Projeto irreverente na escola Valdete Piazera Zindars estimula alunos a desenvolver hábito da leitura

Por: Elissandro Sutil

21/10/2017 - 09:10 - Atualizada em: 23/10/2017 - 13:44

Para alguns, uma geladeira personalizada pode ser apenas uma forma de dar mais vida ao eletrodoméstico. Mas, para os alunos e professores da escola estadual Professora Valdete Piazera Zindars, o refrigerador está funcionando como porta de entrada para o universo da literatura.

O projeto “Portal Entremundos” faz parte de uma mobilização da equipe pedagógica da escola para, além de incentivar, estimular os jovens a criarem o hábito de ler, tanto por lazer como para pesquisa, e escreverem suas próprias histórias. As ações iniciaram no ano passado, com a adoção dos 15 minutos de leitura quinzenalmente em toda a instituição.

“Quando estava apresentando meu plano de gestão para ser diretora da escola, questionaram qual seria meu trabalho em relação à biblioteca, que praticamente não existia”, conta a diretora Angelita Wanderwegen. Até então, os poucos exemplares que a escola tinha estavam organizados em uma prateleira nos fundos da sala dos professores. Um dos motivos para a pouca estrutura, segundo a diretora, seriam os frequentes alagamentos que atingem o local.

Ao assumir o cargo, Angelita, com o apoio de toda a equipe, começou um trabalho de mobilização para arrecadar novas obras. A Associação de Pais e Professores (APP) da unidade também investiu na aquisição de livros e de estrutura para abrigá-los. A professora de português, Micheli Cunha Cesar, conta que, com a expansão do projeto, foi identificada a necessidade de instigar nos alunos o gosto pela leitura. “Hoje eles têm acesso à informação muito rápido, está tudo na internet”, observa.

Uma das iniciativas para criar este elo entre os alunos foi trazer um contador de histórias para conversar com as turmas. Neste período, também surgiu a ideia de colocar à disposição dos estudantes livros mais contemporâneos, que chamassem a atenção. “É difícil os jovens começarem a gostar da leitura pelos clássicos”, comenta Micheli. O local escolhido foi uma geladeira doada por uma empresa da localidade, totalmente decorada por cartazes de obras voltadas ao público infanto-juvenil.

Para preencher a geladeira de livros, a escola está realizando uma campanha de arrecadação. Todas as obras são bem-vindas, mas a equipe também fez uma pesquisa entre os estudantes e elencou 98 títulos para o acervo. Destes, apenas seis já foram arrecadados. A instituição ainda pretende levantar recursos para compra através de rifas e patrocínio.

A partir deste fim de semana, o refrigerador estará no supermercado Giassi para os consumidores que passarem pelo local e quiserem doar algum exemplar. Ele ficará por sete dias no mercado. A geladeira também possui um perfil no Facebook, com o nome Stlic Entremundos. A sigla, conforme o professor de história Wander Blaesing, significa “Sistema de Teletransporte Literário de Imaginação e Criatividade”.

“Na rede social, ela interage com os estudantes como se fosse uma geladeira, contando que precisa de ajuda para conseguir os livros. A ideia está agradando, muitos já fizeram sua contribuição e já mudaram seu comportamento, passando a ler nos intervalos, por exemplo”, relata o professor.

Geladeira ficará exposta durante uma semana no Supermercado Giassi para receber doações de livros | Foto Eduardo Montecino/OCP

Resultados vão além da leitura

Se antes do projeto o contato dos jovens com os livros era pequeno, hoje o cenário é completamente diferente. Um exemplo é o do aluno do segundo ano do ensino médio, Moacir dos Santos Junior, 17 anos. Ele declara que encontrou na literatura um meio para expressar seus sentimentos e ideais. “As palavras são libertadoras”, enfatiza.

O jovem relata que foi justamente a maneira diferenciada que os profissionais da escola elaboraram o projeto que fez toda a diferença e o motivou para começar a ler e escrever com mais frequência.

Aluna do primeiro ano, Gaye Gabriela Reinke, 16 anos, também passou a enxergar os livros de uma nova maneira. “Os que eu mais gosto são os de ficção e aventura”, aponta. Gaye ainda comenta que irá trazer alguns exemplares de casa para rechear a geladeira.

Os alunos do primeiro e segundo ano da escola estão trabalhando na produção de dois livros. Um de contos e outro de memórias literais. Ambos devem ser finalizados até o fim do ano.