O Carnaval é uma das principais manifestações culturais brasileiras. Seja nos bailes ou nos desfiles carnavalescos que ocorrem em todos os cantos do país, há uma série de símbolos culturais que estão impregnados nos festejos. Mas apesar de ser tradicional, o Carnaval tem sido constante alvo de críticas, ainda mais recentemente, dado o espaço nas redes sociais. Os argumentos estão atrelados ao aumento da violência no trânsito e nas ruas, o abuso no consumo de álcool, à “libertinagem” praticada pelos foliões e à interpretação do evento como desperdício de dinheiro.
Este último ponto tem ganho ênfase principalmente dado o impacto da ação de prefeituras do país que deixaram de investir na realização do Carnaval frente outra destinação do dinheiro, como na saúde, na segurança ou mesmo na educação. E Jaraguá do Sul não ficou de fora desta lista…
Este ano o Carnaval da cidade receberá o investimento de R$ 25 mil, um corte de verba no teor de 75% em relação aos R$ 129 mil repassados pela Fundação Cultural em 2015. O “saldo” será destinado ao esforço de reequilibrar as contas do município.
Mas afinal, pra quê Carnaval em Jaraguá do Sul?
A pergunta-título deste artigo é extrema, mas grande parte das manifestações observadas nas redes sociais ao corte da verba em Jaraguá do Sul simplesmente desconsidera a necessidade de realização do evento na cidade. A quem apoia a ideia ou discorda, levantamos esses cinco tópicos:
– O público prestigia, sim
Muita gente gosta e participa do Carnaval em Jaraguá do Sul. Os desfiles sempre atraem um grande público para a avenida Walter Marquardt, local onde tradicionalmente ocorre a festa.
Segundo o presidente da Fundação Cultural, Marcelo Prochnow, o Carnaval deve ser mantido. “A fundação trabalha em um contexto cultural. Em Jaraguá do Sul, há grupos que participam do Carnaval há 28 anos. O Carnaval tem o seu destaque, o seu brilho e uma parcela da população que participa dessa manifestação”, reconhece.
Em Jaraguá do Sul, o Carnaval é um evento de uma noite só. Em 2014, cerca de 15 mil pessoas prestigiaram o desfile. A título de comparação, o sábado da 27ª Schützenfest que teve maior público registrou visita de 18 mil pessoas. Como negar que há relevância?
– Ensino é propagado
O músico Jean Boca, trabalha pelo terceiro ano com o bloco Em Cima da Hora. Ele aproveita o Carnaval para chamar amigos e músicos para passar o seu conhecimento sobre percussão. “Antes dos ensaios do bloco, nós fazemos uma espécie de workshop”, comenta Boca.
O músico, que cursa bacharelado em música na Univali (Universidade do Vale do Itajaí), vê no Carnaval uma oportunidade de propagar o conhecimento que está adquirindo dentro da academia. Segundo ele, a ideia é aliar ensino e cultura à manifestação. “É uma forma de aproveitar esse momento para compartilhar ideias com pessoas diferentes”, completa.
– Há trabalho sério e objetivos envolvidos
Boca explica que músicos da cidade se juntaram para dar mais força para a folia jaraguaense. Segundo ele, há uma grande necessidade de haver diversas manifestações culturais em uma cidade industrial como Jaraguá do Sul. “Um povo sem cultura não é nada”, adverte.
O músico explica ainda que todo o Carnaval não é encarado com seriedade por quem está indiretamente ligado à folia. “O pessoal que faz o Carnaval acontecer trabalha muito. O Carnaval não é feito para nós, é feito para Jaraguá do Sul. O Em Cima da Hora leva tudo muito a sério. Não é festa. Do pessoal da costura até a batuqueira, todos estão trabalhando”, constata.
À parte, eventos são realizados pelos blocos para arrecadar dinheiro para as fantasias. “Não podemos só depender do dinheiro público. A gente tem que correr atrás”, enfatiza Iracema Pinheiro, 67 anos, a responsável pelo bloco Em Cima da Hora. Quanto ao corte de verbas, Iracema explica que é preciso entender o momento. “Mas as pessoas também precisam entender que o dinheiro do Carnaval é da Fundação Cultural, assim como o das obras é da Secretaria de Obras”, destaca.
– A festa tem mais história na cidade do que muitos imaginam
Em Jaraguá do Sul, os desfiles são realizados desde a década de 1920. O então semanário O Correio do Povo retratava os bailes nos salões Mielk, Burth, Bosque da Saúde e Sociedade Atiradores.
Para o historiador Ademir Pfiffer, inicialmente os desfiles ocorriam em canoas no rio Itapocu, ao som de acordeão. “Em 1930, com a chegada do médico Álvaro Batalha, da Bahia, o carnaval conquistou o requinte dos desfiles de rua, com direito a carros alegóricos. Mais tarde, Manequinha (Manoel Rosa) tornou-se o herdeiro desta tradição”, finaliza.
O desfile é o ponto alto do Carnaval de Jaraguá do Sul. “A minha família, a minha equipe e os meus amigos participam do Carnaval há 28 anos. O desfile é muito importante, pois faz parte da nossa cultura”, conta Iracema Pinheiro, ao afirmar que já participava do Carnaval de Jaraguá do Sul muito antes da criação do bloco Em Cima da Hora, em 1988.
– A festa promove a igualdade cultural
O presidente do Conselho Municipal de Promoção da Igualde Racial de Jaraguá do Sul, o professor Luis Fernando Olegar, explica que é preciso ver que toda cultura é importante. “Toda manifestação cultural reflete a identidade de alguém ou de algum grupo”, salienta. De acordo com ele, o Carnaval é importante não só para a cidade, mas para quem comunga dessa ideia. “Quando se faz uma festa alemã, isso é importante para essas pessoas. Acontece a mesma coisa com quem participa do Carnaval”, observa.
“A manifestação cultural tem relação com a identidade, não se faz por maioria. A importância vem no sentido de que é uma manifestação cultural de pessoas afrodescendentes ou não. Há grupos que se organizam para fazer a festa da melhor forma possível e isso não pode ser desprezado. Como qualquer outra cultura, o Carnaval deve ser mantido e defendido como manifestação cultural, que é um direito fundamental”, finaliza.
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O desfile de Carnaval deste ano ocorre no dia 6 de fevereiro, às 20h30, no Parque Municipal de Eventos de Jaraguá do Sul. Dona Iracema Pinheiro enfatizou que repassássemos o convite a todos leitores. O bloco Em Cima da Hora promete uma grande festa para receber a todos.