O amor e dedicação são visíveis no olhar da diarista Maria Teresa de Oliveira, 46 anos, ao relembrar o momento em que acolheu cada um dos seus 162 cachorros. São histórias que carregam um início de abandono e doenças, mas se encaminham para um final feliz depois dos cuidados Maria.
Há seis anos, a diarista começou a adotar animais que avistava, incentivada pelo falecido marido e pela filha que se sensibilizavam com a situação dos cães de rua. A primeira, como lembra emocionada, foi uma cadela com a doença de cinomose. Quando foi encontrada, ela havia acabado ter os filhotes, que estavam mortos ao seu redor. Preocupada, Maria foi atrás de veterinários para salvar o animal. “Ela ainda tem sequelas, mas sobreviveu. Junto a isso, tive um sonho onde um cachorro me pedia ajuda”, conta.
Logo após o primeiro recolhimento, a diarista resolveu mudar-se do Centro para o bairro Três Rios do Norte, onde comprou um germinado. A partir daí a conhecida frase “em coração de mãe sempre cabe mais um” passou a nortear a vida da protetora. “Eu não imaginava que havia tantos cachorros abandonados em Jaraguá. Neste ano, chegamos a encontrar 18 cães somente em um mês. Muitas pessoas sabem do meu amor por eles e entregam na porta de casa porque não querem mais cuidar, outros estão sozinhos nos matagais pela cidade”, relata.
Com dedicação extrema, Maria recorda de cada uma das adoções
No germinado, Maria alcançou a capacidade máxima dos poucos metros quadrados. São 19 cães divididos entre a sua casa e a da filha. Somado ao fato dos vizinhos estarem incomodados pelo barulho dos latidos, ela alugou um espaço na chácara da florista Nelcinda Lorenzi, próxima da divisa com o município de Corupá. O local abriga atualmente 143 cachorros. “Eles (os vizinhos) continuam me cobrando muito, falam para eu me mudar, dizem que não posso ter tantos animais dentro de casa. Já chamaram a polícia e chegaram a envenenar dois cães meus. Por isso, minha intenção agora é vender a casa e investir em um lugar mais afastado, onde eu possa cuidar de todos”, revela.
Cuidados geram despesas
Para conseguir alugar o espaço na chácara, Maria fez um empréstimo de R$ 15 mil. Parte do valor foi destinado para o pagamento de dívidas que somavam R$ 8 mil, acumuladas com veterinários em virtude das castrações, vacinações e tratamentos de seus bichos. O restante ela utilizou para construir canis no lugar. A diarista, que ganha um salário mínimo mais R$ 1,2 mil de pensão do falecido marido, precisa pagar R$ 570 por mês ao banco.
Além do aluguel, os gastos mensais com os animais ultrapassam os R$ 1 mil. “A Nelcinda ajuda com alguns recursos e assim vou conseguindo equilibrar as contas. Ela também é a responsável por fazer a comida deles diariamente e observá-los”, frisa. Para a alimentação são comprados arroz e carnes. As visitas na chácara de Necilda são diárias, mesmo com os animais contando com a florista, que divide a rotina entre as plantas ornamentais e os bichos. A dedicação é tanta que há seis anos Maria não viaja para conseguir manter os cuidados.
A diarista sabe que não pode adotar outros cães por não ter condições para sustentar todos, mas destaca que o amor que cultiva pelos bichos é incondicional. “Eu sou muito criticada, mas consigo mantê-los bem alimentados e sadios, tudo o que faço dedico a eles”, diz. Mesmo com uma situação financeira complicada, ela solicita ajuda com mantimentos, cobertores e colchões para a população, além de colocá-los para adoção de famílias que estejam interessadas. O contato pode ser feito no Pet Shop Bichos e Mimos, pelo telefone 3017-6688.
Outro apelo é para que as pessoas mantenham os cuidados com seus animais. Necilda, que antes de alugar o espaço para Maria tinha apenas cinco cachorros, reforça o discurso. “Pedimos que as pessoas não abandonem mais seus animais, eles estão bem aqui, mas sentem falta da vida de antes também”, analisa.