Jaraguá do Sul registrou 68 novos casos de HIV neste ano

Por: OCP News Jaraguá do Sul

01/12/2016 - 06:12 - Atualizada em: 16/04/2018 - 11:03

O mês de dezembro inicia hoje com um alerta à população no Dia Mundial de Luta Contra a Aids. Até o mês de novembro, Jaraguá do Sul detectou 68 novos casos da doença que continua representando um grave problema de saúde pública, com cerca de 35 milhões de pessoas convivendo com o vírus HIV no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Nacionalmente, Santa Catarina possui a terceira maior taxa de incidência do país – 32,5 novos casos por 100 mil habitantes, segundo o Ministério da Saúde.

No ano passado o município registrou 82 casos e em 2014, somente 28. “Atualmente, vivemos uma epidemia estabilizada em altos índices, os números não sobem, porém se mantém próximos aos 100 por ano”, explica a gerente de Vigilância Epidemiológica, Fabiana da Silva Ananias. Os índices de 2016, conforme ela, devem crescer neste último mês devido a intensificação dos testes rápidos que ocorrem durante a campanha. “Em 2014 eram poucos casos novos porque ainda não disponibilizávamos os testes rápidos, então eles não eram notificados tão facilmente”, avalia.

Cerca de 57% dos 68 pacientes chegaram à Vigilância como portadores saudáveis do vírus, sendo 3% a mais do que no ano passado. Para Fabiane, o fato é resultante dos testes acessíveis, rápidos e gratuitos que o município propõe. “No ano de 2014 foram apenas 42%, os outros já estavam em um estado avançado da doença. Nosso objetivo é identificar os portadores o mais cedo possível para evitar que o vírus se manifeste no organismo baixando a imunidade e podendo causar graves doenças, como hepatites virais, pneumonia e cânceres”, comenta.

Foto: Divulgação

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O incentivo ao diagnóstico e ao início precoce do tratamento, antes mesmo do surgimento dos primeiros sintomas da doença, refletiram-se na redução da mortalidade e da morbidade pelo HIV. Desde 2003, houve uma queda de 10,9% na mortalidade dos pacientes com Aids no país. Em 2014, foram registradas 12.449 mortes.

Até agora, foram realizados aproximadamente 11 mil testes para HIV em Jaraguá, sendo mais de cinco mil por demanda espontânea e o restante por prescrição médica. “A população está mais aberta ao assunto. O tema é constantemente tratado nas unidades de saúde e sempre ressaltamos a oferta dos exames. Mas muitas pessoas ainda acham que por a cidade ser desenvolvida, não existam casos de Aids aqui”, conta Fabiana.

Os testes rápidos ganharam ainda mais enfoque das mobilizações da Saúde por causa do baixo uso de preservativos nas relações sexuais. “As pessoas realmente não se protegem, então precisamos adotar outras medidas para controlar a doença”, destaca. Nos primeiros anos de epidemia da Aids, Fabiana lembra que o tratamento chegava a 18 comprimidos diários, hoje, fica em torno de um, com três medicamentos em sua composição.

Com o diagnóstico precoce, é possível que os pacientes mantenham uma vida saudável. Já os que registraram complicações pelo vírus, podem recuperar a imunidade e voltar a ter qualidade de vida através do tratamento. A gerente de Vigilância salienta que mesmo a Aids sendo uma doença crônica, a sociedade ainda trata com preconceito os portadores. “Ouvimos os relatos deles, alguns chegaram a ser demitidos de seu emprego quando a informação se espalhou pela empresa, passando por humilhações e precisando enfrentar piadas de mau gosto”, revela.

A vida após o resultado positivo

Assim como a história de muitos portadores do vírus HIV, a contaminação de uma paciente jaraguaense, que preferiu não se identificar, aconteceu após um romance passageiro com um homem que já era portador e não revelou o fato. Foram cerca de dez meses de relacionamento. Após quatro meses da separação, o ex-namorado morreu em um acidente de trânsito.

Depois disso, em uma conversa com um amigo do parceiro, a jaraguaense descobriu que ele tinha Aids. “Levei um choque, confiava nele plenamente e não queria acreditar. No outro dia já fui fazer o teste e infelizmente deu positivo. Contei para minha mãe, meu irmão e minha cunhada e tive todo o apoio necessário. Eu sofri e ainda sofro muito, mesmo com o vírus não se manifestando em meu organismo até agora”, revela.

A paciente na época tinha 20 anos e não precisou fazer uso dos coquetéis de remédios imediatamente. Em 2016, já com 29 anos, ela tomou os primeiros comprimidos. “Depois de dois meses a carga viral ficou indetectável novamente, e assim estou conseguindo mantê-la, levando uma vida normal”, explica.

No ano passado, a paciente teve seu primeiro namorado após a descoberta. “Já o conhecia há quatro anos e éramos amigos, mas não tinha coragem de falar. Quando decidi, não sabia como fazer, tive muito medo de ele não me aceitar, foi o momento mais difícil da minha vida. Mesmo surpreso, ele compreendeu e continuamos juntos. Nós nos amamos muito e planejamos casar no ano que vem. Ter filhos também está entre os nossos sonhos”, comenta.

Teste ajuda a combater o vírus

Dos 68 casos confirmados em Jaraguá do Sul este ano, mais de 50% concentram-se entre os 16 e 39 anos. São 41 do sexo masculino, sendo 21 homossexuais. Atualmente, existem 853 casos acompanhados pela Secretaria de Saúde. Com o avanço dos números, a gerente de Vigilância Epidemiológica, Fabiane da Silva Ananias, orienta quem transou sem camisinha a procurar uma unidade de saúde o quanto antes para esclarecer dúvidas e fazer o teste.

Em até 72 horas, a pessoa pode iniciar a Profilaxia Pós-Exposição (PEP), que é o uso de medicamento antirretroviral para diminuir a chance de infecção pelo HIV. A PEP deve ser iniciada o quanto antes após a situação de risco, pois a eficácia diminui à medida que as horas passam. “Para evitar as chances de contaminação, é necessário conversar com o parceiro sobre o assunto, falar para ambos fazerem o teste. Não é porque ele ou ela tem uma aparência sadia e existe confiança que a pessoa não tem o vírus”, alerta.

Até o dia 15 de dezembro, todas as unidades de saúde estarão fornecendo os testes gratuitos e trabalhando a prevenção e estímulo à detecção precoce.