Projeto inovador pretende fortalecer o mercado por meio da educação e da valorização profissional

Por: OCP News Jaraguá do Sul

09/09/2017 - 14:09 - Atualizada em: 09/09/2017 - 14:17

Ser criativo é ser ousado, sair da zona de conforto e pensar fora dos padrões. É colocar-se constantemente em movimento. É ir além – ou, mais do que isso, acreditar ao máximo que é possível sim, ir além. No mundo de hoje, ser criativo significa principalmente ser capaz de inovar, de propor novas soluções para problemas antigos, sem nunca perder a flexibilidade e a capacidade de se adaptar às novas demandas. E é aí que mora o desafio.

Foi para estimular a troca de ideias e difundir o pensamento criativo que um grupo de profissionais de Jaraguá do Sul se reuniu em prol de um projeto inovador. Batizado de “Colisões Criativas”, o movimento foi criado com o intuito de unir pessoas, promover debates e abrir portas para o trabalho colaborativo, levando o conceito de associativismo a um nível totalmente novo.

A ideia surgiu no ano passado e começou a sair efetivamente do papel em junho deste ano. O intuito era criar um movimento livre, sem ligações institucionais, e que permitisse uma gestão totalmente colaborativa e descentralizada, dando espaço para qualquer tipo de manifestação criativa, explica o designer e empreendedor Beto Shibata, 42 anos, que integra a iniciativa ao lado de outros 18 profissionais. O nome Colisões Criativas, aliás, veio justamente desta proposta de fazer “colidir” as diferentes tribos e formas de pensar.

Nome Colisões Criativas veio da proposta de fazer “colidir” as diferentes tribos e formas de pensar | Foto Eduardo Montecino/OCP

“Identificamos uma comunidade criativa com potencial muito grande, mas que não se comunicava”, conta Shibata, que enxergou no movimento uma oportunidade de dar força e visibilidade a estes profissionais. “É uma iniciativa importante porque conecta as pessoas, movimenta os espaços, fomenta a troca de ideias e dá energia para novas ideias surgirem”, aponta o designer, que é taxativo ao afirmar que “todos (os profissionais) têm a capacidade criativa internamente”, independente do setor de atuação.

“Um exemplo conhecido foi o do Glauco Manske, que se tornou um escalador autodidata pesquisando sobre o assunto, vendo vídeos para se preparar fisicamente para o desafio e até criando a própria ferramenta porque não encontrou disponível no mercado. Ele é engenheiro, isto ajuda, mas não define o que ele pode ou não fazer em um desafio como este”, afirma Shibata. “O mundo está mudando numa velocidade exponencial e a informação já não é mais o poder, o poder está no critério da curadoria”, acredita.

MODELO OPORTUNIZA A DIVERSIFICAÇÃO ECONÔMICA E CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL

Quando o assunto é o mercado, os benefícios vão muito além dos avanços individuais, afirma o empreendedor Benyamin Parham Fard, 38 anos. “É através da criatividade, da união de mentes e novas formas de olhar os negócios que conseguimos criar novas oportunidades para uma economia mais diversa, inovadora e sustentável”, resume ele. Com experiência nas áreas de inovação e sustentabilidade, Benyamin conhece bem as provações do mercado e é incisivo ao apontar a colaboração criativa como a chave para o crescimento sustentável.

Como um dos idealizadores do projeto, Benyamin vê na união e na troca de ideias uma ferramenta poderosa de desenvolvimento, pensamento que, segundo ele, começa a permear o mercado em todos os cantos do planeta. “Estamos passando por uma transformação na sociedade em todo o mundo. As pessoas estão olhando para a economia de outra forma, de um modo mais colaborativo, com espaço para o compartilhamento. Este movimento não é novo, sempre houve iniciativas neste sentido, mas a sensação é de que isso está ganhando corpo com mais pessoas se envolvendo e querendo fazer acontecer”, afirma.

De acordo com Benyamin, iniciativas como esta só vêm a acrescentar, mesmo em setores bem consolidados na cidade, como é o caso da indústria. “Para agregar valor aos produtos e serviços precisamos de sinergia com o movimento criativo. Só assim os setores poderão gerar experiências, e não só vender de produtos”, explica o empreendedor. Segundo ele, é natural que esta mudança parta principalmente dos profissionais mais jovens, que trazem um propósito e uma visão de futuro muito bem estabelecidos. Prova disso é o surgimento cada vez mais frequente de iniciativas coletivas que buscam repensar e recriar os paradigmas do mercado.

PROJETO PROMOVE A EDUCAÇÃO POR MEIO DO DIÁLOGO, DA TROCA E DA INSPIRAÇÃO

Na semana passada, o primeiro evento organizado pelo grupo deixou clara a demanda dos profissionais por espaços que promovam este tipo de interação. O encontro informal, chamado de Show & Tell, foi baseado em uma proposta internacional e trouxe sete palestrantes para falarem de forma rápida e descontraída sobre suas experiências criativas.

Eventos com toque informal ajudam a promover a troca de experiências e fomentar a discussão sobre o cenário criativo local | Foto Divulgação

“Já no primeiro evento conseguimos gerar muitas provocações no sentido de empreendedorismo e também sobre qualidade de vida, logo quando muitos produtos e serviços fugiam um pouco do establishment econômico. E com isto conseguimos mostrar que o sucesso está em fazer o que se gosta”, diz o mestrando em computação aplicada e empreendedor, Franco Gomes dos Santos, 33 anos, que faz parte da iniciativa.

Segundo ele, diante das mudanças vivenciadas pelo mercado, é preciso encontrar urgentemente novos caminhos para continuar a manter o padrão de inovação e tecnologia em que se baseia a força econômica de Jaraguá do Sul. “Chego até a pensar que se não mudarmos agora, podemos perder o ‘time’ e ficarmos para trás”, diz ele.

Mais do que estimular a inovação, projetos como este também ajudam a fomentar mudanças culturais importantes, aponta Santos. Ele cita, por exemplo, a cultura da competitividade, hoje vista por um ângulo totalmente novo àquele defendido em décadas passadas. “Somos todos parceiros, competitividade deve ser encarada como algo saudável. E não com mesquinharias, inveja ou frustrações. A proposta de valor de cada serviço ou produto pode complementar a outra”, ressalta.

VALORIZAÇÃO SERVE DE ESTÍMULO PARA O SURGIMENTO DE PROFISSIONAIS DA ÁREA

Para a designer e empreendedora Isabela Sanson, 27 anos, além de movimentar o cenário criativo, o Colisões Criativas aproxima pessoas e mostra o verdadeiro valor do trabalho “feito em casa”. Segundo ela, um dos grandes desafios atualmente é dar mais visibilidade às empresas que atuam na região, que apesar do alto nível de qualificação, ainda enfrentam o velho estigma de que “o que é de fora é melhor”.

“O movimento nos tira da inércia. Com esse tipo de coisa rolando na cidade, acabamos tendo uma visibilidade melhor. Pessoas que nem imaginavam que essas coisas aconteciam podem ter um primeiro contato, se inspirar e começar um projeto a partir disso”, afirma. “Para o mercado é excelente, porque quanto mais profissionais, melhor o nível do trabalho. Todo mundo acaba ganhando: nós, por encontrar mais profissionais, e quem contrata, por descobrir que santo de casa faz milagre sim, e muito bem feito”, defende a designer.

Segundo ela, em outros mercados, Jaraguá do Sul é visto como um núcleo criativo muito forte e que produz produtos e serviços de nível elevado. Por isso, a valorização local também é importante para que novos talentos se sintam motivados a seguirem carreiras na área criativa.

Tem que sonhar grande, né? Seria sensacional que Jaraguá do Sul virasse uma espécie de capital do design ou da arte, já que temos o Femusc. Mas nós não temos pressa. O que espero é que o movimento ganhe cada vez mais força e cada vez mais integrantes, para que a valorização do design, da arte, da criatividade e que o que é feito aqui vire uma cultura local. Temos que parar com essa ideia de que o que vem de fora é melhor, porque o que está aqui acaba sendo o ‘de fora’ de alguém. Quero que as pessoas vejam as coisas sensacionais que nós somos capazes de fazer aqui”, assinala.