“O futuro da globalização e o Brasil”

Foto divulgação

Por: Raphael Rocha Lopes

15/06/2021 - 09:06 - Atualizada em: 15/06/2021 - 09:48

“♫ How can we dance when our earth is turning/ How do we sleep while our beds are burning” (Beds are burning, Midnight Oil).

O mundo está, de fato, entrando numa nova era de globalização, no cenário pós-pandemia? Estão, os Estados Unidos, no fim da sua era de hegemonia? E onde o Brasil entra neste possível novo contexto mundial?

Está-se diante de uma nova era digital disruptiva? Como escrevi no texto da semana passada, mudanças foram catalisadas pela pandemia, interferindo nas relações trabalhistas, comerciais e governamentais.

Polarização ou multipolarização?

O futuro estará entre duas superpotências ou entre várias potências. Os EUA ainda têm, obviamente, protagonismo internacional e isso deve se manter, pelo menos, por algum tempo. A questão é se continuará dividindo esse protagonismo com a China ou com a China, a Índia, a União Europeia. Ou se sucumbirá

Há que se lembrar que na gestão passada dos EUA, o país teve um forte movimento de se fechar, de dificultar as relações comerciais e de entrar em discussões diplomáticas. O atual governo parece ter uma tendência diferente.

Por outro lado, a China, apesar de seu governo ditador (teoricamente) comunista, amplia cada vez mais suas relações diplomáticas e comerciais, negociando com praticamente todos os países do mundo e se tornando uma potência de importação e exportação.

Territórios, petróleo, água, tecnologia

As grandes guerras antes, eram pelos territórios. Depois, ainda que veladas, vieram as disputas pelo petróleo, e, por muito tempo, pensou-se que uma guerra mundial poderia eclodir por causa de água. Mas o que move o mundo e as intenções hoje é a tecnologia ou, mais especificamente, o ciberespaço.

Atualmente há milhões de ataques cibernéticos acontecendo por dia, entre empresas e entre países. O poder tecnológico será o fiel da balança na definição das potências mundiais. Aqueles que tiverem expertise, capacidade de investimento e recursos físicos terão grande vantagem nesta disputa.

Nesta linha, a internet será cada vez mais global ou, pelos movimentos de segregação ou disputas pelo ciberespaço, mais fragmentada, com internets de países ou grupos de países, de várias internets?

E onde fica o Brasil neste contexto? Parece que não se encaixa em algo que possa, pelo menos a curto e médio prazos, elevá-lo a protagonista ou, ao menos, coadjuvante relevante, neste cenário futuro de tecnologia. Parece haver, por parte dos mandatários e quem os cercam, maior preocupação com desinformação e factoides, enxergando a internet apenas como um instrumento pobre para tumultos e briguinhas de mimados. Se compararmos o Brasil com os países que levam, institucionalmente e sob a ótica governamental, a sério a tecnologia, vê-se claramente uma distância abissal.

Essa preocupação com a tecnologia e a inovação é essencial para o desenvolvimento. A preocupação não deveria ser apenas da iniciativa privada; deveria existir um projeto claro e eficaz de Estado para integrar instituições públicas e de ensino, terceiro setor e iniciativa privada. Como canta Midnight Oil, como podemos dormir enquanto nossas camas queimam?