Descendentes de ucranianos da região de Jaraguá do Sul prestam solidariedade à Ucrânia

Foto: Arquivo Pessoal

Por: Áurea Arendartchuk

05/03/2022 - 07:03

Desde a invasão da Rússia à Ucrânia no dia 24 de fevereiro, todos acompanham apreensivos e aterrorizados a situação naquela região do mundo, principalmente quem tem uma ligação, mesmo que seja de longe, com os ucranianos.

Para quem pensa que na região de Jaraguá do Sul existem apenas descendentes de alemães, húngaros, italianos e africanos, engana-se. Aqui também há descendentes de ucranianos que há mais de uma década fortalecem seus laços e valorizam a cultura repassada por seus antepassados, que também um dia chegaram em solo brasileiro foragidos de outra guerra, de outros conflitos, da fome e da miséria.

Este é caso da professora e palestrante Margareth Schafranski, de 44 anos. Margareth é natural de Prudentópolis, no Paraná, cidade considerada a “Ucrânia brasileira”, onde 70% dos habitantes são descendentes de ucranianos. A professora mora na região de Jaraguá do Sul há 28 anos e aqui, junto com outros descendentes de ucranianos, mantém os laços e as tradições da terra de seus avós e bisavós, a Ucrânia.

A cidade da região de Jaraguá que mais tem descendentes de ucranianos é Guaramirim. Lá, Margareth ajudou a fundar a comunidade ucraniana que conta com cerca de 50 famílias. E o estreitamento do contato entre estas famílias e a cultura ucraniana é a igreja.

Há mais de uma década, o padre Arcenio Krefer, da comunidade ucraniana de Mafra, soube dos descendentes de ucranianos em Guaramirim e iniciou a organização de uma comunidade católica na região. Atualmente, a comunidade se reúne na Igreja Nossa Senhora de Fátima, na Figueirinha, onde acontecem missas e celebrações duas vezes por mês.

Ao falar do conflito que atinge de forma dura a Ucrânia, Margareth se diz preocupada e entristecida.

“É de apertar o coração. Nestas últimas noites, eu cheguei a acordar como se estivesse vivendo essa realidade da guerra. Primeiro porque eu tenho acompanhado muito o conflito lá e depois porque me coloco no lugar dos ucranianos. É como se eu estivesse lá, sentindo tudo isso. É dilacerador. Uma coisa é quando você olha a realidade daquelas pessoas e outra é quando você esteve lá e teve um contato com elas”, lembra.

Esse sentimento de Margareth se deve ao fato dela ter tido a oportunidade de conhecer a Ucrânia. Em 2017 ela viajou ao país junto com um grupo de descendentes de ucranianos e conheceu de perto lugares e cidades que hoje foram ou estão sendo invadidas pelos russos.

Margareth durante viagem à Ucrânia em 2017 | Foto: Arquivo Pessoal

“Quando estive lá, tive um sentimento de pertencimento muito grande. Me identifiquei muito com as pessoas de lá e sua cultura. Também visitei lugares como uma igreja, por exemplo, que ainda tem as marcas de outras guerra e conflitos naquele país. Também vi e ouvi relatos de pessoas que sofreram muito com outras invasões e conflitos que a Ucrânia sofreu ao longo de sua história. Por isso tudo mexe muito comigo”, comenta.

A professora discorda de pessoas que falam que essa não é uma guerra e sim um conflito político. “Onde há derramamento de sangue, há uma guerra. E isso é de um sofrimento e dor tão grande que nos afeta aqui no Brasil, também como descendentes. Acompanho de longe a dor deste do povo ucraniano que está tendo de deixar suas casas, seus bens, sua vida num país que desde 1991 vinha se reerguendo e agora vem mais uma guerra. Este é um sofrimento sem conceito para explicar”, lamenta.

Mobilização

Assim como tantos outros países, aqui no Brasil e nas regiões onde também tem descendentes há uma mobilização para ajudar de alguma forma os ucranianos. Já chegam a mais de 1 milhão de refugiados da guerra em pouco mais de uma semana e a ajuda humanitária para quem fica e quem sai é urgente e extremamente necessária.

Segundo Margareth, ela tem mantido contato com parentes de sua terra natal (Prudentópolis) e de Curitiba para se envolver em ações humanitárias.

“O povo ucraniano (os de lá e descendentes) é muito acolhedor. E nós aqui faremos de tudo para ajudar os ucranianos no que for possível. Com certeza a comunidade ucraniana tanto daqui quanto do Paraná, vai abrir as portas para acolher quem precisar. Estamos ajudando inclusive pelas redes sociais”, comenta.

Ela relata que a comunidade de Curitiba está mobilizada para oferecer ajuda humanitária para a Ucrânia com o envio de medicamentos de grandes laboratórios do Brasil.

Como ajudar vítimas da guerra

A Associação dos Ucranianos de Santa Catarina, em Mafra, no Planalto Norte, está pedindo doações para auxílio à Ucrânia, em meio ao conflito com a Rússia. As doações estão sendo solicitadas em conjunto com a Representação Central Ucraniano-Brasileira (RCUB), e podem ser feitas via Pix, para o CNPJ 78.774.668.0001-83, ou via transferência bancária, para os dados abaixo:

Banco: 104

Agência 1628

Operação 013

Conta 00010493-0

Os valores depositados devem contar com centavos; uma doação de R$ 100, por exemplo, deve ser feita em R$ 100,01, e assim em diante.

A invasão da Ucrânia pela Rússia causou mais de 1 milhão de refugiados na primeira semana do conflito, informou o alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), Filippo Grandi.

O comissário vai avaliar a situação dos refugiados numa visita à Romênia, Moldávia e Polônia, três dos países que estão acolhendo os refugiados, para assegurar o apoio dos governos ao Acnur, adiantou. Mais de metade dos refugiados já chegaram à Polônia e alguns milhares a outros países, como a República Tcheca, onde existe grande comunidade ucraniana.