Educação que transforma: acidente de trânsito motiva conscientização em sala de aula

Alunos criaram uma faixa de divulgação para o projeto | Foto: Eduardo Montecino | OCP News

Por: Elissandro Sutil

15/09/2018 - 06:09

A perda de um ex-aluno por causa de um acidente de trânsito no ano passado foi o despertar para a equipe pedagógica da escola estadual Roland Harold Dornbusch, no bairro Barra do Rio Molha, montar um projeto que trabalhasse com responsabilidade o tema entre todas as turmas do ensino fundamental e médio.

O número de acidentes de trânsito no município foi levado para uma reunião, onde os professores e membros da direção decidem qual será o assunto abordado ao longo do ano.  O objetivo é conseguir promover a cidadania e o aprendizado, lado a lado. A importância do assunto ficou evidente.

Cada turma, do primeiro ano do ensino fundamental ao terceiro do ensino médio, encontrou uma forma de aprender mais sobre o trânsito e desenvolver o conhecimento nas disciplinas curriculares.

Nos primeiros anos, por exemplo, os alunos criaram jogos lúdicos, confeccionaram placas de sinalização e levaram para casa alguns ensinamentos sobre trânsito para conversar com os pais.

A professora Velcidina Fischer explica que nas primeiras turmas, as aulas são mais voltadas para a matemática e o português, com objetivo de alfabetizar as crianças.

“A Cecília é uma das alunas alfabetizadas pelo projeto de trânsito. Ela aprendeu a ler e escrever com a placa de ‘pare'”, conta Velcidina.

Outro benefício foi a conscientização no trânsito. A rua onde a escola está localizada, há alguns anos, tinha sentido duplo e não contava com faixa elevada em frente à instituição. Naquela época, um funcionário fazia a travessia dos alunos de um lado para o outro, considerando o risco de acidentes pelo alto fluxo de veículos.

Corredores da escola entraram no clima das atividades | Foto: Eduardo Montecino

Agora, com lombada e sentido único, a locomoção dos alunos ficou mais fácil, mas ainda exige cuidados. A diretora da Roland Harold Dornbusch, Zulaide Alves, enfatiza que como são crianças e adolescentes, os estudantes costumam não ter muita paciência para esperar pelo momento certo de atravessar a rua e muitas vezes, não respeitavam a faixa de pedestres.

Para lembrar da importância de manter essas hábitos, os pais recebem bilhetes mensais incentivando a conversa com os filhos.

“O projeto não pode ficar só na escola, tem que ter essa parceria em casa, com a comunidade. Nas primeiras turmas, nós plantamos a sementinha, e lá nos últimos anos, eles colocam em prática. Todos precisam entender essa importância”, observa Zulaide.

Ao longo dos meses, a escola foi decorada com placas de sinalização, faixas de pedestres e semáforos, para deixar todos no clima do projeto.

Alunos passaram a cobrar cuidado dos pais

Depois de serem apresentados às normas de trânsito, os estudantes da Roland Harold Dornbusch, em especial as crianças, passaram a prestar mais atenção no que os pais estavam fazendo enquanto dirigiam.

“Muitos vieram nos contar que os pais tinham passado algum sinal vermelho ou que estavam andando sem cadeirinha no carro. Eles começaram a cobrar essas atitudes porque agora sabem que não é certo”, comenta a professora Velcidina Fischer.

O pequeno Luigi Konell Luisi, de 6 anos, relata que aprendeu que quando há uma placa com um “E” e um “risco de X”, não é permitido estacionar no local.

“Quando vamos andar de moto, também precisamos usar uma jaqueta porque se acontecer alguma queda ou um carro encostar, não nos machucamos tanto”, diz Luisi.

Já Cecília Penteado, de 6 anos, que aprendeu a ler com as práticas do projeto, explica que não conhecia regras como dirigir na contramão, atravessar na faixa de pedestre e usar a ciclovia quando está de bicicleta.

Cecília foi alfabetizada durante as ações do projeto | Foto: Eduardo Montecino

A professora destaca a importância de trabalhar essas ações preventivas. “Os resultados são vistos tanto no conteúdo quanto no desenvolvimento emocional dos alunos”, aponta.

Nas turmas do ensino médio, o projeto trouxe índices de acidentes de trânsito em Jaraguá do Sul, normas regulativas, poesias, cálculos, dramatização e outras formas de tratar o tema, que foi o foco da feira de ciências da escola neste ano.

As alunas Yasmim Küster, 16 anos, Bianca Beoemer, 15, e Thais Vargas, 15, desenvolveram um trabalho sobre as leis de trânsito e carteira de habilitação para a feira. Elas contam que não sabiam da existência de diferentes categorias da carteira de motorista, de todas as infrações que podem causar multas e também dos altos valores a serem pagos.

“Eu não atravessava na faixa, mas passei a fazer isso”, garante Thais. Para Yasmim, o cuidado no trânsito deve ser maior em toda a sociedade. “Além de resultar no gasto de um alto valor em dinheiro, esse motorista está colocando em risco a saúde de outras pessoas”, finaliza.

Jornal com casos também foi criado

No nono ano do ensino fundamental, uma das atividades envolvendo o trânsito foi a elaboração de um jornal impresso. Os alunos precisaram entrevistar pessoas que já tinham se envolvido em algum acidente para montar as notícias.

Segundo a professora Rosane Hansen, os estudantes ficaram curiosos e acharam que não iam conseguir realizar a tarefa, já que não tinham prática com a escrita jornalística e estavam distantes da mídia impressa e ligados ao meio digital.

Jornal feito pelos estudantes tinham notícias sobre acidentes de trânsito | Foto: Eduardo Montecino

Rosane explicou sobre os diferentes tipos de gêneros jornalísticos e incentivou a escrita e pesquisa da turma. “Eles ficaram surpresos ao ver que o jornal impresso tem tantos conteúdos variados”, cita a professora.

Para a aluna Caroline Andressa, 14 anos, o maior desafio foi encaixar todas as notícias nas páginas de uma forma que fizessem sentido e se completassem. Gesilaine Pickel, 14 anos, acredita que o mais difícil tenha sido fazer a entrevista com as fontes.

Professora comenta que incentivou escrita e pesquisa ao propor o desafio do jornal impresso | Foto: Eduardo Montecino

Projetos contribuem para Ideb acima da média nacional

Todos os anos, a escola estadual Roland Harold Dornbusch escolhe um tema para trabalhar em todas as turmas dos bimestres. Eles já trataram sobre o zika vírus – confeccionando um mosquito e fazendo os alunos vistoriarem a residência dos vizinhos e a própria – e as diferentes “faces da diversidade”.

De acordo com a diretora, Zulaide Alves, esses projetos “são peças que ajudam a montar o quebra-cabeça da educação”.

“Não é fácil, precisamos trabalhar diariamente com atenção total e em conjunto, com todos comprometidos e empenhados na mesma causa”, avalia.

O resultado, segundo ela, tende a ser positivo. E realmente é. A escola estadual ficou entre as cinco unidades de Jaraguá do Sul que conquistaram o melhor Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) nos anos finais do ensino fundamental, com a média de 6.3. Nos anos iniciais, o índice foi de 6.9, acima da média nacional de 5.8. A escola não participou das provas do terceiro ano do ensino médio por não ter o número de alunos necessário.

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