“Redes sociais: a indevida polarização política da pandemia”

Foto divulgação | Pexels

Por: Raphael Rocha Lopes

31/03/2020 - 17:03 - Atualizada em: 31/03/2020 - 17:35

Mas é que se agora/ Pra fazer sucesso/ Pra vender disco/ De protesto/ Todo mundo tem/ Que reclamar// Ligo o rádio/ E ouço um chato/ Que me grita nos ouvidos/ Pare o mundo/ Que eu quero descer” (Eu também vou reclamar, Raul Seixas).

Todos os dias eu agradeço por ter acesso aos aplicativos de comunicação e às redes sociais. E todos os dias eu lamento por ter acesso aos aplicativos de comunicação e às redes sociais.

Se, por um lado, me abrem o contato com amigos e parentes distantes, por outro, descortinam algumas anomalias cerebrais graves, decorrentes do ódio, preconceito e desconhecimento juntos e arraigados, culminando com assustadoras verborreias.

Não, não estou falando de quem pensa diferente de mim. Gosto dessas pessoas, pois aprendo muito com elas. Tenho pensamentos divergentes de amigos meus há mais de 30 anos, sempre discutimos (no bom sentido) e continuamos a amizade até hoje. E, em muitos casos, quem mudou de entendimento fui eu. Eles estavam com alguma ou completa razão. Por isso gosto de conviver e conversar com pessoas que pensam sob outros prismas. Todo mundo aprende.

Mais do que isso, uma sociedade só cresce com o debate das divergências.

O despreparo.

O que me incomoda não é a pluralidade de entendimentos que se vê nas redes sociais. É a forma como são expostas. Há, em vários casos, um ranço por trás dos comentários que assusta. Antropólogos, sociólogos, filósofos e historiadores podem explicar esse comportamento melhor. Eu apenas me assusto e tento entender, com meus botões.

O mundo está passando por um momento extremamente tenso, e as opiniões, óbvio, divergem – e há motivos para isso. Há justificativas e preocupações para qualquer linha de raciocínio. Economia e saúde formam o maior dilema da atualidade.

O que causa torpor é a superficialidade de algumas argumentações, o embasamento em informações comprovadamente falsas, a pessoalização, a polarização política e a agressividade. Esse conjunto de fatores mostra o despreparo de vários interlocutores das redes sociais e fomenta uma cadeia de achismos e mais ira. Vírus não tem nacionalidade, não tem ideologia, não tem dó!

A preocupação com a verdade.

Não há solução fácil para a atual crise. Se existisse fórmula mágica algum país afetado anteriormente ou mais evoluído já teria utilizado. Há discordâncias até no alto escalão de comando do nosso país. Autoridades devem ser extremamente cautelosos nesses tempos difíceis e, em alguns casos, vê-se justamente o contrário.

A preocupação com a verdade deve prevalecer. Ataques pessoais, síndrome de perseguição e ações impensadas não vão resolver o problema. Nem na vida real, nem nas redes sociais. É momento de união na busca da solução; não de polarização política.

Este texto dedico aos meus amigos de adolescência, juventude e adultice, de tantas mentes e corações diferentes, e que continuam juntos.