Queda no preço do arroz chega a aproximadamente 25% na região

Por: Elissandro Sutil

16/01/2018 - 06:01 - Atualizada em: 17/01/2018 - 07:44

A colheita da safra de arroz está longe de terminar, ao contrário, ela mal começou. Mas, apesar de a expectativa ser de uma boa produção, os produtores devem começar a calcular os prejuízos. Isso porque o preço deve sofrer uma queda drástica em relação ao último ano, conforme explica Orlando Giovanella, presidente da Cooperativa Juriti. Embora enalteça a produção, apontando a saúde do arroz, Giovanella lamenta o preço que será praticado neste ano. A queda chega a quase 25% no valor da saca. Em 2017, o preço pago ao produtor da cooperativa foi de R$ 45. Neste ano, o valor não ultrapassará os R$ 33, 12 a menos do que na safra anterior. “É muito difícil esse preço para o produtor, mas infelizmente o mercado não comporta pagar um valor superior a esse”, lamenta.

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O presidente afirma que este valor está muito abaixo do esperado e que a queda no preço pago pela saca aliado ao aumento do custo de produção faz com que a situação do produtor se complique ainda mais. Para Giovanella, uma série de fatores fez o preço despencar. “A indústria está sendo massacrada por todos os lados. Há a pressão de mercado, da baixa nos preços, os graves problemas com altos impostos que variam entre estados. Além disso, o Paraguai está colocando uma quantidade cada vez maior no Brasil e essa produção chega aqui quase sem impostos enquanto nós temos encargos muito altos. O custo de produção lá também é muito mais baixo do que os que temos aqui. Para ter uma ideia, os insumos que são utilizados lá chegam a custar um terço do valor que nós pagamos aqui”, explica.

Com cerca de 750 cooperados, a Juriti recebeu, na safra passada, 1,6 milhão de sacas de arroz produzidas pelos associados. Se a comparação fosse realizada com a mesma quantidade de produção e aplicando o valor de R$ 33 por saca – R$ 12 a menos do que o preço praticado na safra 2017 –, a queda chegaria a R$ 19,2 milhões. “A situação já havia se agravado em 2017 e agora, no início deste ano recebemos com enorme preocupação a situação do produtor baseada nos valores que poderão ser pagos. Isso acaba atrapalhando toda a nossa região, que é uma região produtora de arroz e este valor deixa de circular no mercado”, ressalta.

Para Giovanella, o governo deveria investir em ações e subsídios que pudessem incentivar a produção e também valorizar o produto. “Não há incentivo, há uma série de fatores e atitudes que poderiam ser tomadas para valorizar o produtor e a produção fazendo com que o preço praticado fosse, de fato, justo. A equalização de impostos, por exemplo, o produto do Mercosul entrando no país pelo menos com a mesma carga tributária com a qual trabalhamos são algumas ações que tornariam uma concorrência mais leal”, revela. “Tudo que o agricultor pode fazer e investir na propriedade, na cultura do arroz, ele tem feito. O produtor cuida com muito zelo da sua lavoura, mas infelizmente em virtude dos mercados e também em virtude dos eventos climáticos não sabemos como chegaremos ao final da colheita”, completa.

De acordo com o presidente da Faesc (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina), José Zeferino Pedrozo, a área plantada de arroz em todo o estado nesta safra é de 147.829 hectares, o que representa uma queda de 0,36% em relação a safra anterior. Pedrozo afirma ainda que a previsão é de que a produção neste ano chegue a 1.170.242 toneladas de arroz, o que também representaria queda, mas de 0,5%.  Para o presidente da associação as quedas estão dentro de um padrão normal. “Na produção a queda não é significativa, mas no preço sim. Eu tenho a impressão de que os nossos produtores se salvam pela produtividade, que é alta. É ela que tem segurado e mantido para que não haja mudança para outra produção”, avalia.

Para o coordenador do Projeto Arroz, da Estação Experimental da Epagri de Itajaí, Klaus Scheuermann, a entrada do arroz produzido no Paraguai contribuiu para a queda nos valores praticados no Brasil. Apesar de muitas cooperativas ainda não divulgarem os valores que serão praticados, para ele, o valor em todo o estado não chegará a R$ 40, assim como indicam os valores já divulgados. “A expectativa não é boa e justamente por isso algumas cooperativas estão atrasando a abertura da safra em termos de preço. O arroz produzido no Paraguai e que entrou no mercado brasileiro contribuiu para a redução nos nossos preços. Quando lá há arroz sendo comercializado a 36 reais, fica difícil a gente ter um valor superior a esse aqui”, diz.

Assim como na Cooperativa Juriti, o preço médio que deve ser praticado em todo o estado sofreu uma queda brusca. De acordo com o presidente da Faesc, na safra passada o preço era de aproximadamente R$ 46,80 a saca. Neste ano, o valor não deve ultrapassar os R$ 39,27. A queda é de 17%. “Esse preço é desanimador, mas não encontramos, em curto prazo, uma perspectiva de melhora nos valores”, completa.

Área plantada de arroz em todo o estado nesta safra é de 147.829 hectares, o que representa uma queda de 0,36% em relação a safra anterior | Foto Rafael Verch/OCP

Colheita a todo vapor em Guaramirim

O ano mal começou e o trabalho já está intenso para o produtor Nilson Steffens. Há uma semana a colheita está a todo vapor em uma das propriedades utilizadas para o plantio de arroz, no bairro Poço Grande, em Guaramirim. E trabalho ele tem de monte pela frente. São 70 hectares de área plantada, dividida em três propriedades. O início da colheita foi na última terça-feira (9) e até o momento pouco mais de 150 sacas já foram colhidas na propriedade, conta Steffens.

Apesar do tempo chuvoso não colaborar com os trabalhos na última semana, o sol que reapareceu nesta segunda animou o produtor que estima estar com toda a produção colhida até o início do mês de março. “A expectativa na lavoura é muito boa, a produção foi muito boa. A chuva atrapalha, mas a gente precisa dela. Por enquanto é uma chuva fraca, sem perda de arroz, e como é início de safra não temos perdas”, diz.

Mas, apesar de a estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) ser de queda na produção do arroz neste ano – segundo o instituto, a queda deve chegar a 5,9% – a produção de Steffens deve se manter. Sem querer fazer cálculos de como será sua produção, o agricultor acredita que deverá obter resultados semelhantes aos da safra passada. “A princípio, se continuar assim, sem perdas, vamos manter a mesma proporção do ano passado. O trabalho nós fizemos, investimos, cuidamos”, salienta.

Assim como o produtor guaramirense, o coordenador do Projeto Arroz, da Estação Experimental da Epagri de Itajaí, Klaus Scheuermann, evita falar em estatísticas de perdas ou danos com relação à safra de arroz deste ano. Ele explica que, apesar de alguns dados já terem sido projetados, ainda é muito cedo para falar em perdas. “É muito precoce a gente afirmar que vai ter ou não uma queda. A safra do ano passado – 2016/2017 – foi uma safra considerada praticamente perfeita. As condições climáticas eram excelentes, então, dificilmente vamos ter uma condição equivalente. Por isso, partiu-se da premissa que será difícil ter uma colheita como a do ano passado”, destaca.

Scheuermann explica ainda que em algumas situações podem ser notados alguns prejuízos, mas nada que possa ser considerado como perda significativa. Ele conta que em Massaranduba os produtores costumam fazer o plantio mais cedo, o que antecipa também a colheita e, como nas últimas semanas o período foi chuvoso, houve prejuízo. “Mas ainda é cedo para afirmar que isso vai ter reflexo na produtividade”, avalia. O coordenador chama a atenção ainda para a incidência de eventos de granizo nesta época do ano, o que pode também ter impacto direto na safra. “Esses eventos são frequentes neste meio tempo de colheita, então, eu não me arrisco a dizer o quanto de quebra teremos e se essa quebra será significativa”, completa.

Para Scheuermann, a primavera, estação em que o plantio é feito, teve uma condição climática muito boa, o que fez com que o arroz tivesse bom desenvolvimento. Além disso, o coordenador não pontua nenhum evento climático incomum que pudesse ter prejudicado significativamente a safra. “Por hora, não tivemos eventos climáticos que pudessem prejudicar a safra, mas se esse período de chuva se estender além do comum, aí sim podemos ter perdas significativas”, analisa.

De acordo com o presidente da Cooperativa Juriti, Orlando Giovanella, a produção está muito saudável e, embora não estime quantidade, acredita que os números serão bons. “A produção em si, o arroz, está muito bonito na roça e promete ser uma boa safra. Mas toda a lavoura ainda está nas arrozeiras, agora que se começou a colher alguma coisa, ainda não dá pra prever”, afirma.

Apesar disso, no último final de semana a chuva de granizo causou prejuízo para produtores de Massaranduba. Segundo Giovanella, pontos isolados foram atingidos e, apesar de ainda não ter o cálculo de prejuízo, ele pode chegar a 50% de quebra em algumas propriedades.