“Escola fez bem em absorver o problema”, diz psicóloga sobre caso da professora que tomou água de privada

Por: Claudio Costa

13/09/2017 - 18:09 - Atualizada em: 14/09/2017 - 10:43

O caso envolvendo quatro alunas com idades entre dez e 11 anos da Escola Municipal de Ensino Básico Padre Alberto Jacobs, no bairro Tifa Monos, em Jaraguá do Sul, no Norte catarinense, teve repercussão nacional e tem gerado longos debates nas redes sociais sobre as responsabilidades de pais e educadores. Travessura? Ato infracional? Crime? Afinal, o que houve e como tratar com os estudantes diante de uma situação dessas. Segundo os registros, as meninas manipularam a água de uma professora da unidade por pelo menos três vezes no mês de agosto, adicionando remédios e água da privada.

Ao contrário de muitos comentários publicados nas redes sociais, em que os internautas incentivavam atitudes mais severas, a psicóloga Fabiana Riegel da Silva acha que a direção da unidade tomou a decisão certa ao aplicar medida suspensiva de dois dias às alunas e chamar as famílias para que tivessem ciência do caso.

“Eu acredito que a escola e a Secretaria de Educação tomaram a atitude correta. Como punição, eles deram suspensão de dois dias para as meninas e acompanhamento psicológico para a família. Eu acho que é isso que elas precisam”, explica Fabiana, ao afirmar que um dia passa mais devagar para uma criança do que para um adulto.

A profissional também relata que a escola fez bem em “absorver” o problema. Segundo Fabiana, uma eventual expulsão das alunas envolvidas poderia apenas jogar o problema para outra unidade e não resolveria a questão. “A punição mostrou para os outros alunos que nada foi de graça. O ato delas teve uma consequência. Elas também têm que absorver e é preciso ver o que está faltando entre os professores e os alunos. Uma conversa, por exemplo. Também é preciso ver se há algum problema naquela sala. Garanto que surgiram outras ‘travessuras’ que não repercutiram tanto”, aponta.

“Eu acho que é o pior castigo que elas
poderiam ter e isso, por si só, vai fazer com que
tenham consciência de que não é legal fazer isso.”

Fabiana Riegel da Silva, psicóloga

O fato das crianças quererem dopar a professora – as meninas teriam dito que a intenção era que ela dormisse e não desse aula – é algo que deve despertar preocupação dos pais. Mas a psicóloga acredita que o maior castigo já foi dado para as alunas: a representação social. “Isso saiu na mídia toda. Não saiu o nome delas (nem da professora, que prefere preservar-se), mas todos sabem que foram elas na escola onde elas estudam, na comunidade onde estão inseridas, na própria família. Eu acho que é o pior castigo que elas poderiam ter e isso, por si só, vai fazer com que tenham consciência de que não é legal fazer isso”, pondera.

Fabiana acredita as meninas agiram em grupo, porque sozinhas não teriam coragem de cometer os atos. A psicóloga afirma que a criança que revelou o ocorrido para a professora, possivelmente, era “a mais coagida” a realizar as ações contra a professora. “É um sinal de arrependimento. Eu acredito que elas não queriam fazer uma maldade com a professora. Elas queriam fazer uma brincadeira”, revela.

A psicóloga entende que o fato precisa ser analisado como um todo, pois pode ser reflexo de outros comportamentos. “Qual é o tipo de relacionamento que essas crianças têm com figuras de autoridade para elas terem como alvo um professor? Elas estão inseridas dentro de uma sala de aula com outros colegas. Já tive um caso em que uma criança era mais quietinha e, para entrar no grupo, alguém desafiou ela a fazer alguma coisa”, destaca Fabiana, ao reiterar que a sua fala é baseada numa hipótese. “A gente não sabe o que realmente aconteceu”, completa.

Geralmente, os problemas de comportamento apresentados pelas crianças na escola estão relacionados com o convívio familiar. “A criança é um sintoma do que está acontecendo. O que elas fizeram é um pedido de socorro. Quando a criança faz uma travessura como essa, quando elas se tornam muito agressivas ou decaem na escola, elas estão pedindo ajuda inconscientemente”, analisa a psicóloga, ao ressaltar que as garotas precisam de atenção e carinho para identificar o que realmente está acontecendo.

Continuando o raciocínio de que o que acontece no âmbito familiar reflete no comportamento das crianças, a psicóloga explica que até o fato de as alunas terem utilizados remédios trazidos de casa mostram que o problema pode estar fora da escola. “Onde elas tiveram acesso a esses remédios? O Omeprazol (um dos usados pelas alunas, o outro seria codeína) é um remédio para o estômago. 95% dos casos de dores de estômago são causados por estresse. Então, essa criança teve acesso ao remédio em casa. Isso pode ser um sinal de que algo que está acontecendo nessa família está influenciando no comportamento dessa criança”, analisa.

A professora foi dispensada de repor aulas na sexta-feira e no sábado, mas já retomou às atividades.

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