Já falei aqui sobre a indispensável capacidade que devemos ter para dizer “não” na hora certa. Sem essa capacidade vamos viver no atoleiro da dependência de outros. Ou vamos ser abusados, também não esquecer. Dizer não é indispensável ao sucesso, a paz na vida. E digo isso, leitora, leitor, porque acabei de ouvir um palestrante americano dizendo enfaticamente uma bobagem, ainda que essa bobagem seja dita por muitos figurões, dizem da boca para fora. Saí, como de hábito, para minha caminhada diária e, como sempre, um palestrante americano nos fones. Faço isso, já disse incontáveis vezes, tanto para ouvir uma boa “pregação” quanto, e mais que tudo, para treinar o meu “listening”. Sem esse treino não iremos longe na vida, afinal, quem não sabe que a repetição é a mãe do aprendizado? Aprendizado que se deve confundir com aperfeiçoamento. Pois nesta mais recente palestra, eu escutava o americano falando sobre felicidade. Aquela história de que felicidade é um ponto de vista e que depende só de nós, de nada e de ninguém mais. Dizia o palestrante que o amor pode nos realizar e nos fazer muito felizes, ele falava do amor num casamento. Disse isso e enfatizou uma situação com a qual discordo da cabeça aos sapatos. O americano ergueu a voz para dizer que o “true Love”, o amor verdadeiro, só existe se aceitarmos a outra pessoa como ela é, sem exigir isso e mais aquilo. Baita asneira. Tudo bem que o palestrante podia estar bem intencionado, até acredito nisso, mas aceitar o outro como ele é pode levar o “aceitante” ao inferno sem passaporte, direto. Aceitar pequenas imperfeições faz parte do jogo, afinal, ninguém é santo, e sabemos disso a partir de nós mesmos. Ô, se sabemos… Agora, aceitar ao meu lado, em cama e mesa, alguém disparatado em questões de ordem moral é danação garantida. Ou polícia ou hospital também. Negativo. Já se disse de tudo sobre o amor que dá certo, uma dessas verdades diz que o casamento só fecha circuito quando os dois são complementares, um é cara e o outro é coroa, mas os dois da mesma moeda, mas a moeda não pode ser falsa. Aceitar graves defeitos de ordem moral por interesses levianos é pedir para levar. Para levar o pior, nem me pergunte o que seria esse pior…
COFRINHO
No passado ensinava-se poupança às crianças através do cofrinho, geralmente um porquinho. Moedas de troco eram dadas às crianças. Sumiram as moedas e o porquinho “morreu”. Como então ensinar poupança às crianças hoje? Com cartão? O cartão é uma trapaça emocional, gasta-se dinheiro sem vê-lo, gasta-se por pensamentos mágicos. Só que depois a conta chega e aí… Ah, meu Deus, me ajuda! Não, Deus não ajuda os levianos. E pelo exemplo dos pais, pobres crianças “modernas”.
DESEJOS
Quanto mais desejos temos mais frustrações colhemos, impossível realizar todos os desejos, sonhos. E a frustração produz, queiramos ou não, agressões. Agressões contra pessoas que nos frustram ou contra nós mesmos, de modo inconsciente. Vem daí as pregações budistas para o minimalismo, quanto menos desejamos mais felizes seremos. Mas vá dizer isso ali na esquina para as multidões de cabecinhas ocas, vá.
FALTA DIZER
Os grandes amores resultam, por maioria, de encontros casuais. Sair de casa, como quem não quer nada, mas com a cabeça desejando encontrar um par é danação na certa. Achamos o que procuramos? Quem procura amor vai acabar achando sim, achando sarna para se coçar. Melhor só que mal-acompanhado.