Reforma garante preservação de museu de SC

Museu Cruz e Souza passou por reforma recentemente | Foto: Ewaldo Willerding/ OCP News

Por: Ewaldo Willerding Neto

23/09/2018 - 04:09

O incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro acendeu o alerta vermelho para a importância da preservação do patrimônio histórico e cultural brasileiro. Nossa memória está, fundamentalmente, inserida nos espaços dos museus. Cuidar dessa memória é garantir o entendimento do presente e buscar alternativas para o futuro.

Em Santa Catarina, o Museu Histórico do estado, sediado no Palácio Cruz e  Sousa, em Florianópolis – construído para ser a nova “Casa do Governo”, em meados do século XVIII, época em que foi criada a capitania da Ilha de Santa Catarina e nomeado seu primeiro governador – teve um foco de incêndio em janeiro deste ano.

Principal símbolo do poder político no estado, com o risco iminente de mais um acontecimento desastroso, o Palácio Cruz e Sousa passou por uma reforma elétrica geral entre os meses de fevereiro e março.

De acordo com a analista técnica em gestão cultural do Palácio Cruz e Sousa, a restauradora Márcia Regina Scorteganha, a reforma elétrica era urgente.

“A reforma aconteceu devido a um foco de incêndio no subsolo do museu, na cozinha, e que foi um alerta, porque nós já estávamos há muito tempo pedindo essa reforma. Além do acervo, vidas estavam em jogo”, a restauradora Márcia Regina Scorteganha.

Fiação trocada de ponta a ponta

Todos os rodapés do Museu Histórico de Santa Catarina foram retirados e a fiação que, segundo Márcia, não era trocada há mais de 30 anos, refeita.

Abrimos todos os rodapés e não tem mais fio antigo. Temos um arquivo, relatório desses fios. Nesse processo, eliminamos os possíveis focos de incêndio. Houve intervenções anteriores, mas podemos dizer que foram emendas. Eles emendavam o fio velho no fio novo e isso causava outro risco que a gente não ia saber nem onde começariam os focos”, disse a restauradora Márcia Regina.

As normas técnicas foram seguidas de acordo com o projeto preventivo de incêndio, aprovado em 2016 pelo Corpo de Bombeiros Militar. Conforme Vanessa Borovsky, administradora do museu, as normas foram seguidas à risca. “O projeto está em execução. Temos o prazo de dezembro de 2018 para finalizarmos e os bombeiros realizarem a última vistoria.”

Para que o projeto seja finalmente aprovado pelo Corpo de Bombeiros, falta a instalação de quatro extintores de 75 litros cada um, que ainda não foram entregues. Os processos de licitação são demorados e é preciso adequar as compras à verba recebida pelo estado.

Determinações técnicas atendidas

Além da fiação elétrica, todas as outras determinações para segurança e prevenção de incêndios foram tomadas. Luzes de emergência, rota de fuga, alarmes manuais de alerta ligados diretamente aos bombeiros (seis posições de alarme), extintores, para-raio e proteção das escadas foram implementados. Alguns funcionários ainda passaram por um treinamento de rota de fuga.

O governo do estado disponibiliza uma verba de aproximadamente R$ 120 mil mensais para a manutenção do museu.

Preservação do patrimônio

Preservar o atual Museu Histórico de Santa Catarina é preservar a história do estado. Sob sua responsabilidade estão cinco categorias de acervos: arquitetônico, arqueológico, arquivístico, bibliográfico e museológico.

Construído junto à praça da Vila de Desterro, o prédio de três seções e dois pavimentos passou a ser a nova “Casa de Governo”, em meados do século XVIII, época em que foi criada a Capitania da Ilha de Santa Catarina e nomeado seu primeiro governador, o brigadeiro José da Silva Paes.

Durante mais de um século, o Palácio passou por diversas modificações até que, na mudança republicana, uma grande reforma (1894–1898) foi realizada, adquirindo as características arquitetônicas preservadas até o presente.

Dez estátuas alegóricas esculpidas pelo artista italiano Gabriel Silva ornamentam a parte externa do prédio, coroando as platibandas. Entre elas, a padroeira do estado, Santa Catarina; a ninfa evocativa dos mares, Anfitrite; e o deus mitológico Mercúrio, compondo com duas barricas, alegoria alusiva ao comércio e à indústria catarinenses, respectivamente, sendo o último localizado no alto da fachada lateral, à direita. Os ladrilhos da calçada à frente do palácio foram importados e assentados no ano de 1910.

Posteriormente, nas obras de manutenção, foram realizados inúmeros acréscimos e modificações internas, além de repinturas que se acumularam em várias camadas com o passar dos anos. Em 1977 deu-se início a um grande trabalho de restauração do edifício, que passou a denominar-se, em 1979, Palácio Cruz e Sousa, em homenagem ao grande poeta catarinense.

Tombado como patrimônio histórico

Em 1984 o prédio é tombado como patrimônio histórico do Estado e iniciam-se novas obras de restauração, as quais lhe devolvem as características arquitetônicas originais da reforma feita pelo governador Hercílio Luz em 1898. Em 1986, reaberto, passa a sediar o Museu Histórico de Santa Catarina.

A partir de 2005 foram retomados os trabalhos de restauração das pinturas decorativas das paredes internas e dos forros de estuque, tratamento emergencial necessário, que vem sendo realizado por uma equipe de profissionais qualificados, dentro de rigorosos critérios técnicos. Quem visita o Museu pode acompanhar as etapas da restauração.

Quer receber as notícias no WhatsApp?