Perto de fechar o primeiro semestre do ano, indicativos mostram que Jaraguá do Sul, acompanhando a situação brasileira, tem vivido uma intensificação da crise econômica nos últimos meses. Em abril, a cidade teve o segundo pior desempenho de Santa Catarina na geração de empregos, com a perda de 566 postos de trabalho, atrás apenas da capital Florianópolis, que fechou 1.080 vagas.
Mas, apesar do cenário adverso, alguns passos se mostram importantes para recuperar o ritmo de crescimento de anos anteriores, apontam os especialistas. De acordo com o diretor de desenvolvimento econômico do Instituto Jourdan, Márcio da Silveira, nos últimos anos Jaraguá do Sul passou por uma mudança de perspectiva, migrando de um modelo de mão de obra intensiva para um modelo de mão de obra altamente qualificada, com alto valor agregado.
“Os fatores geográficos, a falta de duplicação da BR-280, as restrições das leis ambientais, a falta de áreas industriais, o custo da mão de obra (comparada com a de outros locais do planeta) são indicadores que esse modelo está se exaurindo”, afirma o especialista. A mudança, é claro, não acontece de um dia para o outro, e exige visão de longo prazo. “Podemos precisar de muita gente nos próximos anos, mas é fato que também precisaremos cada vez mais de mão de obra qualificada. Isso já vem mudando desde a década passada na região”, aponta Silveira.
Dentro deste cenário, a ampliação da matriz econômica, a busca por inovação e o empreendedorismo são soluções cruciais para avançar economicamente, aspectos que tendem a se destacar em momentos de crise. “É hora de inovar, de começar um novo ciclo de investimentos assertivos. Quando a economia esta plenamente aquecida não se tem tempo para isso, normalmente se pega a onda e surfa. A oportunidade é agora. As empresas têm a oportunidade de rever processos, buscando baixar seus custos e melhorar a qualidade dos produtos, e os trabalhadores de se requalificar”, comenta.
Segundo o presidente da Associação Empresarial de Jaraguá do Sul (Acijs), Giuliano Donini, após uma retração de 5,4% do PIB brasileiro no primeiro trimestre (na comparação com o mesmo período do ano passado), era esperado que o reflexo fosse sentido mais fortemente no município. Ainda assim, a cidade se destaca por possuir um capital empresarial que se integra e direciona investimentos ao ambiente local.
“O empresariado tem um senso de responsabilidade muito grande em relação à sociedade em que está inserida, há um interesse em preservar os princípios e a cultura estabelecida na região. Isso é um diferencial relevante”, acredita o presidente da Acijs. Donini aponta dois pontos que considera cruciais no processo de retomada do crescimento econômico. “O primeiro é aumentar o prestígio e o consumo do que é produzido localmente. Isso ajuda a girar a economia da cidade, aspecto fundamental para a sobrevivência do mercado. O segundo é aumentar a representatividade de Jaraguá do Sul no que diz respeito às questões políticas. Hoje ficamos muito expostos a promessas sem retorno. E para isso mudar, temos que ter uma sociedade interessada, que reflita sobre o tema e que veja no voto uma forma de conseguir o avanço da região”, defende.
Perspectivas seguem negativas
O resultado negativo na geração de empregos em Jaraguá do Sul em abril foi impulsionado pela indústria da transformação, responsável por encerrar 514 (90,8%) das 566 vagas fechadas no período. O número fica bastante acima do setor de serviços, que registrou queda de 69 postos.
Por enquanto, as perspectivas para a economia local não são animadoras. Conforme o vice-presidente da Fiesc para o Vale do Itapocu, Célio Bayer, a alta inadimplência, a falta de recursos para investimentos e os altos estoques tem dificultado as operações, especialmente na indústria de transformação. “Muitas empresas estão se descapitalizando e com os juros altos para a tomada de dinheiro para capital a inadimplência cresce a cada dia. Por isso, o foco é minimizar custos mantendo empregos, o que tem resultado em ações de redução de jornada, por exemplo”, explica.
Márcio da Silveira destaca ainda que é preciso evitar analisar os números isoladamente, observando o contexto. “Vivemos uma crise política e de credibilidade, um ambiente recessivo, de inflação subindo, de juros altos e de falta de recursos para estimular o investimento público e privado. Um dos resultados desse ambiente é o desemprego. Quando haverá essa recuperação? Os indicadores da economia mostram que não será em 2016”, diz.
Fonte dos gráficos: Caged / Ministério do Trabalho e Emprego