A Câmara de Florianópolis viveu neste sábado (21) mais um capítulo triste de sua história. A sessão extraordinária que aprovou o Creche e Saúde Já, o projeto de lei 17.484/18 que autoriza a prefeitura a terceirizar serviços de saúde e educação por meio de Organizações Sociais (OS), foi marcada por um exagerado esquema de segurança e pela Polícia Militar dispersando manifestantes com bombas de efeito moral e spray de pimenta, dentro e fora da Câmara de Vereadores.
Ao contrário do que muitos previam, a presença dos manifestantes no entorno do prédio do Legislativo foi maior do que nos dias de semana. O calçadão das ruas Anita Garibaldi e Padre Miguelino estava lotado e a Rua dos Ilhéus precisou ser fechada pela PM por causa do grande número de pessoas.
O exagero do esquema de segurança começou antes mesmo de a sessão ser aberta. Para chegarem ao prédio do Legislativo, vereadores da base governista encontraram-se na sede do comando da PM, por volta das 14 horas, na Praça Getúlio Vargas. De lá, os carros pretos e com vidros escuros da Câmara seguiram em contramão pelas ruas Visconde de Ouro Preto e dos Ilhéus levando os parlamentares.
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A estratégia mostrou-se excessiva. Na chegada à sede do Legislativo o número de manifestantes era reduzido. A impressão que se tinha era de que haviam mais policiais para protegerem os vereadores do que pessoas contrárias ao projeto de lei. A medida que a tarde avançou, no entanto, a presença de público aumentou.
Dentro do prédio da Câmara o clima foi tenso desde o início da sessão. As galerias ficaram lotadas de manifestantes contrários ao projeto e cada vez que um vereador da base do governo subia na tribuna as vaias eram insistentes.
A pressão aumentou quando o vereador Bruno Souza (PSB) foi à tribuna e criticou a atuação do sindicato dos servidores públicos, o Sintrasem. “Acho que eles não trabalham, estava aqui durante a semana acompanhando as sessões. Então, não trabalham”, disparou.
A fala irritou a direção do Sintrasem que tentou invadir o plenário pedindo direito de resposta, mas foi contida pela Guarda Municipal. O presidente da Câmara, Guilherme Pereira (MDB) negou o pedido, acirrando ainda mais os ânimos.
Minutos depois policiais do Batalhão de Choque ocuparam a saguão de entrada do Legislativo. Sindicalistas e vereadores de oposição protestaram contra a presença dos policiais, que num primeiro momento deixaram o local, mas voltaram minutos depois.
A sessão seguiu com falas, em sua maioria da oposição. A base governista adotou a estratégia de não discutir o projeto.
BATALHÃO DE CHOQUE OCUPA PRÉDIO DA CÂMARA
No momento da votação a tensão chegou ao ápice. Com a derrota de 16 a 6 – o vereador Marquito (PSOL) não registrou o voto – sindicalistas tentaram mais uma vez chegar ao plenário. Os soldados do Choque, então, invadiram o hall do plenário e o salão dos ex-presidentes, que dá acesso às galerias, e onde estava a imprensa, disparando spray de pimenta.
Do lado de fora, bombas de efeito moral eram atiradas para dispersar os manifestantes. Diante deste clima a sessão foi encerrada.
Com o ambiente mais calmo, os manifestantes contrários ao Creche e Saúde Já seguiram no entorno do Legislativo mesmo depois da votação, anunciando que a greve continuará.
Agora, o projeto de lei vai para a sanção do prefeito Gean Loureiro, que espera para outubro a contratação das Organizações Sociais.
A oposição tem na Justiça a sua última tacada para impedir a efetivação do processo, além de fiscalizar as contratações e o funcionamento de 10 novas creches e da UPA do Continente, prometidos pelo Executivo em forte campanha publicitária.
E a Câmara registra em sua ata mais um capítulo triste de sua história.