“Seus filhos e a internet”

Por: Raphael Rocha Lopes

18/02/2020 - 10:02 - Atualizada em: 18/02/2020 - 10:34

♫ “De todo o meu passado/
Boas e más recordações/
Quero viver meu presente/
E lembrar tudo depois…”
(Flores em você, Ira!).

Quando se fala de educação digital ou comportamento na internet invariavelmente se passa pela relação entre pais e filhos, mais especificamente na conversa que os pais devem ter com seus filhos sobre o uso adequado das tecnologias.

A escola também tem papel fundamental, mas hoje a pergunta de um milhão de dólares é: Você sabe o que seu filho faz na internet?

O desafio da rasteira.

Alguns pais estão extremamente preocupados – e com razão – com mais uma infeliz brincadeira que se propagou pelas redes sociais, mas que é praticada no mundo real. O que já era ruim ficou pior quando um influenciador digital imbecilóide resolveu fazer o tal desafio com a própria mãe e publicar em sua rede social, pois isso potencializou o problema.

É o desafio da rasteira, cujo objetivo, como o nome diz, é dar uma rasteira no amigo enquanto pula. Embora as histórias levem os pais ao pavor, deve ser lembrado que há muitos boatos e desinformação circulando, principalmente pelo WhatsApp.

Por outro lado, a situação traz dois pontos de reflexão.

O primeiro, que os pais não devem entrar em pânico, como aconteceu com o caso da Momo, porque isso só estimula a curiosidade mórbida natural de crianças e adolescentes. É importante que busquem informações fidedignas e não se desesperem com qualquer mensagem aflitiva, por mais que tenham vindo da tia, da melhor amiga ou de algum grupo respeitável, pois, na maioria das vezes, não trazem conteúdos confiáveis.

O segundo, que a conversa entre pais e filhos pode eliminar preocupações exageradas. É provável que os filhos saibam mais e há muito mais tempo do assunto do que os pais; talvez eles tenham plena consciência de que é uma brincadeira estúpida; talvez eles não conheçam ninguém que tenha feito ou que tenha interesse em fazer. E os pais só saberão se, tcham, tcham, tcham, tcham… conversarem com seus filhos!

Os pais que pagarão indenização pelos nudes da ex do filho.

Recentemente, em São Paulo, os pais de um adolescente foram condenados a pagar uma indenização por danos morais à ex-namorada do filho porque ele compartilhou fotos íntimas dela em grupos de WhatsApp.

Ainda que os moralistas de plantão venham dizer que se ela não queria que fossem as fotos divulgadas, que não as tirasse, não é esta a questão (e nem justifica qualquer ato de vingança).

Indiscutivelmente, atitudes como esta abalam psicologicamente a vítima e há casos incontáveis aqui, no Brasil inteiro e mundo afora. Em alguns casos, adolescentes e até mesmo mulheres adultas não aguentam a pressão e tomam a medida mais drástica.

Por isso a conversa com os filhos, sejam meninos ou meninas, apresentando responsabilidades e consequências, é crucial nos dias de hoje, onde a informação e a desinformação estão na tela do celular. Todos saem perdendo com atitudes impensadas ou vingativas. Às vezes os traumas são para uma vida inteira.

A conversa.

Essa ainda é, me parece, a melhor fórmula para um convívio familiar e social mais civilizado em um momento em que alguns acham bonito xingar e depreciar pessoas publicamente ou estimular a violência. É uma fase de intolerância, e intolerância gera intolerância.

Por isso, conversa entre pais e filhos é um caminho com significativas chances para que as boas e más recordações sejam lembradas sem maiores dores no futuro e para que tenhamos um mundo com mais diálogo e menos neuroses.