Ansiedade e expectativas: como os adolescentes de Jaraguá do Sul estão encarando o isolamento social?

Por: Natália Trentini

29/08/2020 - 05:08

Mesmo quem tem muita experiência de vida está tendo dificuldade de lidar com o momento atual. A imprevisibilidade, as faltas.

Para os que caminham para a fase adulta, a pandemia de Covid-19 significou uma pausa abrupta nos planos e experiências que seriam vivenciados com intensidade a partir de agora. Energia de sobra, poucas possibilidades de usar esse potencial.

A internet é terreno conhecido e dominado por quem está entre 15 e 17 anos, mas até para os nativos virtuais, são os momentos físicos que mais fazem falta. O contato com amigos, conhecer pessoas novas – até receber bronca de professor está na lista de saudades.

Para a estudante Ana Lívia Nones Menegali, de 16 anos, tem sido uma verdadeira montanha-russa emocional com alguns momentos de animação, outros de desânimo. Ela define que tem sido um período para “redescobrir, reinventar e de se adaptar”.

Foto Natália Trentini/OCP News

“Tem sido difícil, tive que me adaptar, continuar me movimentando e procurando fazer coisas que gosto no tempo livre, buscar me distrair, não é fácil ficar tanto tempo em um mesmo ambiente convivendo com um número muito restrito de pessoas, estudar se torna mais complicado, ainda mais porque depende só de mim”, diz.

“A pressão e o medo que vejo ali fora tem me atrapalhado um pouco, em certos dias não consigo me concentrar em nada, em outros momentos da aquela saudade da rotina normal, dos amigos, festas e bagunças, e depois volta a ficar tudo bem”, desabafa.

Já Gabriel Arnold de Souza, 17 anos, conta que a quebra na rotina, antes bastante regrada e cheia de atividades, tem sido muito complicada. Mesmo com estudos, estágio e academia ainda lista, existe uma instabilidade.

“O sentimento é de estar perdido entre os dias da semana”, comenta.

Tudo faz falta

Já são cinco meses de medidas de isolamento social. Muitas flexibilizações já foram feitas, mas as escolas, por questão de segurança, permanecem com as aulas online. Justamente o lugar de maior socialização e interação.

“Já se passaram tantos meses, que agora, tudo faz falta, as conversas com os amigos, os trabalhos, e até mesmo as broncas dos professores”, revela a estudante Nátaly Yara Solamon, 16 anos.

Essa sensação de saudades generalizada é compartilhada.

“De toda a rotina, de ir à escola encontrar meus amigos, de sair e me divertir com os mesmos, sinto falta até de andar de ônibus, mas principalmente do contato físico ou de simplesmente conversar pessoalmente com outras pessoas”, comenta Ana Lívia.

Gabriel revela que as conversas por mensagens tem sido o único jeito de manter contato com os amigos, mas já perderam a graça.

“O que eu mais sinto falta, é do contato corpo a corpo, de ver as pessoas na minha frente, de poder abraçar e encostar nelas sem medo. Sinto falta das conversas no olho a olho, e da companhia dos meus amigos”, lamenta.

Adaptação necessária

Os adolescentes ouvidos pela reportagem contaram que, tendo consciência da situação, em algum momento decidiram encontrar um amigo ou amiga para uma visita, de forma bem restrita.

“Confesso que sim e admito que fez bem para minha sanidade mental”, responde Gustavo Andre Lemke Ferreira, 16 anos, ao ser questionado se havia encontrado alguém além do convívio familiar.

Mas se o distanciamento tem tido aspecto favorável, é do aprendizado.

“As ligações de vídeo, e as redes sociais, jogos online, têm nos mantido conectados, mas não é a mesma coisa do que estar ao lado dos meus amigos, acho que todos aprendemos a valorizar mais cada momento e contato”, comenta Ana Lívia.

Para o futuro, Ana Lívia espera mais empatia. Quer ver as pessoas conscientes sobre as questões de saúde e levando tudo mais a sério.

“Espero que as pessoas passem a valorizar mais a vida e o próximo, que tenhamos dias melhores e que o mundo consiga se curar”, comenta.

Para Gustavo, a expectativa é ver as pessoas entenderem que a ignorância “não leva a nada”.

“Eu realmente espero, que isso tudo passe, que possamos todos nós reencontrar, abraçar e sentir as outras pessoas. Espero que todos comecem a valorizar o estar e a alegria de estar com as outras pessoas”, vislumbra Gabriel.

Psicóloga alerta para atenção à saúde mental

Como para todas as pessoas, o isolamento durante a pandemia tem trazido desgaste para adolescentes e jovens – e até para quem está iniciando a vida adulta.

Isso se deve especialmente pela falta das interações em grupos e atividades diárias, pontua a psicóloga Patrícia Asinelli Silveira.

“O impacto foi essencialmente na saúde mental”, revela Patrícia.

“Aumentaram as crises de ansiedade por conta de precisarem ficar em casa e também porque nesta fase, os adolescentes necessitam estar em grupos para firmarem sua identidade e também por estarem privados do convívio social ou em grupos presenciais”, explica.

Além de depressão e ansiedade, os casos de crises de pânico também foram notados pela psicóloga clínica.

Diante disso, precisa haver atenção da família com alguns sinais. “Quando o filho começar apresentar apatia (como tanto faz) diante dos amigos, atividades escolares ou demais atividades que exercem nesta época, procure auxílio. Também se faz necessário que os pais tenham um diálogo sincero com seus filhos e observem como andam suas atividades”, comenta.

Foto Natália Trentini/OCP News

Outro ponto a ser observado é a alimentação, já que adolescentes costumam comer muito bem. Caso seja notado uma mudança de hábito, que é muito particular para cada pessoa, é orientado buscar ajuda.

Em casos mais extremos de ansiedade e depressão, é comum os jovens se auto lesionarem com pequenos cortes e machucados pelo corpo.

Além de um acompanhamento psicológico para lidar com tantas questões e ansiedades desse momento, equilibrar a relação familiar é de extrema importância.

Patrícia orienta algumas atitudes.

Uma aproximação entre pais, filhos, ou quem quer que faça parte do conjunto familiar. Todos podem sentar numa mesa e compartilhar como andam se sentindo.

Atividades em grupo também são importantes: jogos de tabuleiro, cozinhar juntos, assistir filmes, ou demais situações que estejam dentro das possibilidades da família.

Buscar ter momentos da família, conversando sobre qualquer assunto com leveza e com o celular bem longe. Um momento onde todos estejam desconectados da internet para se conectar um ao outro.

 

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