Corporação de bombeiros voluntários de Corupá reflete determinação de seu fundador

Por: Gabriel Junior

16/09/2017 - 06:09

Constituído como entidade jurídica em 15 de setembro de 1987, o Corpo de Bombeiros Voluntários de Corupá, município localizado no Norte catarinense, completou 30 anos nesta sexta-feira (15). Porém, a ação de voluntariado da instituição começou quase seis anos antes no município. Seu fundador, o comandante José Norberto Muller, mais conhecido como Zeca Mila, conta que em dezembro de 1981 iniciaram os trabalhos para criar em Corupá um pelotão para combater incêndios e outros sinistros.

Com uma média atual de 400 atendimentos prestados por mês, o socorro a pessoa continua sendo o principal tipo de ocorrência atendida pela corporação, seguido de incêndio e auxílio quando a comunidade necessita. “Ajudamos a comunidade. Quando cai uma árvore, vamos lá junto com a Defesa Civil, que tem apenas o diretor. Então, participamos…”, comenta Muller.

Ele conhece como ninguém a história da corporação, e não se cansa de contá-la. “Após um incêndio em 1981, tive a ideia de montar aqui em Corupá um corpo de bombeiros. Fui fazer pesquisa em Jaraguá do Sul e Joinville para conhecer as formas de trabalho. Consegui o apoio dos dois comandantes e o prefeito eleito mostrou grande interesse. As reuniões começaram no início de 1982 e então foi crescendo”, lembra. Após algumas reuniões com simpatizantes da ideia, em maio de 1983 foi criada uma comissão batizada de  Comucin (Comissão Municipal de Combate a Incêndios).

Nos primeiros anos, as reuniões eram realizadas na Escola Teresa Ramos. “Cerca de 20 pessoas formaram os primeiros bombeiros e começamos os treinamentos. A nossa sede era na Prefeitura, ao lado da minha casa. Coloquei uma sirene na torre da igreja. A comunidade foi informada pela imprensa e ligava para o número da Prefeitura. Assim, a sirene tocava e os bombeiros se reuniam, mas isso só em incêndios e calamidades”, lembra o comandante.

Inicialmente, as ocorrências eram mais dirigidas a incêndios e os primeiros bombeiros saíam com caminhões da Prefeitura, já adaptados com bomba e mangueira. “O número de voluntários foi crescendo e ainda em 1982 vimos a necessidade de angariar dinheiro, de pensar em fortalecer. Levei esse problema para a associação comercial e redigi o estatuto do bombeiro”, explicou. Com apoio da Aciac (Associação Empresarial de Corupá), a entidade foi oficializada em 1987.

Bombeiros voluntários de Corupá em 1997/1998 | Foto Arquivo/OCP

Com muitas lembranças na memória, José Norberto Muller comenta que marcou muito os integrantes da corporação ver pessoas morrendo, às vezes prensadas em carros, e não ter nenhum aparelho que pudesse ser usado para socorrê-las, já que para esses atendimentos dependiam dos bombeiros de Joinville e depois de Jaraguá do Sul.

Após descobrir que o Rotary de uma cidade do Rio Grande do Sul estava fazendo uma parceria com a comunidade, conseguiu o valor necessário para a aquisição da tesoura hidráulica. “Um menino foi fazer intercâmbio na Alemanha e a entidade do Rotary de lá doou 25% do valor e integralizou a quantia para a compra da tesoura, que foi trazida para o Brasil”, recorda.

 

Esquerda Sergio Menel, José Norberto Muller, e direita Sérgio Wascher – desfile do aniversário de Corupá em 2007 | Foto Arquivo/OCP

Nova razão social e sede ampliada

De 2009 a 2017, na direção de Lourival Horn (in memorian), a entidade passou por mudanças administrativas e operacionais, com a ampliação do quartel e substituição dos veículos, incluindo ainda a alteração da razão social, sendo estabelecida a Associação de Bombeiros Voluntários de Corupá. Em maio deste ano, foram regularizados os registros como bombeiro civil dos 11 membros da equipe efetiva da corporação, com o apoio da Prefeitura e da Câmara de Vereadores de Corupá.

Formado como professor e contabilista, além de industrial, o comandante Muller diz que o ofício de bombeiro é uma missão e uma espécie de passatempo para ele. “Fico aqui praticamente todos os dias do ano. É muito difícil me afastar. Passo boa parte do dia, vou na minha firma e volto aqui.”

Natural de Corupá e filho de agricultores, ele foi criado no Caminho Pequeno e diz que queria deixar algo que ficasse eterno, o que se concretizou na corporação. “Toda a obra física do bombeiro fui eu que ajudei a construir. Comandei por 27 anos a corporação e larguei por um período para tratar dos meus interesses, mas voltei este ano ao comando. Antes, eu era presidente”, comenta.

Quando retornou, ele precisou, e ainda precisa, de muito empenho, pois diz que a associação estava para praticamente encerrando as atividades por dificuldades financeiras. “Estamos tentando apoio da comunidade para fazer um bom trabalho. Já conseguimos várias coisas, mas a parte financeira é a mais crítica no momento. Hoje são aproximadamente R$ 45 mil mensais para manter a corporação. Temos 11 efetivos e 53 voluntários”, comenta.

Além da ajuda recebida da Prefeitura, existe a colaboração da comunidade por meio da conta de luz. Recentemente, a corporação iniciou um trabalho de visitas de casa em casa e, em uma semana, a ajuda da comunidade aumentou em cerca de R$ 8 mil. “A aceitação está sendo muito boa, pois sentem a necessidade de ter bombeiro por perto. Sabem que é o único socorro rápido”, comenta o comandante.

“Deixei família, deixei empresa para fazer o bombeiro de Corupá ser exemplo. Com muita garra e apoio da comunidade, vamos conseguir. Devemos triplicar o valor de ajuda da comunidade e chegar em R$ 25 mil até o fim do ano, o que daria suporte”, enfatiza. Em breve, a população também poderá contribuir por meio da conta de água.

Viaturas da corporação | Foto Divulgação/OCP

O comandante Muller planeja agora o retorno do projeto mirim e aspirante para 2018. “Criamos novamente a escola dentro da nossa corporação e, por enquanto, são quatro professoras”, comenta o comandante, que planeja que todos os fins de semana sejam utilizados para realização dos cursos necessários.

Com três caminhões, um resgate e duas ambulâncias, os bombeiros de Corupá receberam mais duas ambulâncias, que eram do Samu, doadas pelo Estado. As viaturas estão passando por reforma e a intenção é entregá-las no dia 7 de outubro, na festividade que a corporação irá promover.

Bombeiros voluntários de plantão no dia da visita do OCP para a reportagem especial | Foto Fábio Junkes/OCP