Desafios e alegrias entre pais e filhos

Nilson conta como Gustavo mudou sua vida para melhor - Fotos: Eduardo Montecino/OCP Online

Por: OCP News Jaraguá do Sul

13/08/2016 - 04:08 - Atualizada em: 13/08/2016 - 09:21

Não basta ser pai, tem que participar! Quem não lembra dessa frase divulgada em anúncio publicitário, que de tão verdadeira, sempre é lembrada? Ao descobrir que vai ser pai, um homem pode ter diversas reações, dependendo do perfil, do temperamento e da fase da vida.

A paternidade é uma condição social que traz responsabilidades, como prover e educar, impor limites, mas o importante é nunca deixar de demonstrar amor e compreensão em cada uma das fases de crescimento dos filhos, tampouco esquecer do lazer e das brincadeiras lúdicas que reforçarão os laços entre ambos, durante a infância.

Nesse Especial Dia dos Pais, o OCP traz três histórias distintas que mostram a importância de saber desempenhar tanto o papel de pai, como o papel de filho: a do consultor de vendas Angelo Maiochi, que a cada dia conquista espaço no universo do adolescente Luigi, com Síndrome de Asperger; do descolado auxiliar de cobranças Nilson Korb Benthien Junior, que tem no pequeno Gustavo um grande parceiro; e na crônica escrita em primeira pessoa por essa repórter, sobre a retomada da convivência diária com o pai octagenário, Almerindo.

“Biscoito” e Gustavo, uma parceria em todos momentos
Você conhece o auxiliar de cobranças Nilson Korb Benthien Junior, de 29 anos? O nome pode parecer desconhecido, mas se falar “Biscoito”, provavelmente muita gente vai lembrar do barman com alargadores que durante um bom tempo servia coquetéis em casas noturnas e produzia licores à base de frutas para aumentar a renda familiar. Ele é o pai de visual descolado do pequeno Gustavo, de três anos e meio, que nasceu no dia do Natal, literalmente um presente que é motivo permanente de alegria para ele e a mulher, Érica, 26. O apelido surgiu há mais de 10 anos. “Sempre fui meio gordinho com cara de biscoito, redonda, daí surgiram as zoações e ficou até hoje”, conta, rindo.

Nilson revela que perdeu o pai caminhoneiro aos 12 anos, com quem teve pouco contato. “Ele dificilmente estava em casa. Isso influenciou muito na forma de relacionamento com o meu filho, pois tento ser um pai presente o máximo possível”, afirma. “Ser um bom pai é aquele que está sempre presente, não só nas brincadeiras, mas até nos piores momentos da vida do filho, sendo sempre o porto seguro, mostrando como a vida funciona”, garante. Para proporcionar uma vivência lúdica, já fez carrinho de rolimã e pé-de-lata para o garoto. “Brinco de esconde-esconde e ele adora”, diz.

A cumplicidade entre ambos é visível. “Meu filho é meu parceiro. Tudo o que eu faço estou sempre mostrando a ele o certo e o errado. Nunca o deixo de lado para fazer meu trabalho. Quando estou ocupado, em casa, ele está comigo”. Mesmo assim, garante não ser um pai permissivo. “Limites precisam ser impostos já ao começar a andar. Tudo tem um limite na vida, tanto para criança, quanto para adulto, não se pode fazer o que bem entende. Minha preocupação, e acho que todo pai tem, é com a adolescência, quando vem a rebeldia e o querer fazer tudo ao contrário do que os pais falam. Mas já converso bastante desde agora. Ao invés de proibir, devemos ensinar o certo e errado”.

“Deus me deu tudo o que sempre pedi. Nós temos uma ligação muito forte e somos muito parecidos: dois teimosos (risos). Tudo o que eu faço, ele quer fazer igual. Se eu estou com uma camisa verde, ele também quer colocar uma camisa verde”, declara Nilson, com os olhos brilhantes. “Quero que ele aproveite ao máximo a vida dele de forma saudável. Não quero que ele passe os momentos ruins que passei. Sem um pingo de dúvida, me tornei um homem de verdade a partir do dia em que meu filho nasceu”, diz, emocionado. “Lembro como se fosse hoje, pegando aquele bebezinho no hospital. Eu todo com medo, ele tão frágil, tão pequeno. A partir daquele dia, minha vida mudou para melhor. São surpresas tão gostosas: o primeiro passo, a primeira palavra, primeiro dia de creche, tudo uma experiência muito boa, tanto para ele, como para mim”. Agora Biscoito vive a expectativa de ser pai pela segunda vez: “Se for menino, vamos dar o nome de John, em homenagem ao meu falecido irmão. Se for menina, ainda não decidimos”.2016_08_10 Angelo pai e Luigi Maiochi Especial dia dos pais - em (4)

Angelo e o filho Luigi se tornaram mais unidos quando começaram a passear juntos de motocicleta

Angelo e Luigi e suas viagens
O consultor de vendas Angelo Maiochi, 50 anos, se orgulha muito do filho, Luigi Ferraza Maiochi, 14. E não é para menos. Nos últimos três anos, ele foi um dos estudantes catarinenses que conquistou medalhas na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas, de prata, ouro e prata novamente. Mas esse não é o único motivo que faz Angelo se orgulhar do filho que tem. Como se não bastasse o brilhantismo ao aprender uma matéria que causa tanta dor de cabeça para muitos estudantes, Luigi, que nasceu com Síndrome de Asperger, adora ler, é autodidata em inglês, bastante aplicado nos estudos e obtêm notas acima da média. Jogos eletrônicos e passeios ao ar livre também fazem parte da rotina desse adolescente, que estuda no 9º ano da Escola Cristina Marcatto.

O adolescente é reservado, objetivo e franco quando se expressa. Porém, pelo fato de ter sido criado em um ambiente onde nunca faltou amor, compreensão e respeito e sempre foi estimulado a desenvolver suas habilidades, a cada dia vence barreiras e supera limites. E para Angelo, que sempre via o filho mais ligado à mãe, Marcia, estar gradativamente ganhando mais espaço na vida dele é motivo de grande alegria. É um laço que se consolida passo a passo. “Respeitamos as limitações de comportamento, as atitudes e a condição intelectual do Luigi. Decidimos que a criação dele não poderia ser diferente”, esclarece. “Até hoje ele tem mais familiaridade com a mãe, mas sempre me coloquei na condição de pai incentivador, orientador, que quer o bem-estar e a afetividade.

Observo e comemoro a evolução dele”, conta Angelo. “Eu sempre ficava em recuperação em matemática. Uma vez comentei com um professor: ‘tomara que meus filhos nunca tenham dificuldade em matemática. Lancei no universo esse desejo e hoje tenho a satisfação de ver que ele é premiado nacionalmente. Muito orgulho!”, declara Angelo, sorrindo. A estratégia de Angelo para estreitar ainda mais a relação com Luigi começou quando o menino tinha 10 anos. Foi aí que Luigi começou a passear na garupa da motocicleta de 950 cilindradas do pai. O último passeio, em abril, foi para Morretes (PR). “Foi muito bom estar com ele por perto, conhecendo outros lugares, novas paisagens. Já estamos programando viagens mais longas”, comemora Angelo.

Durante todo o tempo da entrevista do pai, Luigi permaneceu ao lado, discreto e tranquilo. “No começo, tinha dificuldade para me relacionar com ele, conversava pouco”, reconhece o adolescente. “Percebo que ele (pai) fala ‘eu te amo’ muitas vezes quando estou distraído, mas gosto de saber. Às vezes ele me pergunta, mas eu já disse eu te amo por conta própria”, confidencia.

Sonia e pai - em

Jornalista Sônia Pillon fala da alegria de retomar a convivência diária com o pai Almerindo

Uma segunda chance para conviver
Meu nome é Sônia Pillon, sou jornalista, escritora, mãe coruja do Felipe e filha de Wilma e Almerindo, ambos vivos, mesmo com trajetórias diferentes. Nasci em Porto Alegre, que por muitos anos foi chamada de A Cidade Sorriso, e sou radicada em Santa Catarina desde 1994. Em Jaraguá do Sul, estou há 20 anos.

Lembro de muitas coisas da minha infância relacionadas ao meu pai, como a vez que eu e minha mãe chegamos mais tarde no apartamento onde morávamos, na avenida Ceará, em Porto Alegre, e ele me recebeu de braços abertos. Ou nas vezes em que ele me contava histórias bíblicas, antes de dormir. Também gostava quando ele preparava o risoto e o sagu à base de vinho. Das vezes em que levava eu e meu irmão Renato (in memoriam) para passear no Parque da Redenção, para andar de barco, dar comida aos peixes, e de trenzinho, para apreciar a paisagem. E a pipoca e o algodão doce? Era uma festa!

Quando tinha uns nove anos, quis o destino que meu pai saísse de casa. Foi iniciar uma nova vida enquanto eu rumava da infância para a pré-adolescência e depois para a vida adulta. Sentia uma falta imensa dele, do seu jeito afetuoso de ser, mas segui em frente. Comecei e terminei a faculdade de Jornalismo, casei, tive filho, divorciei, me dediquei à carreira, e a vida foi seguindo seu curso.
E por essas coisas que acontecem na vida, apenas há 12 anos tive a oportunidade de vê-lo um pouco mais, frequentar a casa dele, ainda que como visita, nas viagens periódicas a Porto Alegre.

No fim do ano passado, eis que uma reviravolta no destino nos permitiu uma reaproximação maior e uma convivência diária, passo a passo. Depois de décadas, a vida está nos dando uma segunda chance para estreitar os laços de pai e filha novamente, ainda que de forma inversa: se antes ele me levava para passear pela mão, hoje sou eu e o neto que o conduzimos para caminhar e se divertir no parque, na praça, no zoológico… É uma redescoberta mútua, do que fomos ontem e do que somos hoje, de readaptar fases que foram puladas e que, agora, são recuperadas e resgatadas com muito amor.

A face e o andar encurvado de meu pai revelam marcas inconfundíveis trazidas pelos anos. A memória prega peças, sim, mas hoje, quando chego em casa e o vejo sorrindo para mim e me abraçando com tanto amor, só tenho a agradecer por o ter tão próximo a mim novamente, compartilhando a mesma morada e a mesma mesa. É a segunda chance que a vida está nos presenteando e quero aproveitar ao máximo a companhia dele. E nesse Dia dos Pais, vou repetir e possivelmente me emocionar ao dizer para ele, com o coração transbordando de alegria por o ter novamente perto de mim: Te amo, pai Almerindo!