O impacto dos alimentos transgênicos no nosso organismo

Por: OCP News Jaraguá do Sul

19/11/2016 - 04:11

A engenheira agrônoma com doutorado em Recursos Genéticos Vegetais e pós-doutorado em Ciências dos Alimentos, Kelly Justin da Silva, é enfática ao afirmar que o Brasil e o mundo devem dar mais atenção aos transgênicos. Esses alimentos, geneticamente modificados e produzidos por gigantes da indústria, fazem parte do nosso dia a dia há tempo, mas dificilmente paramos para pensar sobre os impactos que eles podem estar causando na saúde, no meio ambiente e na economia do planeta.

O assunto foi debatido durante o 1º Simpósio de Tecnologia de Alimentos, promovido nesta semana pelos cursos de Nutrição e Biomedicina da Católica de Santa Catarina, na Mitra Diocesana de Joinville. O evento, gratuito e aberto ao público, também contou com palestras e mesas redondas sobre tecnologia alimentar com o coordenador de Inovação do Innovation Center Planta da empresa Duas Rodas, Fernando de Jesus, e a doutoranda em Biologia Molecular, Nicole Dalonso.

Confira, a seguir, um resumo com os principais tópicos da palestra da engenheira agrônoma Kelly, em que questiona a liberação dos transgênicos no país, reforça a necessidade de mais estudos para comprovar se o consumo é realmente seguro e destaca a importância do acesso à informação sobre a presença de transgenes nos alimentos através da rotulagem, um direito conquistado pelos brasileiros em 1990 e regulamentado pelo decreto 4.680/2003.

Consumo inconsciente

“Mesmo sem saber, estamos consumindo transgênicos no dia a dia. Esses elementos estão presentes, principalmente, em alimentos à base de milho e soja, e quase tudo na indústria alimentícia leva milho e soja na composição. Para se ter uma ideia do que isso significa, uma pesquisa feita em 2013 pelo Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA), da Universidade de São Paulo (USP), e pela Universidade Estadual de Campinas, com marcas nacionais e internacionais de cerveja, apontam que algumas delas apresentam concentração de até 45% de milho na composição”.

Impacto na saúde

“É fundamental que sejam feitos no país mais estudos para saber o impacto dos alimentos transgênicos na nossa saúde, pois, ainda não é possível afirmar que é seguro consumi-los. No Brasil, pouquíssimos testes foram feitos para liberar a comercialização desses alimentos e estamos vendo na prática as consequências dessa iniciativa”.

Atenção às embalagens

“Pelo decreto 4.680, de 2003, os alimentos e ingredientes que contenham organismos geneticamente modificados, com a presença acima do limite de 1% do produto, devem ser identificados na embalagem com um símbolo – um “T” dentro de um triângulo amarelo. Há algum tempo, as indústrias alimentícias tentam mudar essa legislação para que esse símbolo seja retirado dos rótulos. Acredito que a lei não será alterada porque a sociedade está em busca de alimentos mais saudáveis e também mais atenta às discussões sobre os transgênicos”.

Relação com o câncer

“Uma pesquisa realizada em 2012 pela Universidade de Caen, na França, constatou que ratos alimentados com transgênicos morrem antes do previsto e sofrem de câncer com mais frequência do que outros animais da espécie. O estudo foi realizado durante dois anos e, com apenas 11% da dieta modificada, as fêmeas desenvolveram tumores mamários e os machos tiveram as funções hepáticas e renais afetadas. Também houve a constatação de que ambos sofreram desequilíbrio hormonal”.

Uso de agrotóxicos

“A principal justificativa para a produção de transgênicos no Brasil sempre foi a redução do consumo de agrotóxicos, no qual o país ocupa o primeiro lugar no mundo. Porém, não é o que está acontecendo. Dados do Sindicato Nacional das Indústrias de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) constatam que o consumo de agrotóxicos no país aumentou 40% entre 2002 e 2011 – ou seja, sua utilização cresceu muito mais do que a área plantada. Além disso, um dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) revela que o consumo não intencional de agrotóxicos está associado a casos de intoxicações, vômitos, diarreia, depressão e câncer. As pessoas que mais sofrem são os agricultores que fazem a aplicação desses herbicidas”.

Agricultura e meio ambiente

“Além de todas as consequências negativas que já estão sendo observadas na saúde, também há o impacto dos transgênicos no meio ambiente e social. Artigos científicos publicados em revistas de grande repercussão, nos últimos 13 anos, apontam que já existem ervas daninhas resistentes ao glifosato (agrotóxico responsável por eliminar as plantas invasoras nas plantações) e de lagartas resistentes ao cultivo, alterações na diversidade de macro e micro-organismos do solo e o aumento do custo de produção das sementes, que estão ficando cada vez mais caras. A comercialização de transgênicos também é uma ameaça ao sistema de agricultura familiar, que funciona muito bem sem o uso dessas tecnologias, porém, não visa ao lucro desenfreado”.