Esgoto pode indicar percentual de contaminados pela covid-19, aponta estudo

Foto Agência Brasil

Por: Elissandro Sutil

22/05/2020 - 19:05 - Atualizada em: 22/05/2020 - 19:58

Procedimento eficiente para a identificação de doenças infectocontagiosas, o exame de fezes, quando feito em larga escala – via monitoramento de redes de esgoto – pode ser uma forma eficaz de identificar o percentual de indivíduos contaminados pelo novo coronavírus em uma região.

Entre as vantagens dessa técnica está a de abranger tanto pessoas que apresentam como que não apresentam os sintomas da doença (assintomáticas).

O monitoramento de esgotos como ferramenta de vigilância epidemiológica não é uma novidade.

Em meados dos anos 1850, o inglês John Snow usou dessa ferramenta para entender a ocorrência da cólera e identificar as residências de pessoas que morreram por conta da doença no bairro do Soho, em Londres.

Projeto-piloto

Diante da expectativa dessa ferramenta poder ser aplicada também para acompanhar a situação da atual pandemia no país, o projeto-piloto Monitoramento Covid Esgotos está sendo implementado nos sistemas de esgoto de Belo Horizonte e Contagem, ambos de Minas Gerais.

Ao fazer esse tipo de monitoramento, são gerados dados que poderão ajudar os gestores na tomada de decisões inclusive sobre medidas como a de isolamento social.

A iniciativa, que terá duração inicial de dez meses, conta com a participação da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Estações Sustentáveis de Tratamento de Esgoto (INCT ETEs Sustentáveis), entidade vinculada à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Segundo o coordenador do INCT ETEs Sustentáveis e professor da UFMG, Carlos Chernicharo, a testagem do esgoto possibilita o diagnóstico do conjunto de indivíduos de uma comunidade.

“Assim sendo, o esgoto passa a ser a amostra de fezes e de urina que representa o conjunto da população”, explicou o professor, nesta sexta (22), durante uma videoconferência promovido pela ANA.

“O que fazemos é novo apenas do ponto de vista de identificar a covid-19”, disse o professor.

Os pesquisadores buscam, por meio desse projeto, identificar “tendências e alterações” na ocorrência da covid-19 nas diferentes regiões analisadas, para entender a prevalência e a dinâmica de sua circulação.

Boletim

De acordo com o primeiro boletim da semana inicial dos trabalhos de campo do Monitoramento Covid Esgotos, a presença do novo coronavírus foi detectada em oito entre 26 amostras (31%). As coletas foram realizadas nas sub-bacias do Ribeirão Arrudas e do Ribeirão do Onça.

O objetivo da pesquisa é o de mapear esgotos para indicar áreas com maior incidência da transmissão, de forma a subsidiar a adoção ou não de medidas, tendo por base a ciência.

Além disso, possibilita avisos precoces dos riscos de aumento de incidência do novo coronavírus de forma regionalizada, para melhor embasar a tomada de decisão dos gestores públicos.

Na apresentação online, Chernicharo destacou que, com base no monitoramento do esgoto, “em teoria, um indivíduo contaminado pode ser identificado dentro de uma população de 100 a até 2 milhões de habitantes”.

Segundo o pesquisador, a implementação dessa ferramenta depende da disponibilidade de fatores como uma adequada infraestrutura laboratorial; o mapa da malha urbana de esgotos; a definição de pontos de amostragem; a coleta, preservação e transporte das amostras de esgoto; e o recebimento e processamento das amostras em laboratório.

Uma nota técnica produzida pela equipe, na qual esses fatores são detalhados, será disponibilizada a quem tiver interesse em conhecer o projeto-piloto.

Superintendente de Planejamento da ANA, Sérgio Morais, explicou que a primeira detecção do novo coronavírus em fezes ocorreu em 31 de janeiro nos Estados Unidos. Em março, um outro estudo, este na Holanda, detectou a covid-19 no esgoto.

As coletas nos dois municípios mineiros que servirão de base para o projeto-piloto tiveram início no dia 13 de abril. “Nossa ideia é gerar uma metodologia, a partir desse projeto”, disse.

De acordo com o superintendente, a realidade brasileira apresenta limitações com relação à aplicação dessa ferramenta em alguns municípios, uma vez que 45% da população não dispõem de esgoto, e que 70% das cidades não possuem estações de tratamento de esgoto.

 

 

Com informações da Agência Brasil

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