Tendo que lidar com uma das cargas tributárias mais altas do mundo, boa parte do que o brasileiro gasta com produtos e serviços vai direto para o caixa do governo. Enquanto os impostos de itens básicos como o trigo e o tomate chegam a 17%, outros produtos possuem cargas tributárias que somam mais de 50% do seu valor, como é o caso da gasolina (53,03%), do microondas (59,37%), do perfume nacional (69,13%) e do vídeo game (72,18%).
Dados do Impostômetro mostram que, entre o dia 1º de janeiro e a tarde de ontem (19), cada brasileiro já havia pago mais de R$ 1,2 mil em impostos ao governo. Neste período, os tributos pagos no País somaram mais de R$ 773,6 bilhões e a estimativa é de que até o final do ano a arrecadação terá passado dos R$ 2,1 trilhões. Um estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revela que os brasileiros pagam o equivalente a 33,4% do Produto Interno Bruto (PIB) em taxas e impostos.
De olho na arrecadação, a Confederação Nacional dos Jovens Empresários (Conaje) realiza neste sábado (21) a 14ª edição do Feirão do Imposto, que irá debater a gestão e a aplicação dos recursos no País. Na região, três entidades estarão unidas para dar voz ao movimento: os núcleos de jovens empreendedores da Acijs (Jaraguá do Sul), Aciag (Guaramirim) e Aciac (Corupá), que organizam uma marcha fúnebre para, literalmente, enterrar os impostos. De acordo com o coordenador do núcleo de jovens empreendedores da Aciag, Tiago Bogo, a proposta foi criar um ato simbólico. “Queremos dar visibilidade ao tema, mostrar que é preciso cobrar do nosso governo os investimentos devidos e a utilização transparente dos recursos”, afirma.
A carreata será guiada por um carro fúnebre, partindo da Aciag às 9h de sábado, passando por Jaraguá do Sul e terminando em Corupá, onde um caixão será enterrado ao lado do seminário. “Para mudar este cenário temos que combater a corrupção e má gestão e escolher com cautela em quem vamos votar, buscando representantes qualificados para que a máquina pública seja gerida como uma empresa, adaptando-se à crise e sem se tornar inchada”, diz Jeferson Mattar, da Acijs.
Aumento da carga tributária tem efeito cascata
De acordo com o economista e professor da Católica SC, Jamis Piazza, o excesso de tributos gera um efeito cascata nos custos de fabricação e comercialização no País. Em suma, para suprirem a alta carga tributária, as empresas precisam repassar os custos no preço final da mercadoria, tornando o produto menos acessível e pouco atrativo, desestimulando o consumo.
“O governo aumenta suas despesas e, para compensar, aumenta os impostos. Porém há um limite. Hoje estamos em um ponto crucial. Até temos países desenvolvidos com cargas tributárias maiores, porém a população recebe muitos mais benefícios em saúde, educação e infraestrutura, enquanto o brasileiro precisa pagar tudo duas vezes, contratando serviços particulares para ter o que precisa”, avalia o economista.
Ainda assim, Piazza alerta que a sonegação é um desserviço para o País, uma vez que a carga tende a ser maior para quem cumpre os deveres fiscais. “Diminuindo a informalidade e pagando os impostos a probabilidade de a carga ficar cada vez menor é grande. É um processo cultural que começa na pessoa física, exigindo nota fiscal ao consumir”, comenta. De janeiro até a tarde de ontem, mais de R$ 198 bilhões já foram sonegados no Brasil, segundo dados do Sonegômetro.
O peso dos impostos
Confira alguns produtos do cotidiano que levam uma carga pesada de tributos diretamente para o seu bolso, todo o mês.
Conta de água: 29,3%
Conta de celular:47,87%
Conta de energia: 45,81%
Mensalidade escolar: 37,68%
Água mineral: 45,11%
Café: 36,52%
Arroz: 18%
Feijão: 18%
Frango: 17, 91%
Carne: 18,63%
Gás de cozinha: 34,04%
Cigarro: 81,68%
Cachaça: 83,07%
Vídeo game: 72,18%