Em meio à reinante instabilidade social, política e econômica, embarcamos em 2023 para uma longa viagem de quatro anos. No melhor cenário, isto é, se o atual avião governamental decolar, ‘por ares nunca dantes voados,’ certamente enfrentará fortes turbulências com severos ventos contrários.
O fato é que todos, tendo comprado passagem ou não, necessariamente, embarcaram nesse voo, embora, a aeronave ainda se mantenha taxiando.
Há os cerca de 82% que, como eu, vão de classe econômica, tendo que desembolsar a diferença em relação a 1ª classe, com ortopedista no destino final (se chegar), para recuperar a coluna vertebral.
Há os 15% que se abancaram na classe executiva e, por fim, os 3% que estão acomodados, confortavelmente, na primeira classe. Obviamente que não alimentarei tal hipótese, mas, se o avião cair, as classes se extinguirão… no chão.
Como o avião ainda não chegou à cabeceira da pista, passo a fantasiar como será esse longo trajeto. Na cabine de comando, a senhora copiloto manda mais que o piloto. Desde que o avião não caia, não há problema nisso. No entanto, um voo seguro não depende tão somente da cabine de comando.
A tripulação e passageir@s (o “@” é proposital) são indispensáveis na viagem. Esses também derrubam um avião. Então, a apreensão toma conta com as primeiras mensagens emitidas da cabine: “o comandante e sua tripulação, apresentam-lhes as boas-vindas a bordo do Boeing 747-400.
Este é o voo de nº 003 com destino a Pasárgada, sem escala. Pedimos sua atenção para as informações de emergência: a autonomia de voo dessa aeronave ainda é incerta, por isso, em caso de desespero, suas máscaras existenciais cairão. Muitos não conseguirão respirar.
Não entre em pânico, essa aeronave possui 6 saídas de emergência. Observem a indicação dos comissários, identifiquem a saída mais próxima de seu assento e se joguem. Vocês terão ar em abundância.
Aos que prosseguirem, os cintos deverão estar afivelados, pois, o sinal luminoso de ‘aperte os cintos’ se manterá aceso, provavelmente, durante todo o percurso. Tripulação, preparar para decolar…
Dentro de instantes serviremos uma refeição. Você terá duas opções: coxinha ou mortadela. Alertamos, por fim, que caso algum ‘mala’ se acomode ao seu lado, mantenha o encosto bem longe de você. A Companhia Tupiniquim agradece a preferência e deseja a todos uma boa viagem.”