Prisões por tráfico aumentam 75% no primeiro semestre de 2018 em Jaraguá do Sul

Por: Claudio Costa

01/08/2018 - 08:08 - Atualizada em: 01/08/2018 - 10:17

O combate ao tráfico de drogas é a principal linha de trabalho da Polícia Militar em Santa Catarina. Em Jaraguá do Sul, o 14º Batalhão de Polícia Militar (PM) registrou um aumento de 75% no número de prisões pela venda ilegal de entorpecentes nos primeiros seis meses de 2018.

No primeiro semestre deste ano, foram presas 114 pessoas. No primeiro semestre de 2017, 65 suspeitos foram detidos pelo mesmo crime no município.

Ao contrário do que se possa pensar, a grande surpresa nas apreensões não se refere às drogas mais comuns, como maconha, crack e cocaína, mas sim em relação às drogas sintéticas.

No primeiro, semestre deste ano, foram recolhidos 2.236 pontos de LSD e 1.997 comprimidos de ecstasy, uma quantidade nunca vista na cidade.

Segundo os números da PM, foram apreendidos 49 quilos de maconha nos primeiros seis meses de 2018, mais que o dobro do primeiro semestre de 2017, quando foram recolhidos 20,6 quilos do entorpecente.

Grandes apreensões, com o recolhimento de mais de dez quilos da droga em cada uma, fizeram com o número de quilos aumentasse. Em relação ao crack e à cocaína, houve diminuição nas apreensões.

Para a PM, o tráfico de drogas está concentrado na área dos bairros Tifa Martins, Santo Antônio, Nereu Ramos e Barra do Rio Cerro. Mas o subcomandante do 14º BPM, major João Carlos Benassi Kuze, aponta que essa configuração no mapa do tráfico da cidade pode mudar conforme a atuação dos traficantes.

“O marginal migra de bairro. Muitas vezes os traficantes que estavam atuando em determinada região são presos. E aquela região fica por certo tempo desabastecida. E os usuários se comunicam por meio de aplicativos para descobrir onde há droga. Com essa comunicação, há uma nova fonte e a concentração da venda migra”, contextualiza.

Investimento no serviço de inteligência

Kuze acredita que o aumento no número de prisões se deve ao trabalho da Segunda Seção da PM, chamada de Agência de Inteligência ou P2.

“A PM investe há um bom tempo em inteligência. Isso fez com que a nossa Segunda Seção fosse motivada e assistida. Tanto na capacitação, quanto na liberdade de trabalho”, ressalta Kuze, ao explicar que há policiais com grande identificação com esse trabalho no batalhão.

O major afirma que houve um aumento na quantidade de recursos dos policiais que trabalham na Agência de Inteligência da PM. Além das próprias ferramentas, eles também utilizam dispositivos que estão disponíveis no policiamento ordinário da Polícia Militar, como os OCRs, equipamentos de leitura ótica de placas de veículos.

O oficial também destaca a interação dos PMs da Segunda Seção com outros órgãos de segurança, o Departamento de Administração Prisional, a Polícia Civil e a Polícia Rodoviária Federal.

“Isso tem feito com que se fechasse o cerco ao tráfico de drogas na nossa região. É muito comum em escutas telefônicas e em conversas com marginais presos ouvirmos que não há interesse em traficar drogas em Jaraguá do Sul. Eles não gostam de atuar na nossa região porque temem a ação repressiva da Polícia Militar”, destaca.

Aumento no consumo de drogas

O aumento de prisão de traficantes na cidade está diretamente ligado ao aumento no consumo de drogas em Jaraguá do Sul, principalmente da maconha e drogas sintéticas. Kuze aponta que essas duas drogas são utilizadas em festas e casas noturnas da região de Jaraguá do Sul.

Por isso, o trabalho de fiscalização e repressão a traficantes que atuam nesses ambientes ganha cada vez mais a atenção das guarnições da PM.

De acordo com Kuze, junto com o consumo de drogas sintéticas nas festas, vem o uso da maconha, inserida no dia-a-dia das pessoas há muito tempo. Ele afirma que há apreensões de maconha com indivíduos que estão indo ou vindo para o trabalho.

“Até um tempo atrás, aquele cidadão que estava indo para a empresa devidamente uniformizado e com crachá não era abordado. Agora, muitas das abordagens em que são feitos termos circunstanciados por posse ou uso são feitos nesse trajeto”, conta.

O oficial da PM destaca que a cocaína tem um uso mais discreto e isso faz com que seja mais difícil flagrantes com a droga. Geralmente, é utilizada de forma recreativa, mas muitas pessoas a utilizam para trabalhar. Como o valor da droga é mais alto, as apreensões são menores.

O major também ressalta que o uso de crack diminuiu. Segundo ele, a ação repressiva em diversos pontos fez com que o uso desta droga nas ruas diminuísse.

Monitoramento e prisão

Kuze destaca que muitas prisões de traficantes começam com a abordagem de usuários. Por meio da coleta de informações feitas pelos policiais militares é possível fazer o monitoramento do ponto de drogas. Com isso, é feita a coleta do conjunto comprobatório para fechar o ponto de tráfico.

“Em outras situações, a movimentação do tráfico é percebida por uma guarnição que está na rua. Ela está patrulhando, percebe uma situação de tráfico e resolve a situação”, define.

A Lei Antidrogas brasileira não tem critérios objetivos para definir quem é traficante e quem é usuário. O que traz este discernimento é o conjunto de fatores encontrados no momento do flagrante e durante o monitoramento.

Os policiais militares observam o movimento de pessoas em uma residência suspeita. Com a percepção de uma movimentação anormal de pessoas e, no momento da prisão, a apreensão de anotações da venda de entorpecentes, dinheiro em espécie ou mesmo produtos para a separação, pesagem ou embalagem do entorpecente, é possível autuar o suspeito em flagrante por tráfico.

Com a prisão de um fornecedor, é muito comum que usuários acabem vendendo a droga para dar subsistência ao vício, outros pela obtenção de um lucro fácil e rápido. De acordo com Kuze, o tráfico atrai um segmento variado de pessoas.

“Culpar o traficante e vitimizar o usuário é uma visão muito simplista. Tem usuário em Jaraguá do Sul que compra em grandes quantidades. E tem traficante que compra em pequenas quantidades, muito pequenas realmente. E muitas vezes os papéis se misturam, porque o traficante acaba consumindo alguma coisa e o usuário acaba traficando um pouco também”, descreve.

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