Educação que transforma: Escola Santo Estevão resgata tradições húngaras

A miscigenação de etnias que construiu Jaraguá do Sul pode ser observada em todas as regiões da cidade. Mas no bairro Garibaldi, uma em especial chama a atenção e desperta a curiosidade dos alunos da Escola Municipal Santo Estevão: a cultura húngara.

Foi lá que os primeiros imigrantes da Hungria que vieram para Santa Catarina se instalaram, por volta de 1891. Um ano antes, um número expressivo de húngaros desembarcou no Rio Grande do Sul. Alguns foram para a colônia de Canto Galo, no Paraná, e outros para a colônia do Garibaldi.

Cerca de 230 famílias passaram a morar no lote 84, onde hoje é o bairro Jaraguá 84. Na colônia, eles construíram a Igreja Santo Estevão, em 1922. O religioso é o padroeiro da Hungria e também nomeia a escola que está desenvolvendo um projeto de resgate e valorização da cultura.

A iniciativa foi integrada ao programa Mais Educação, que amplia a carga horária diária dos alunos. No contraturno, alunos do terceiro ao sétimo ano têm aulas extras de matemática, português, artes circenses e xadrez.

Os professores estão trazendo para essas disciplinas elementos da cultura húngara e buscando um conhecimento maior sobre os imigrantes que moravam no Garibaldi. A professora de artes circenses, Nayara Laporte de Almeida, comenta que na região há influências de muitas culturas, e cada uma traz uma bagagem diferente.

“Com a tecnologia de hoje, essa ligação com as tradições dos avós e bisavós acaba se perdendo. A cultura húngara é muito bonita e alguns alunos nem sabiam que tinham essa descendência, por isso resolvemos resgatá-la”, conta a professora.

Uma das principais frentes do projeto vem sendo proporcionar o contato com os costumes húngaros. A primeira oficina realizada foi a de gastronomia, onde os estudantes aprenderam a preparar um strudel. Eles colocaram a mão na massa e fizeram todas as etapas do prato típico, incluindo o recheio.

Oficina ensinou alunos a fazer o strudel | Foto Divulgação/Rede OCP News

Contando com o apoio da Associação Húngara de Jaraguá do Sul, a escola partiu para o próximo passo do projeto, a dança. Integrante do grupo folclórico Dunántúl há 21 anos, Claudia Marisa Ersching Kitzberger foi a responsável por introduzir a dança típica para os alunos da Escola Santo Estevão.

A intenção é fazer uma apresentação no fim do ano. Duas oficinas já foram feitas.

Alunos aprenderam passos com facilidade

A rapidez com que os alunos aprenderam a dança húngara surpreendeu a professora Cláudia Kitzberger. Os cerca de 30 alunos, matriculados em turmas do terceiro ao sétimo ano, estão ensaiando passos da coreografia Zempléni Válltánc.

Coreografia é semelhante à uma roda de dança com crianças | Foto Eduardo Montecino/Rede OCP News

Segundo Cláudia, essa é uma dança de roda, onde as crianças se divertem ao som da música alegre e trajes coloridos.

“É uma sequencia mais simples de memorizar, mas muitos adultos, quando vão aprender, por exemplo, têm dificuldade. Eles conseguiram com facilidade, até os convidei para participarem do grupo da associação”, comenta a professora.

Cada região da Hungria tem uma dança típica diferente. Os trajes acompanham essa variação. Na coreografia Zempléni Válltánc, os trajes são coloridos, principalmente as saias femininas. As cores também estão nos chales das mulheres. Na apresentação de fim de ano, os alunos estarão trajados.

A professora destaca os benefícios da dança, tantos físicos quanto mentais, comentando que às vezes, as crianças não têm essa oportunidade de saberem mais sobre suas origens e fazerem parte dela de alguma forma. “Eu disse que eles têm sangue húngaro”, brinca Cláudia.

Crianças já seguiam costumes húngaros em casa

Entre alunos que já sabiam da influência húngara na família e os que não tinham feito essa descoberta ainda, o resultado do projeto é semelhante.

Nascida no bairro Garibaldi, a estudante Stepany Evangelista, 12 anos, conta que a mãe já tinha explicado para ela sobre a Associação Húngara na cidade. “Achei muito legal e divertida essa ideia de trazer para a escola alguns costumes”, relata.

Caroline (D) e Beatriz destacam a dança e a comida da cultura húngara | Foto Eduardo Montecino/Rede OCP News

Em fotos antigas da família, chamou a atenção da menina os trajes típicos e artefatos que as mulheres usam na cabeça quando estão dançando.

A dança também estava na família de Caroline dos Santos, 13 anos. Ela conta que a mãe participava dos grupos e achava divertido. Para ela, o melhor da cultura da Hungria é a comida, em especial o strudel.

Nas casas de Stepany, Caroline e Beatriz Pinter, 12 anos, o prato típico está presente em praticamente todas as refeições de domingo. Na oficina de gastronomia, elas tiveram a chance de aprender a fazer strudel. “É bom, mas difícil de aprender”, aponta Caroline.

Beatriz destaca que sempre teve vontade de fazer algo relacionado às tradições húngaras, principalmente a dança.

“Em casa não falavam muito sobre isso e eu queria saber como se pronunciava algumas palavras no idioma deles, de onde vinha a comida e por que era assim”, relata a aluna do sétimo ano.

Agora podendo aprender mais sobre a dança do país, Stepany acredita que o passo mais difícil da coreografia é o “tititá”. “É um passo pro lado, mexe os pés, abre a perna esquerda e fecha com a direita. Só que fazer isso girando é mais complicado”, afirma a menina.

As estudantes ainda enfatizam a importância de manter as tradições do bairro.

Tradição também na matemática e no português

Nas aulas de matemática e português, o projeto de resgate cultural também está ativo. Com o objetivo de descobrir mais detalhes sobre a ocupação húngara no Garibaldi, a professora de matemática Tulipa Juvenal da Silva deu início ao Censo Cultural Resgatando as Raízes por meio da Comunidade e da Estatística.

O trabalho será apresentado na Feira de Matemática. Nele, os alunos montaram um questionário com algumas questões que serão respondidas pela comunidade.

“Pedimos quais idiomas as famílias falam em casa, qual a descendência deles, há quanto tempo moram aqui, qual é a distância e outras informações, para comprovar essa existência dos imigrantes húngaros por aqui”, explica Tulipa.

Cerca de 30 alunos estão participando do projeto | Foto Eduardo Montecino/Rede OCP News

Os questionários já foram enviados. Depois, as crianças vão analisar as respostas e desenvolver o censo a partir dos resultados.

Já na disciplina de português, os estudantes foram motivados a fazerem entrevistas com os moradores do bairro. O objetivo é montar um livro no fim do ano, a partir das histórias. Além de entrevistar, eles vão transcrever os áudios e escrever os textos. Funcionários da escola também foram fontes para o resgate cultural.

“Assim, conseguimos interligar todas as matérias no nosso projeto central”, garante a professora de artes circenses, Nayara de Almeida.

De acordo com Nayara, o desempenho nas outras disciplinas não é prejudicado por causa do projeto e acaba incentivando as crianças a se dedicarem mais aos trabalhos. “Além disso, eles estão podendo conhecer mais sobre as próprias histórias”, completa a professora.

Alguns costumes típicos húngaros:

  • Borrifar as moças com água de colônia durante a Páscoa
  • Saudações cantadas no ano novo e nos aniversários
  • Serenatas sob os alpendres dos casarões
  • Jogos dos pastores de Belém
  • Pedido costumeiro para noivar com a moça
  • Casamentos típicos com cerimonial inteiro, fitas coloridas, padrinhos enfeitados e damas de honra
  • Construções preservando o estilo da pátria com oleandros nos jardins e gerânios na janela
  • O folclore húngaro contem muitos elementos da cultura cigana

A maioria dessas tradições desapareceu devido à modernização e ao sincretismo das culturas. No início, as comunidades mantinham certa distância das demais etnias e criavam um ambiente propício para a preservação da cultura.

Fonte: Arquivo Histórico de Jaraguá do Sul

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