Organização Mundial da Saúde gasta mais em viagens do que no combate à Aids

Por: OCP News Jaraguá do Sul

25/05/2017 - 10:05 - Atualizada em: 25/05/2017 - 10:54

Da Redação

Diretora-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Margaret Chan viajou para a Guiné no início deste mês para se juntar ao presidente do país na celebração da primeira vacina contra o ebola no mundo.

Depois de tecer uma série de elogios a quem trabalha em prol da saúde na África Ocidental pelo triunfo sobre o vírus letal, Margaret passou a noite na suíte presidencial no hotel Palm Camayenne, à beira do mar. A suíte, equipada com banheiros de mármore e uma sala de jantar que acomoda oito pessoas, tem um preço anunciado de 900 euros por noite — o equivalente a mais de R$ 3.300.

O problema é que essas luxuosas acomodações passam a mensagem errada aos mais de sete mil funcionários da OMS — e podem prejudicar os esforços para arrecadar fundos da agência para enfrentar doenças em todo o mundo. De acordo com documentos internos obtidos pela Associated Press (AP), a OMS gastou cerca de US$ 200 milhões (mais de R$ 650 milhões) ao longo do ano passado em despesas de viagem. Isso é mais do que o montante que oferece para combater alguns dos maiores problemas da saúde pública, incluindo Aids, tuberculose e malária, combinados.

No ano passado, a OMS gastou US$ 71 milhões (R$ 233 milhões) no enfrentamento da Aids e da hepatite. Dedicou US$ 61 milhões (R$ 200 milhões) ao combate da malária. Já para retardar a propagação da tuberculose, a OMS investiu US$ 59 milhões (R$ 193 milhões). Ainda assim, alguns programas de saúde recebem financiamento excepcional — a organização gasta cerca de US$ 450 milhões (mais de R$ 1.450 milhões) tentando acabar com a pólio a cada ano.
A OMS se recusou a dizer se pagou a estadia de Margaret Chan no Palm Camayenne em Conakry, mas observou que os países que recebem os representantes da organização às vezes pegam as despesas de hospedagem.

Num tempo em que a agência tem pedido mais dinheiro para financiar as suas respostas a crises de saúde em todo o mundo, ela está também lutando para manter seus custos de viagem sob controle. Funcionários de alto escalão se queixaram internamente de que equipes das Nações Unidas quebram algumas novas regras destinadas a conter custos excessivos de viagem: eles fazem reservas em quartos de hotéis cinco estrelas e viajam na classe executiva com poucas consequências.

Ian Smith, diretor executivo do escritório de Margaret Chan, destacou que a organização geralmente faz muito pouco para impedir tais comportamentos prejudiciais.Em declarações à AP, a agência de saúde da ONU afirmou que “a natureza do trabalho da OMS exige muitas vezes que a equipe viaje” e que os custos foram reduzidos em 14% no ano passado em comparação com o ano anterior — embora 2015 tenha sido totalmente excepcional, por conta do surto de ebola iniciado em 2014 na África Ocidental.