Meses após o divórcio, Carol finalmente saiu de casa. Um coquetel. Arrastada, com muito custo, pela amiga Márcia. Foi de má vontade, sapato fechado, por que não quis fazer as unhas do pé. Roupa emprestada da própria Márcia, pois estava fazendo quase um ano que não comprava uma única peça. Mas, mesmo aos trancos e barrancos, a enclausurada amiga saiu de casa.
– Ai, Márcia, não sei se foi uma boa ideia ter vindo.
– Cala a boca, Carol. Claro que foi. Tá na hora de você sair, conhecer gente nova.
– Sei, não. É tudo tão recente, não tô pronta pra isso.
– Me poupe, amiga. Já faz nove meses! Tá na hora de fazer a fila andar.
– Pra mim não é assim fácil. Foram muitos anos com Adalto, estávamos muito acostumados um com o outro.
– Tão acostumados que ele decidiu passar sebo nas canelas e se mandar, né?
– Não fale assim. Acho que foi crise de meia-idade. É bem capaz de se arrepender e voltar pra casa.
– Sei… Vai esperando.
– Nossa, Márcia, olha que cara parecido com o Adalto.
– Qual?
– Aquele, de camisa azul, cabelo pintado.
– Parecido mesmo. Parecido demais. Será que não é ele?
– Capaz. De cabelo acaju? Impossível.
– Meu Deus, é ele mesmo!
– Não acredito! Que diferente!
– Deve estar enroscado com umazinha qualquer.
– Garotinha, de certo. Pra ter pintado o cabelo de acaju!
– Nunca imaginei isso. E como emagreceu!
– Eu tô pasma. Emagreceu e ainda por cima perdeu as tetinhas! Desde quando namorávamos ele reclamava das mamicas. Tinha mais que eu!
– Nossa, olha lá! Tá com aquela ali, ó.
– Meu Deus, não acredito! E eu pensando que ele ainda voltaria pra casa, que estava perdido, triste.
– Te falei, amiga! Te falei! Esse deve estar rodando mais que ônibus da Canarinho.
– Falta de consideração!
– Calhorda!
– Não acredito que passei nove meses comendo Spessatto de iogurte com amarena e assistindo A Culpa é das Estrelas, enquanto ele tá vivendo os embalos de sábado à noite!
– Ele tá olhando pra cá!
– Ai, o que eu faço?
– Finge que não viu e tasca um beijo no garçom!
– Capaz, tá maluca? Deixa, Márcia. Hoje ele pode ter ganhado essa batalha, mas a guerra ainda não acabou. Porém, tudo a seu tempo. A vingança é um prato que se come frio, ou melhor, é um pote que se come gelado e tem sabor de iogurte com amarena.
– Nossa! E o que você vai fazer, Carol.
– Antes de qualquer coisa, marcar depilação e pedicure. Aí, me segura! Por que vou até sair no outdoor das elegantes do Moa.
25/06/2016 - 04:06