Como levar a riquíssima cultura da etnia negra aos alunos da educação infantil, interagindo de forma lúdica, e ao mesmo tempo trabalhando a valorização e a igualdade racial? Foi a partir desse questionamento da professora Cleonice de Oliveira Lorencini que nasceu um projeto desenvolvido junto às alunas do 3º ano do magistério da Escola de Educação Básica Heleodoro Borges.
Pedagoga com especialização em supervisão, orientação e gestão escolar, Cleonice defende a importância de estabelecer ações para um ensino antirracista na educação infantil. Por meio de práticas didáticas, a ideia é trabalhar com a cultura afrobrasileira em sala de aula.
Um dos primeiros pontos abordados com as 75 futuras professoras foi a legislação brasileira, e que o combate ao preconceito racial está amparado pela legislação e inserido nas Leis de Diretrizes e Bases da Educação, que tornou obrigatórios os conteúdos relacionados à história, cultura e contribuição da população negra e indígena na construção do Brasil, assim como as diretrizes da educação infantil.
Cleonice conta que recebeu incentivo do Movimento da Consciência Negra do Vale do Itapocu (Moconevi). A pedagoga acredita que ainda existe racismo no Brasil e para ela, a solução é trabalhar a igualdade racial com as novas gerações. “Muitos negros se encolhem, mas eu vou, enfrento. Trabalhei em várias escolas e nunca senti esse preconceito”, afirma. “Estou há cinco anos aqui e não penso em ir embora”, resume.
Para contribuir ao projeto, a pedagoga chamou os educadores Júlia Mariane Américo e Luís Fernando Olegar, ambos com experiência em direção escolar na rede municipal de ensino e integrantes do Moconevi. “Agora, as alunas estão preparadas. Me emociono em ver que aderiram tanto ao projeto”, observa Leonice, enquanto segura uma boneca de pano confeccionada em sua homenagem.
ESTUDANTES APROVAM INICIATIVA
Débora Soares Venuiz, 31 anos, foi vestida pelas colegas com roupa típica para a entrevista ao OCP e sentiu forte emoção. Inicialmente tímida, conta que está há 14 anos em Jaraguá do Sul. “Vim fazer o plano de aula e para mim foi uma surpresa chegarem com a roupa e os acessórios. Me emociono porque é um pouco da nossa cultura escondida”, diz, com os olhos marejados.
Vanessa da Silva, 28 anos, é psicóloga e já trabalhou com a estudante educação especial. “O tema africanidade dentro das escolas, até então não tinha visto como aluna. Vai valorizar, plantando sementinhas para no futuro se ter uma sociedade melhor, em que os negros sejam aceitos com igualdade. Todos devemos abraçar essa causa”, acredita. Atraída pela área lúdica, a futura professora Débora Adriana Bortoncello, 31 anos, afirma que var levar os elementos aprendidos já para o estágio.
A estudante Débora Bortoncello quer usar elementos, como as bonecas africanas Abayomi, durante o estágio | Foto Eduardo Montecino/OCP
ELEMENTOS DA CULTURA NEGRA
O projeto, que inicialmente envolveu as etapas de pesquisa e debates em sala de aula, passou a ser vivenciado na prática por meio de artesanato, jogos, música, dança e da colorida indumentária oriunda do Continente Africano. A iniciativa encontrou eco no diretor Leopoldo Diehl Filho e sua equipe.
Entusiasmadas, parte das alunas passaram a apresentar o resultado do que foi vivenciado em seus estágios. Uma das inovações, nas intervenções escolares, é a boneca negra de pano, com aproximadamente 1,3 metro, feita pela alunas Sabrina Neumann e Lully Anny Mello, que desfilou no dia 7 de Setembro. As camisetas foram criadas pela aluna Vivian Rowe. Todas aprenderam a criar bonecas africanas Abayomi, feitas sem costura. Em outubro haverá Mostra de Trabalhos na escola e em novembro, Mês da Consciência Negra, a intenção é buscar locais para exposição itinerante.
Por meio de práticas didáticas, a ideia é trabalhar com a cultura afrobrasileira em sala de aula | Foto Eduardo Montecino/OCP
*Reportagem de Sônia Pillon
