Partículas do coronavírus são encontradas em amostas de esgoto em Florianópolis

Amostras do esgoto de Florianópolis colhidas em 27 de novembro de 2019 | Foto UFSC/Divulgação

Por: OCP News Florianópolis

02/07/2020 - 16:07

 

Partículas do novo coronavírus, SARS-CoV-2, foram encontradas em duas amostras do esgoto de Florianópolis colhidas em 27 de novembro de 2019, dois meses antes do primeiro caso clínico ser relatado no Brasil.

 

 

A descoberta é descrita na pesquisa “SARS-CoV-2 in human sewage in Santa Catarina, Brazil, November 2019”, de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina, da Universidade de Burgos (Espanha) e da startup BiomeHub. Uma versão preliminar do artigo foi distribuída pelo site MedRxiv.

 

Esta é a primeira presença confirmada do vírus nas Américas | Foto Fabricio Escandiuzi/Divulgação

Assinam o pré-print do artigo:

  • Gislaine Fongaro (Laboratório de Virologia Aplicada – LVA/UFSC)
  • Patrícia Hermes Stoco (Laboratório de Protozoologia/UFSC)
  • Dóris Sobral Marques Souza (LVA-UFSC)
  • Edmundo Carlos Grisard (Laboratório de Protozoologia/UFSC)
  • Maria Elisa Magri (Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental)
  • Paula Rogovski (LVA/UFSC)
  • Marcos André Schörner (Laboratório de Biologia Molecular, Microbiologia e Sorologia/LBMMS/UFSC)
  • Fernando Hartmann Barazzetti (LBMMS/UFSC)
  • Ana Paula Christoff (BiomeHub)
  • Luiz Felipe Valter de Oliveira (BiomeHub)
  • Maria Luiza Bazzo (LBMMS/UFSC)
  • Glauber Wagner (Laboratório de Bioinformática/UFSC)
  • Marta Hernández (Seção de Microbiologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Burgos)
  • David Rodriguez-Lázaro (Seção de Microbiologia/Burgos).

 

Primeira presença nas Américas

A professora da UFSC Gislaine Fongaro explica que amostras de esgoto do final de outubro até o início de março foram analisadas. “Acessamos amostras congeladas do esgoto bruto para investigar o material como ferramenta epidemiológica”, afirma a pesquisadora.

Até agora, é o relato da primeira presença confirmada do vírus nas Américas. Gislaine lembra que estudos semelhantes encontraram o SAR-CoV-2 no esgoto de Wuhan, na China, em outubro, e na Itália no início de dezembro, antes do vírus ser descrito em 31 de dezembro de 2019.

Para o estudo, diversos departamentos da UFSC foram acionados. “É um trabalho do LVA, com parcerias interlaboratoriais. Ficamos um pouco desconfiados com os primeiros resultados, mas a gente repetiu todos os dados, fazendo testes no laboratório do Hospital Universitário, e rastreamos o genoma do vírus”, salienta a professora. “Tivemos o cuidado de realizar um teste interlaboratorial, e não foi feito um único marcador viral, vários marcadores do vírus foram usados para reconfirmar. Estamos bem tranquilos quanto ao resultado”, indica.

 

RNA do vírus é transformado em DNA | Divulgação/PMJS

Sem alarme

O teste RT-PCR (da sigla em inglês: transcrição reversa seguida de reação em cadeia da polimerase – o RNA do vírus é transformado em DNA para poder investigar a presença do genoma viral) é muito sensível e encontra quantidades diminutas do vírus.

A carga constatada em 27 de novembro foi baixa: 100 mil cópias de genoma do vírus por litro. Depois disso, novas amostras deram positivo em doses mais elevadas em 11 de dezembro e 20 de fevereiro, até que em 4 de março a carga de SARS-CoV-2 chegou a um milhão de cópias de genoma por litro de esgoto. “As pessoas não precisam ficar apavoradas com contaminação. O esgoto só é uma representatividade do que já tem na população”, diz Gislaine.

Descoberta só foi possível porque pôde acessar amostras que já eram coletadas por outros estudos | Foto: Divulgação/ Curityba Biotech

 

Outras doenças

Ela pondera que as pessoas podem ou não ter ficado doentes neste período, e ter atribuído algum sintoma a outras doenças. Em 30 de outubro e 6 de novembro, as amostras não apresentaram traço de SARS-CoV-2.

A descoberta só foi possível porque pôde acessar amostras que já eram coletadas por outros estudos. “É a importância de ter amostras disponíveis e os recursos necessários para pesquisa”, comenta Gislaine, que destaca a importância do monitoramento do esgoto e da ciência básica: “É um grande momento para a gente pensar como o esgoto da população serve para programas sentinelas. Muito antes de aparecer casos clínicos, o vírus estava circulando. É possível fazer análises de risco e antecipar os cuidados necessários com a população, como, por exemplo, a hora de dar uma diminuída nas atividades”.

Com informações das Agecom/UFSC

 

 

 

Quer mais notícias do Coronavírus COVID-19 no seu celular?

Mais notícias você encontra na área especial sobre o tema:

Receba as notícias do OCP no seu aplicativo de mensagens favorito:

WhatsApp