Ex-aluna da EJA de 56 anos se forma no Ensino Médio

Por: OCP News Florianópolis

28/09/2022 - 09:09 - Atualizada em: 28/09/2022 - 09:59

Circulando pelas ruas do Estreito, Maria Luisa Bueno Scardanzan entrou na Biblioteca Municipal Professor Barreiros Filho. Estava em busca de informações de como concluir o Ensino Fundamental. Disseram que estava no lugar certo, que ali mesmo ela conseguiria continuar os estudos, que funcionava no local a EJA, Educação de Jovens, Adultos e Idosos da Prefeitura de Florianópolis. Foi assim que Maria Luisa voltou à escola, após décadas distante dos estudos.

Finalizou o curso da EJA na Escola Básica Almirante Carvalhal, em Coqueiros, uma vez que a biblioteca começou a passar por reformas. Isso ocorreu em 2018, um ano depois dela e a família terem chegado à Capital oriundos de Capinzal, Meio-Oeste de Santa Catarina.

Em paralelo ao Ensino Fundamental, Maria Luisa fez o curso de auxiliar de panificação pelo Instituto Federal de Santa Catarina, o IFSC, numa parceria que há entre a instituição e a Secretaria Municipal de Educação que possibilita a formação profissional dos estudantes. “Não quis perder mais tempo na vida. Toda hora é hora de a gente se instruir”, lembra a mulher que completa 57 anos na quarta-feira, dia 28 de setembro.

Moradora do Estreito, Maria Luisa acorda às 4h30 da manhã. Pega três ônibus até chegar ao trabalho, sendo o primeiro às 5h45. Trabalha em Ratones, Norte da Ilha, onde chega no Restaurante Bambu por volta das 6h50. Descansa um pouco e assume o posto de auxiliar de cozinha das 7h30 às 17 horas.

UMA LÁGRIMA QUE TEIMAVA ROLAR DOS OLHOS

Na última sexta-feira (23), Maria Luiza pediu folga. Queria se preparar para um momento único em sua vida. Naquela noite, houve a formatura no Ensino Médio e no curso de técnico de cozinha pelo IFSC.

Estavam presentes o marido Armando Elói e os filhos Abner (20 anos) e Amanda e Asiel, gêmeos de 17 anos. Oscar, amigo de adolescência de Mafra, no Planalto Norte, fez questão de estar na cerimônia para abraçar e aplaudir Maria Luisa.

Representando a Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis, compareceram a gerente Pedagógica da EJA, Sônia Carvalho, a coordenadora-geral da EJA, Tamelusa Ceccato, e os ex-coordenadores da EJA Continente I e II, respectivamente, Humberto Lima e Diego Pacheco.

A cerimônia ocorreu no campus do IFSC de Coqueiros. Maria Luisa formou-se com mais sete colegas. Estava de vestido rosa-claro com estampa poá, sapato de salto alto prata, e graças ao carinho da amiga cabeleireira Elza, recebeu um tratamento especial: cabelos escovados e uma leve maquiagem.

ATRAVESSANDO A MADRUGADA

Maria Luisa diz que valeu o sacrifício de, após o trabalho, ir três dias da semana para o IFSC, do Centro, e duas vezes por semana para o Instituto em Coqueiros. Voltava para casa por volta das 23h, quando somente então jantava e colocava em dia os afazeres domésticos, como lavar a roupa da família.

Repousar o corpo e a mente só a partir de meia-noite e meia. Se houvesse prova no dia seguinte, porém, arranjava forças para estudar até 3 horas da madrugada. Mas, às 4h30, o relógio despertava. O dia recomeçava para Maria Luisa. “Nunca faltei às aulas, nunca faltei ao trabalho”, frisa, com orgulho.

“Quando chamaram o meu nome, para receber o diploma, eu senti uma grande emoção. Estava alegre. Tinha chegado aquele momento que tanto esperei, depois de tanto tempo estudando e me dedicando”.

ELA QUER MAIS

Cheia de garra, atualmente frequenta aos sábados, das 8 às 17 horas, um curso de técnico de enfermagem. A pergunta é óbvia. Qual a relação entre os cursos de panificação, de cozinha e de enfermagem? Primeiro trecho da resposta dela.

“Adoro cozinhar, inventar receitas, me sinto muito bem fazendo isso”. E sobre enfermagem? “Gosto de cuidar de gente, dar carinho, acolher. Acho que essa também é uma das minhas missões”.

E tudo teve início pela Educação de Jovens, Adultos e Idosos. Para essa Maria Luisa, a EJA significa uma porta para a oportunidade. “Não desisti, insisti, fui em frente. Agradeço aos professores e professoras, à coordenação da EJA por acreditarem em mim, de que eu era capaz, mesmo com idade avançada, de retomar meus estudos”.

Maria Luisa relata que está escrevendo um livro sobre a vida dela. A pobreza em Mafra será um dos pontos abordados. Largou os estudos depois do primário para trabalhar de empregada doméstica para ajudar no sustento da família. Falará também de superação, de que o dia a dia das pessoas é feito de desafios. Que dá medo, que dá um frio na barriga, mas que vale a pena ir atrás de sonhos.

EJA PARA TODOS OS LADOS

A Educação de Jovens, Adultos e Idosos – EJA dá oportunidade às pessoas que querem se alfabetizar e concluir o Ensino Fundamental. É possível se matricular nessa modalidade de ensino em qualquer período do ano. A idade mínima para o ingresso é de 15 anos.

Para mais informações, é só entrar em contato com o Departamento da Educação de Jovens, Adultos e Idosos pelos telefones: (48) 3212-6102 e (48) 3212-0925. Dá para acessar também o site da Prefeitura de Florianópolis para conferir onde há EJA no município de Florianópolis.