Família Strenner é referência no cultivo de aipim

Por: Elissandro Sutil

18/03/2018 - 06:03

Maior produtor de aipim do Norte do Estado, Jaraguá do Sul possui 360 hectares de terras dedicados ao cultivo em duas localidades do município. No bairro Garibaldi, a família Strenner está ligada à agricultura há mais de 30 anos, primeiramente plantando fumo e atualmente cultivando, comprando e beneficiando o aipim. Nesta segunda reportagem da série “Riqueza Rural”, o OCP traz uma história de amor à terra que ultrapassa gerações e fala dessa raiz tipicamente brasileira.

A empresa familiar da família Strenner é composta por Miguel, 62 anos, os filhos Alexander, 36, e Adriana, 27, a nora Ana Paula, 31, e o mais novo, Bruno, 25. A produção semanal gira em torno de 3 a 3,5 toneladas descascadas por semana. De acordo com Alexander, a demanda pelo produto é bem alta. A família planta uma média de 30 mil pés de aipim por ano, podendo atingir uma produção de aproximadamente 90 toneladas nesse período somente com o que cultiva. Além disso, possui fornecedores da matéria-prima por toda a região.

“Nós compramos muito de Corupá, porque o acesso por Faxinal é bem próximo. Compramos também de Massaranduba, Schroeder, Guaramirim, Rio dos Cedros, da região toda aqui. Temos bastante fornecedores porque a demanda é muito grande”, informa.

A Aipim Strenner Ltda (Nha Benta) foi aberta em 2001. Desde então, a raiz passou a ser comercializada no pacotinho de um quilo e a ser distribuída pela Oesa. Antes, o produto era vendido a granel. “Nosso forte é Curitiba, São Bento do Sul e litoral, nos supermercados daqui da região é difícil encontrar a nossa marca”, explica Adriana.

Formada em direito, ela é responsável pela parte administrativa da empresa. Fornecer o produto para a distribuidora, conta, foi a forma mais viável de tocar o negócio. “Porque não tem incômodo com cobrança e a venda é certa. A gente só se preocupa em fornecer o que ela realmente precisa”, diz.

Seleção rigorosa garante a credibilidade da marca

Alexander, que é professor no Senai e ajuda a tocar a empresa, enfatiza que hoje, na região, o aipim Nha Benta é o que mais vende, em parte por causa da qualidade, uma preocupação que o pai, Miguel, sempre teve. “A gente só seleciona o aipim que cozinha e que seja um bom produto”, afirma ele.

“Preferimos ter alguma perda, mas oferecer algo de qualidade. Estamos há mais de 15 anos no mercado vendendo bem por causa disso”, complementa Adriana. Os irmãos comentam que uma parte da seleção é feita na roça e a outra na empresa, tudo para garantir produtos de primeira linha.

Marca Nhá Benta, de aipim congelado, é carro-chefe da empresa que deve expandir produção | Foto OCP

Essa seleção é acompanhada de perto pelo progenitor da família. Alexander conta que tanto o pai quanto o tio, quando pegam na raiz já sabem se ela cozinha ou não. “Seja pelo peso, ou pelo formato, de alguma maneira, pela prática, eles já sabem. E a gente vai aprendendo com eles. Alguns ficam desconfiados e levam a raiz descartada para casa para testar (cozinhar) e depois sempre dão razão para eles”, conta o filho.

Miguel Strenner comenta que esse conhecimento vem do tempo em que trabalha junto à terra. Em mais de cinco décadas plantando, foi aprendendo a observar a natureza e a reconhecer os produtos bons e os que não servem. “Eu tenho 62 anos, então já tenho conhecimento (do plantio) há 50 anos. Só o tempo vai dar isso. Na verdade, até a própria planta já se mostra conforme o estado da folha. Ali você já vê se ela precisa de adubação… a natureza mostra e você já vê: opa, esse capim amarelo indica alguma coisa. E também pelo formato, porque muitas vezes um pé de aipim com cinco raízes tem quatro para aproveitar e uma que não serve, pode acontecer. É como um pé de laranja, às vezes tem aquela que não está tão boa”, compara.

Ele conta que, assim como o aprendizado sobre as culturas foi passado na infância, pelo pai, seus filhos também o ajudam desde pequenos. “E do mesmo modo vai ser com meus netos. Eles adoram isso aqui. Vão ter oportunidade de estudar e depois vão escolher o que querem fazer”, projeta, referindo-se aos filhos de Alexander, Augusto, de quatro anos, e Alisson, de quase dois.

Desafios na agricultura

Adriana considera que a concorrência desleal é um impasse para os negócios, pois quem é registrado e tem sua empresa legalizada acaba não conseguindo competir com quem oferece produtos com preço muito baixo. Segundo ela, alguns produtores costumam vender o aipim ‘frio’ (não legalizado), que atrai consumidores por causa do preço, mas que nem sempre tem qualidade.

“A Vigilância Sanitária vem verificar o processo com frequência. Isso é importante porque dá crédito ao produto, então o consumidor pode adquirir com confiança. Só que isso tudo gera custo, então a carga tributária é muito complicada. Mas tem muita gente que vende ‘frio’ o aipim. O pessoal leva direto nas casas e aí o nosso preço não se torna competitivo”, avalia.

A questão, segundo explica, é que os produtores que costumam agir assim conseguem vender sem exigência nenhuma. Para ela, isso prejudica principalmente quem atende a região, por causa da concorrência desleal. Além disso, o consumidor pode estar adquirindo um produto que não é tão bom.

Alexander afirma que o aipim é uma cultura bem viável na região e tem resultado positivo. Porém, para o consumidor, pode ter um custo bem alto, principalmente se comparado à batatinha, que é uma forte concorrente. Para que o negócio funcione, a receita é muito trabalho e muita visão. “Eu sou professor no Senai. Estou ajudando o meu pai porque essa é uma história de muitos anos que ele está escrevendo e eu não queria que acabasse. E, claro, dá dinheiro, mas tem que trabalhar bastante”, ressalta. Futuramente, a família planeja oferecer também os derivados do aipim: bolinho, aipim palito, entre outros.

Entre as maiores dificuldades que o pai enfrentou no começo, está a infraestrutura. Sem maquinário adequado, estradas em boas condições e orientação, dificilmente os empreendimentos rurais crescem. Alexander diz que percebia um problema enorme com a infraestrutura e faltava apoio da Prefeitura. “E hoje não é mais assim, a resposta é sempre muito positiva. Um dia desses fomos tentar resolver um problema que não iria afetar só a nossa família, mas todos os produtores que fornecem para nós. Lá, fomos muito bem acolhidos e a atual gestão está se esforçando muito pelo agricultor. O atendimento da Prefeitura com maquinários é primordial para o sucesso do nosso trabalho. Porque comprar todo esse equipamento não seria viável para a nossa empresa”, afirma.

Outro problema no setor, opina Alexander, é que os produtores não têm muito planejamento. Ele conta que em 2015/2016, houve problemas sérios para o cultivo do aipim e aí o preço do produto disparou. Com isso, muitos produtores passaram a cultivar a raiz. “Se eles tivessem plantado antes, para ter quando o produto estava escasso… o resultado é que agora tem demais. É preciso uma visão a longo prazo, porque agora o preço não é mais o mesmo. Como o pai tem essa visão, já estava preparado quando faltou matéria-prima. Conseguimos atravessar esse período sem deixar de fornecer o aipim para a Oesa, porque senão a gente acaba perdendo mercado. Retomar depois é mais difícil”, explica.

Visão empreendedora

O negócio da família, inicialmente, era a plantação de fumo. Miguel Strenner aprendeu com o pai essa cultura quando era pequeno. No entanto, trabalhar com tabaco era complicado pela quantidade de veneno utilizada, entre outros aspectos. Há cerca de 30 anos, decidiu tentar algo diferente.

“O aipim foi uma cultura que ele gostou, aí começou a vender para algumas cozinhas. Meu pai sempre teve uma visão empreendedora. Ele vendeu no Sesi, pra WEG e Ciluma. Na Ciluma, o pessoal reclamava que o aipim era oferecido com casca, porque ele só arrancava e vendia. Aí ele pensou em agregar valor descascando o aipim. Mas o aipim não aguentava muito tempo. Então, decidiu descascar e congelar”, conta Alexander.

Aipim no Brasil

Foto: OCP

A produção de mandioca aumentou 182,3% entre 2005 e 2015, segundo levantamento publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. As exportações, entre 2013 e 2016, tiveram uma evolução de 255%, o que coloca o Brasil como o 2º maior produtor mundial. O país fica atrás somente da Nigéria, segundo informações da Secex — Secretaria de Comércio Exterior. Os produtores brasileiros de aipim faturaram R$ 11 bilhões em 2017.

Aipim na mesa

Também conhecida como mandioca e macaxeira, a raiz é um produto que possui curta durabilidade. No entanto, descascada e guardada numa vasilha com água na geladeira, conserva-se por mais tempo, assim como depois de cozida. Ela também pode ser congelada crua. “Você cozinhou o aipim no almoço, o que sobrou você pode fritar à noite. No outro dia você ainda pode consumi-lo”, diz Alexander. Alimento rico em carboidratos, é excelente para a manutenção do sistema nervoso. Possui também sais minerais (cálcio, ferro e fósforo) e vitaminas do Complexo B.

Fica saborosa cozida em água, e também cozida e posteriormente frita. Levada ao forno com manteiga ou compondo a sopa com outros legumes possui ótima aceitação. Receitas como purê, bolinho e escondidinho de carne moída são igualmente apreciadas. Também são confeccionados pães, doces e sobremesas. A farinha feita da mandioca é um dos alimentos de maior consumo no Brasil.