Equipe de saúde supera barreira do idioma para ajudar haitiana grávida em Guaramirim

Mesmo em uma rotina intensa, o olhar atento dos profissionais da rede de saúde pública à necessidade de cada pessoa pode fazer toda a diferença.

E esse foco no acolhimento dentro das unidades de saúde em Guaramirim, onde o paciente não sai da unidade sem obter resposta, possibilitou à haitiana Chismonde, 35 anos, acesso a um tratamento adequado.

Chismonde está com uma gestação de seis meses e meio e faz o acompanhamento pré-natal no posto da Vila Amizade.

Morando há pouco mais de um ano em Guaramirim junto ao marido, a haitiana não fala ou entende o idioma brasileiro, o que dificulta sua comunicação com os profissionais da unidade.

A enfermeira do ESF Vila Amizade, Fairuza Loch, revela que numa das consultas a haitiana foi diagnosticada com infecção urinária e anemia. Chismonde foi medicada, mas retornou à unidade de saúde com a situação ainda pior.

Chismonde faz o acompanhamento pré-natal no posto da Vila Amizade | Foto Eduardo Montecino/OCP News

Chismonde faz o acompanhamento pré-natal no posto da Vila Amizade | Foto Eduardo Montecino/OCP News

Durante o atendimento conjunto entre médico e enfermeira, os profissionais perceberam que ela não estava seguindo o tratamento. Foi então que surgiu uma nova demanda: ajudar a haitiana a entender a importância de tomar os remédios corretamente.

A equipe decidiu procurar um tradutor de francês na internet, já que a paciente entende um pouco do idioma, no qual o crioulo, língua oficial do Haiti, se baseia.

“Ela conseguiu identificar para nós os dias da semana e horários. Então, escrevemos em francês e separamos as medicações de acordo com o horário que ela precisa tomar, tanto o antibiótico para infecção urinária, quanto o sulfato ferroso do tratamento da anemia”, explica a profissional.

Demanda atendida

A enfermeira reconhece que, cada vez mais, haverá necessidade de atender a demanda de haitianos, venezuelanos e outros imigrantes que venham se estabelecer na cidade.

E que a língua se converte numa barreira a ser atravessada, pois há dificuldade em passar as orientações e colher informações que auxiliem na análise clínica dos pacientes.

Segundo Fairuza, esse trabalho foi construído com o auxílio de todos os profissionais da equipe e, agora, a paciente está retornando ao posto para acompanhamento em período menor do que o programado inicialmente.

Unidade de saúde reconhece a necessidade de adaptações para atender imigrantes | Foto Eduardo Montecino/OCP News

Unidade de saúde reconhece a necessidade de adaptações para atender imigrantes | Foto Eduardo Montecino/OCP News

“Isso só acontece porque a nossa equipe está trabalhando no mesmo fluxo, que é o acolhimento, a humanização. Na última consulta, confirmamos que o tratamento da paciente está dando resultado positivo e ela já está melhor”, ressalta.

Agora, a recepcionista da unidade, Franciane Meira, está fazendo um curso para aprender a se comunicar em crioulo por iniciativa própria. Ela conta que o marido conseguiu baixar da internet uma cartilha usada pelos haitianos para aprender português.

“Estou conseguindo dizer algumas frases básicas, mas não é uma língua fácil”, salienta.

Como funciona o acolhimento?

O caso de Chismonde prova de que mesmo buscando atender ao todo, é fundamental que profissionais do SUS (Sistema Único de Saúde) vejam a particularidade de cada situação.

O acolhimento nas unidades de saúde é realizado por enfermeiros que, utilizando protocolos técnicos e escuta qualificada, identificam pacientes que necessitam tratamento imediato e providenciam de forma ágil o atendimento adequado, considerando o potencial de risco, o agravo à saúde e o grau de sofrimento.

O objetivo é priorizar a classificação de risco e não mais pela ordem de chegada e evitar filas. Além disso, evita que os casos graves fiquem em filas de espera, aumentando o risco do paciente, e otimiza a marcação de consultas agendadas.

“O paciente não sai mais sem atendimento, de acordo com a sua necessidade. Hoje, o atendimento ficou muito mais humanizado. A gente não tem mais fila”, ressalta Fairuza.

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