A chegada do Covid-19 ao Brasil mudou em poucos dias a rotina, exigindo adaptação para evitar a proliferação do vírus. Trabalho remoto, cuidados na higiene, redução no convívio social e na circulação nas ruas. Atitudes práticas e cuidados que deverão acompanhar toda a população.
Na casa de Daniely Spezia, 35 anos, todo mundo precisou se encaixar à realidade atual. Rotina de exercícios, horários para cada atividade e muita, muita atenção com higiene.
Ela, o marido Roberto, 36 anos, e a filha Sofia, 8 anos, estão em isolamento social desde a semana passada, acreditando na importância de reduzir as chances de contágio.
Segundo Daniely, muitos comportamentos serão transformados a partir dessa experiência.
“Foi muito bom porque na correria do dia a dia eu fiquei mais em casa, realmente com a minha família. A gente buscou brincadeiras, atividades, a própria refeição em família. Eu levo a lição disso que é dar valor a estar em casa”, conta.
Acostumada ao trabalho, a se dedicar a ações voluntárias, Daniely afirma que foi desafiador frear o ritmo, mas isso também levou a reduzir movimentações desnecessárias, rever a dinâmica da rotina e tomar atitudes simples.
As compras passaram a ser feitas uma vez por semana, com um ritual de higienização das sacolas e embalagens com álcool e um banho no retorno do supermercado, por exemplo. Algo que, segundo ela, deveria ser um cuidado permanente.
“A gente percebe como leva sujeira para dentro de casa, porque antes já tinham outros vírus que já existiam”, reflete.
Solidariedade em alta
Para Daniely, o pensamento coletivo também começou a falar mais alto com as ações de combate ao coronavírus.
As pessoas passaram a pensar no que poderiam fazer para se ajudar – no caso dela, foi se oferecer para fazer compras para a vizinha idosa, mas teve uma amiga usou tecido e elásticos que tinha em casa para costurar máscara para idosos, e várias ações isoladas de solidariedade.
“Cada um não pode pensar só no seu umbigo, e são coisas simples”, comenta.
Para a psicóloga Belisa Araújo, como essa pandemia afeta principalmente as pessoas com problemas de saúde ou em condições socioeconômicas mais vulneráveis, fica claro o quanto é importante considerar o outro.
“Todos nós, portanto, precisamos exercitar a empatia e o cuidado, não só com os entes queridos, mas considerar toda comunidade. E viver em comunidade significa que dependemos uns dos outros, buscando meios de cooperar de forma solidária e criativa, para encontrar soluções aos desafios”, reflete.
Belisa acredita que é um momento de revisar essa cultura da individualidade, fortalecendo a capacidade de cooperação e de real vivência comunitária.
“Uma das lições que podemos tirar dessa situação é que somos todos capazes de apoiar, oferecer o que temos, seja suporte material/ financeiro, ou apoio emocional como oferecer escuta e ajudar o outro a acolher os seus sentimentos nesse momento”, complementa.
Período de adaptação
O escritor e psicoterapeuta Eduardo Carvalho reflete que essa situação é inédita para a população brasileira, enquanto Europa e outros países têm memória dos confinamentos em períodos de guerra.
“A humanidade nunca passou por isso de forma tão interconectada, nem nas pestes. Nós estamos sabendo o que está acontecendo em todo mundo, é o primeiro grande acontecimento que afeta a humanidade como um todo. É uma situação que está nos colocando no mesmo barco”, pontua.
E a imprevisibilidade quanto ao futuro e noção da fragilidade da vida humana, afirma, são pontos que têm mexido com a mente, mas que em essência fazem parte do dia a dia de todas as pessoas durante toda a existência.
“Isso vai impactar a nossa vida não só hoje, mas a partir de tudo isso”, comenta Carvalho que sugere nesse momento a adoção de atitudes positivas para navegar neste período.
Pensamentos positivos
A primeira é não divagar e evitar criar um caos interno “que acabamos projetando externamente”, diz o terapeuta.
“Contenha os pensamentos negativos, a mente sempre trás o pior cenário possível. Podemos escolher uma maneira de lidar com isso, seja como pessoa e como comunidade”, destaca.
Conexão familiar
A nível familiar, Carvalho aponta que é momento de “atualizar o sistema” e olhar e valorizar de verdade as pessoas que estamos convivendo diariamente.
“Somos uma sociedade que só deseja o que não tem. Sente falta de amigos, ambiente de trabalho, de parar na rua e tomar café, uma liberdade que não damos valor enquanto estamos vivendo”, declara, ressaltando que o momento de quarentena pode ser aproveitado produtivamente para tirar ideias do armário, exercitar hobbies.
Cuidar do futuro
Outro ponto que pode ser observado é a importância de manter um equilíbrio entre consumir e poupar, já que o momento mostra a necessidade de ter reservas financeiras para situações adversas.
“Como mostra Darwin, aquele que sobrevive não é mais forte, ou mais inteligente, é quem se adapta melhor. Todo mundo está sendo convidado a se adaptar”, completa.
8 mudanças na rotina para adotar agora
- Medidas básicas de higiene, como lavar bem as mãos (dedos, unhas, punho, palma e dorso) com água e sabão. De preferência, utilizar toalhas de papel para secá-las.
- Para higienizar as mãos na rua pode-se utilizar o álcool gel, que também serve para limpar objetos como telefones, teclados, cadeiras, maçanetas, etc.
- Deve-se cobrir o nariz e a boca com um lenço de papel quando espirrar ou tossir e jogá-lo no lixo.
- Evite tocar olhos, nariz e boca sem que as mãos estejam limpas.
- Reduza os deslocamentos: se planeje com idas ao supermercado, farmácia, mas lembre-se de não estocar, apenas leve o necessário para se manter pelo próximo mês.
- Evite aglomeração de pessoas e grandes multidões, isso ajuda a restringir a proliferação do vírus.
- Apoie a rotina de idosos e pessoas que estão no grupo de risco. Se ofereça para fazer compras e outras coisas simples que possam ajudar nesse momento.
- Máscaras faciais descartáveis devem ser utilizadas por profissionais da saúde, cuidadores de idosos, mães que estão amamentando e pessoas diagnosticadas com o coronavírus.
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