. Sabia manipular muito bem as pessoas. Aprendeu a dissimular para tirar vantagem. Do tipo que arranha e depois esconde as unhas. Pois é, ela era assim… Fazia amizades por conveniência e não dava ponto sem nó.

Na escola, era a queridinha dos professores e o terror dos coleguinhas. Não admitia perder nas brincadeiras. Quando acontecia, atirava areia no rosto das outras crianças, batia nelas, arrancava seus brinquedos e os atirava no chão, pisoteando. E quando era questionada pelo mau comportamento, fazia cara de choro e jurava de pé junto que não tinha sido ela. Acreditavam, é claro…

Agora, é preciso reconhecer, Mariá era estudiosa. Tinha conduta exemplar em sala de aula e obtinha as melhores notas. Para os professores, era a aluna perfeita. Inteligente, captava rápido o conteúdo e apresentava uma especial habilidade para aprender línguas.  No Ginásio, se vangloriava de ser a mais paquerada da escola, mas tinha um rapaz, o Bernardo, que não gostava do jeito esnobe e arrogante de Mariá. Por ironia do destino, ela gostava justamente dele. Desesperadamente.

Não faltaram pretendentes para a levar ao Baile de Formatura. Eu era o maior amigo dela, que ela fazia de gato-sapato…  Mas ela queria o Bernardo, só o Bernardo! E eis que surgiu Bernardo, acompanhado da Rosa, que mais tarde seria a esposa dele… Atônita, Mariá não conseguia entender como ele escolheu outra pessoa que não fosse ela. Abandonou o baile e voltou para casa. Quebrou tudo dentro do quarto. Surtou. Não estava acostumada a perder.

Depois disso, foi embora de Goiânia. Soube depois que a mandaram estudar na Europa e que casou por lá. Voltou três décadas depois, viúva. A vi de longe… Lá se vão mais de 60 anos e me lembro de cada detalhe… Por que só contei agora? É que existem coisas nessa vida que é melhor nem lembrar, para não sofrer…

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OCP News Jaraguá do Sul

Publicação da Rede OCP de Comunicação