OCP nos bairros: preocupação com segurança ronda os moradores do Estrada Nova

O crescimento populacional e imobiliário do bairro fica visível ao notar a quantidade de terrenos prontos para construir ou os grandes espaços sendo preparados para loteamentos.

Se o último Censo, realizado em 2010 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apontava que o Estrada Nova possuía mais de 5,5 mil habitantes, é muito provável que no próximo levantamento o bairro apresente números maiores, visto a expansão dos últimos anos.

E com o aumento da população, aumenta também a preocupação dos moradores. Demanda antiga do bairro, a segurança é apontada por praticamente todos eles como sendo a principal “urgência” do Estrada Nova, embora os números ainda não tenham acendido o “alerta” da Polícia Militar, conforme conta o major Aires Volnei Pilonetto.

O major reforça que a demanda de segurança é constante em todas as regiões do município.

“Especificamente sobre o Estrada Nova nós temos sim alguma coisa, mas nada que possamos considerar de extrema preocupação, podemos dizer que está nos mesmos patamares dos outros bairros”, avalia.

Apesar disso, a preocupação é companheira diária dos moradores e, inclusive, foi no bairro que aconteceu um dos cinco homicídios registrados em Jaraguá do Sul neste ano. No dia 11 de agosto, Cesar Vasel foi assassinado vítima de agressões, socos, pontapés, pedradas e facadas. A polícia segue investigando o caso que pode ter relação com drogas.

Cesar Vazel, assassinado neste mês de agosto de 2018, no bairro. | Foto Redes Sociais

Morador do bairro há cinco anos, Vitório Rozentalski, 29 anos, ressalta que a presença da polícia no bairro é rotineira, com rondas pelas ruas, mas afirma que os horários nos quais elas acontecem são os mais “tranquilos”.

Para ele, é necessário agir contra a incidência de consumo e venda de drogas no local o que, ele analisa, acaba por explodir em outros crimes de maior potencial ofensivo, como homicídios e assaltos.

“Nesses últimos dias aconteceu um assassinato aqui, mas acredito que o que mais temos por aqui é isso de droga, isso tem bastante”, analisa.

Para Maria de Lourdes Barranhivisz, que dos 35 anos de vida, mora há 18 no bairro, o Estrada Nova cresceu significativamente ao longo dos anos. Embora a segurança seja uma preocupação latente, ela avalia que é uma situação que se manteve nos mesmos patamares durante os anos.

“O bairro cresceu muito e a violência continua a mesma de outros anos, eu acredito. Eu vejo com preocupação isso de mortes e drogas. Jaraguá é uma cidade tranquila e segura para morar como todos dizem, mas essa coisa de drogas…”, diz.

Um morador que não quis ser identificado por medo de represálias conta que em um parquinho do bairro, que fica ao lado de um terreno da Prefeitura, é ponto de uso de drogas, inclusive, afastando o público-alvo do local. “Era cheio de pais que frequentavam com as crianças e espantaram todo mundo para usar drogas”, afirma.

Foto Eduardo Montecino/OCP News

Segundo ele, há presença de organizações criminosas no bairro e sinais disso puderam ser vistos recentemente, quando houve depredação do local. O morador afirma que os bancos de concreto foram quebrados e, neles, havia a inscrição de uma das organizações catarinenses.

De acordo com o major Pilonetto, há monitoramento constante no que diz respeito às organizações criminosas que, embora tenham presença na cidade, não conseguem se consolidar, ressalta.

“Não raras vezes fazemos abordagens e prisões de pessoas que informam à polícia que são faccionados. O cenário que não temos em Jaraguá do Sul é aquele de ‘esse local é dominado por determinada facção’. Mas é muito possível que lá [no Estrada Nova] existam pessoas faccionadas”, explica.´

Crimes não têm crescimento expressivo no bairro

Segundo dados da Polícia Militar, os números de crimes não têm tido crescimento expressivo e alarmante no Estrada Nova. Em 2017, nos oito primeiros meses do ano, foram registrados nove furtos, três roubos, oito ocorrências de tráfico de drogas e 11 de posse de drogas.

Já no mesmo período deste ano, foram 10 ocorrências de furto, uma de roubo, cinco de tráfico e 11 de posse de drogas.

O major ressalta ainda a importância da comunicação entre comunidade e Polícia Militar, ele enfatiza que as denúncias  devem ser realizadas.

“É de suma importância que a população participe conosco nessas questões, talvez a principal maneira é a denúncia. Nós não queremos que as pessoas fiquem confortáveis com o consumo de drogas na sua região. Para nós, as informações são relevantes e tudo que chega, nós temos feito monitoramento.  Se a comunidade enxerga um local suspeito, que entre em contato e faça denúncias”, destaca.

Pilonetto afirma ainda que a quantidade de pessoas envolvidas em tráfico e de drogas sendo apreendidas tem aumentado no município, mas explica que é preciso ter cuidado e ter consciência de que esse aumento faz parte de um contexto estadual e nacional.

Entre as drogas de maior incidência na cidade, ele conta, estão a maconha, o crack e a cocaína. Além delas, o major afirma que as drogas sintéticas tem tido um aumento significativo em Jaraguá do Sul.

Outra maneira fundamental, avalia o major, de participação popular é por meio do Conseg (Conselho Comunitário de Segurança), bastante ativo no Estrada Nova.

“É importante que a comunidade participe conosco, não estamos transferindo a responsabilidade, estamos dizendo que segurança pública é responsabilidade de todos”, ressalta.

Além disso, a ocupação de espaços públicos – como o parquinho – destaca ele, é essencial para que, além do acesso aos serviços, a comunidade também consiga afastar a intenção de crimes.

Estrutura de serviços agrada, mas falta manutenção

O Estrada Nova, que fica a cerca de três quilômetros do Centro e tem como vizinhos os bairros Rau, Chico de Paulo, Três Rios do Sul, e Água Verde e, assim como ele, também tem a BR-280 como divisor. De um lado, o bairro Rau, do outro, o Estrada Nova.

Os moradores afirmam que o viaduto instalado facilitou e muito a vida de quem transita pelos bairros da região, dando segurança na travessia.

“Ao contrário do pessoal ali do Água Verde, nós já temos o viaduto para atravessar, mas acho muito importante que se pense em uma lombada física ou até mesmo um sinal para que as pessoas tenham tempo de atravessar a rodovia”, aponta Vitório Rozentalski, morador do bairro.

Para ele, a estrutura de serviços do Estrada Nova é bastante eficiente e consegue atender a demanda dos habitantes. Com escola, creche, unidade de saúde, áreas de lazer e transporte “à mão”, ele avalia que existem poucos pontos nos quais o governo municipal deixa a desejar na comunidade.

Um deles é a limpeza e manutenção das ruas e terrenos. Segundo Rozentalski, existem muitos locais com limpeza e roçada por fazer, inclusive próximo a um parquinho do bairro. A reclamação é reforçada por Maria de Lourdes Barranhivisz.

Foto Eduardo Montecino/OCP News

Ela conta que ao lado do parquinho há um terreno com o mato alto e que, inclusive, já teve casos de presença de cobras.

“É um parquinho, imagina isso. É um espaço para crianças e essa falta de roçada é até perigosa”, aponta.

Outra área de lazer que merece atenção e que já foi alvo de matéria publicada pelo OCP, é a academia ao ar livre que está instalada no pátio da igreja Sagrado Coração de Jesus. Alvo de depredação e vandalismo, ela segue sem manutenção.

Acessibilidade e acesso a saúde são problemas para moradora

A rua José Picolli, principal via do bairro, se enche a cada vez que o sino escolar bate indicando o fim das aulas. Estudantes dividem espaço, seja a pé ou de bicicleta e é por ali que passam também os ônibus e vans de transporte.

É nesta mesma rua, no ponto deixa o asfalto para trás, que Lucineia Barbosa de Oliveira carrega a filha, Emily Victoria Barbosa de Oliveira, de 7 anos, no colo até encontrar o pavimento que permite então que a cadeira de rodas possa trafegar sem tantos obstáculos.

Essa é a realidade dela quase que diariamente. Aos 27 anos, natural de Pernambuco e moradora do Estrada Nova há nove anos, ela diz que “só mando ela para a Apae quando o tempo está bom porque na chuva não tenho como trazer”.

Foto Eduardo Montecino/OCP News

Emily sofre de paralisia cerebral e é Lucineia quem a carrega, nos braços, até conseguir chegar ao asfalto. Na via pavimentada, coloca a filha na cadeira de rodas e a leva até a parada de ônibus, parada também para a van que a leva até a Apae.

A dificuldade do percurso sem acessibilidade, a falta de transporte acessível e o setor de saúde limitado são as principais reclamações da pernambucana que considera Jaraguá do Sul e o Estrada Nova como locais extremamente seguros.

“O que eu queria mesmo era que melhorasse a saúde porque aqui eles não atendem em casa não. Sempre que a Emily fica doente, tenho que levar ela ao hospital e nessa dificuldade. Aqui eles dizem que não tem equipe para atender em casa. O postinho é longe e só atende uma vez por semana”, afirma.

Além do atendimento, a falta de acessibilidade das ruas é um obstáculo a mais para Lucineia.

“Os ônibus também, não são todos que são acessíveis não. E não falo isso só pela Emily, quem mais precisar vai ter o mesmo problema”, finaliza e corre para embarcar cuidadosamente a filha na van escolar.

Quer receber as notícias no WhatsApp?